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Em cartaz nos cinemas brasileiros a partir desta quinta (20), O Brutalista conta a história de László Toth, um brilhante arquiteto judeu de origem húngara que, após a Segunda Guerra Mundial, consegue escapar da área ocupada pelos soviéticos e emigrar para os Estados Unidos. A sua esposa Erzsébet não tem tanta sorte. A vida na América é difícil; László mal consegue se sustentar até que, por acaso, surge uma oportunidade. Lee Van Buren, um importante empresário, reconhece o arquiteto, oferece a ele uma chance e o ajuda a trazer sua família da Europa.
Esse breve resumo parece a clássica história do sonho americano, a terra das oportunidades. Mas esse esquema está cheio de armadilhas. Quase nada é o que parece. A começar pelo título do filme, escolhido porque a raiz é “brutal”, o que combina bem com a narrativa, embora não faça justiça à escola arquitetônica que privilegia o concreto aparente.
O filme é um épico monumental com mais de três horas e meia de duração, abrangendo várias décadas de história, mas centra-se sobretudo na alma torturada de Lászlo Toth: um emigrante judeu, sem família, com uma libido à solta e um pendor para o consumo de drogas. Com problemas de comunicação, ele enfrenta sua família, seus chefes, seus colegas e os poucos amigos que tem. Naturalmente, sua redenção ocorre por meio da criação artística, quando consegue capturar sua alma num edifício.
Por razões distintas, O Brutalista evoca, além do recente Megalopolis, de Francis Ford Coppola, com o qual tem mais de um ponto em comum, Assassinos da Lua das Flores, de Martin Scorsese, e Babilônia, de Damien Chazelle. Os filmes coincidem por serem enormes e amargos afrescos que revisam – para baixo – o sonho americano e o passado. O Brutalista supera todos eles.
Intervalo de 15 minutos
O cineasta Brady Corbet recuperou o celuloide e filmou com câmeras panorâmicas VistaVision, o que não encareceu o projeto e dá um resultado extraordinário: texturas, cores, amplitude de imagens, que Lol Crawley, diretor de fotografia, soube explorar. A trilha sonora de Daniel Blumberg também é magnífica do prólogo ao epílogo. As performances, especialmente as do trio principal – Adrien Brody, Felicity Jones e Guy Pearce – são sensacionais (embora os toques de IA no excelente desempenho de Brody estejam agora sendo discutidos). O Brutalista também supera seus similares em duração: são dois períodos de 105 minutos e um intervalo de 15, como se fazia antigamente. Apesar disso, o filme desce redondo.
O Brutalista é brilhante, mas desconfortável. Isso porque os personagens e as abordagens são maniqueístas e as suas intenções, sórdidas. Também porque é difícil entender, já que toda essa biografia é inventada, o peso dado ao judaísmo, às feridas físicas e morais de Toth e sua esposa, em particular os distúrbios sexuais e de drogas do protagonista, e à família Van Buren e seus negócios. E porque aborda muitas questões que não são resolvidas, não deixa espaço para esperança e torna necessário o epílogo no final, para esclarecer o que deveria ter ficado claro ao longo do filme.

No Oscar 2025, O Brutalista concorre em dez categorias: Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Atriz Coadjuvante, Melhor Direção, Melhor Roteiro Original, Melhor Fotografia, Melhor Direção de Arte, Melhor Montagem e Melhor Trilha Sonora.
© 2025 Aceprensa. Publicado com permissão. Original em espanhol.
- O Brutalista
- 2024
- 215 minutos
- Indicado para maiores de 18 anos
- Em cartaz nos cinemas
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