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Não resta dúvida de que Chico Anysio (1931-2012) foi um dos maiores humoristas brasileiros. Com seus mais de 200 personagens criados e popularizados pela tevê brasileira, sua memória deveria ser mais constante em nossas vidas, não apenas pelos bordões e expressões que ele criou e repetimos muitas vezes sem dar crédito (“é vapt e vupt”, “e o salário, ó!”, “tô contigo e não abro”, “vou arrebentar a boca do balão”). Pena que o principal tributo a ele disponível no streaming não traga outros profissionais da área louvando a arte do eterno Professor Raimundo.
Em Chico Anysio É, presente nos catálogos do Prime Video e do Looke, é o próprio comediante quem tece elogios a si mesmo. A breve obra de 2006 é um projeto de seu irmão, Zelito Viana, que conduz uma entrevista com Chico, entrecortada por cenas de shows, filmes e esquetes transmitidos em programas da Rede Globo. Essa iniciativa tem o seu valor, até pela escassez de material do comediante nas grandes plataformas. Mas caso Zelito tivesse inserido depoimentos de contemporâneos e colegas de profissão, o documento ficaria mais completo.

Chico diz que conhece poucos atores com o mesmo profissionalismo que o dele. Que sempre foi pontual. Que sempre foi honesto e humilde. Exalta suas qualidades de compositor de MPB e de comentarista esportivo. Gaba-se de ter lotado o Carnegie Hall para um espetáculo em português e que até o cinegrafista da noite, que não entendia o idioma, não parava de rir. Lendo assim, as declarações até parecem trazer pitadas de ironia. Mas não é o caso.
Personagens afeminados
A proposta de Zelito contribui para que o irmão parta para esse caminho de se congratular. O cineasta define as áreas em que Chico atuou ao longo da carreira e pede para que ele aborde cada uma delas. Com prazer, Chico sai apontando suas qualidades sem qualquer modéstia, chegando a dizer que poucos artistas pintavam paisagens marinhas com a sua categoria. O espectador fica com um sentimento estranho ouvindo isso. No mínimo, de ignorância por não conhecer o que Chico produziu nas artes plásticas.
Claro que os trechos de seus programas são o ponto positivo de Chico Anysio É. Fica impossível não pensar que seus personagens mais afeminados sofreriam forte patrulha nos dias de hoje. Um deles andou viralizando meses atrás: Zelberto Zel. Era uma paródia que Chico fazia de Gilberto Gil, em quadro dividido com o humorista João Cláudio Moreno e seu Caretano Veloso, com ambos acentuando maneirismos afetados dos dois artistas. Quem quiser procurar pelos esquetes completos no YouTube vai se esbaldar de rir!
O filme também relembra passagens de Justo Veríssimo, Alberto Roberto, Popó, Bozó, Coalhada, Salomé, Painho, Jovem, Nazareno, Cármen Lú... quer dizer, Bento Carneiro. Faltou muito algo de Baiano e os Novos Caetanos, duo musical que ele dividiu com Arnaud Rodrigues e que lançou discos que, de fato, comprovam seu talento além dos quadros de humor. Bastava uns versos de Vô Batê pa Tu ou Urubu Tá com Raiva do Boi para deixar claro que Chico tinha mesmo mais condição do que a média. Isso só não precisava sair da boca do próprio.
- Chico Anysio É
- 2006
- 55 minutos
- Indicado para maiores de 12 anos
- Disponível no Prime Video e Looke
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