O cinema costuma ser um belo aliado na hora de espiar guerras, conflitos e dilemas sócio-políticos que, à distância, temos dificuldade de compreender. Desde os últimos ataques feitos pelo grupo terrorista Hamas em Israel, que vitimaram até mesmo brasileiros que estavam naquele país, a procura por explicações cinematográficas certamente aumentou.
A seguir, listamos cinco filmes que, de alguma forma, tocam nessa ferida, que há décadas segue aberta. Infelizmente, alguns filmes que ajudam a iluminar essa questão não estão disponíveis nos serviços de streaming e ficaram de fora da nossa seleção. É o caso de Golda – A Mulher de uma Nação, que conta a história de Golda Meier, a Dama de Ferro de Israel, e que hoje apenas pode ser visto em poucas salas de cinema. Já Munique, premiada obra de Steven Spielberg, só consta para compra e aluguel, mesmo caso de Uma Noite em Haifa, do celebrado cineasta israelense Amos Gitai.
Mas os cinco filmes abaixo já oferecem um panorama interessante para quem pretende ter um melhor entendimento das relações que levaram a tantos embates, culminando com o que acompanhamos nos últimos dias. As ficções selecionadas vão do drama histórico ao psicológico e passam até pelo humor. Para assistir e refletir.
O Jerusalém (2006)
Para entender um conflito histórico dessa magnitude, nada mais adequado do que voltar no tempo e oferecer uma visão mais neutra. Essa foi a ideia do cineasta francês Élie Chouraqui quando produziu O Jerusalém, lançado em 2006. No longa-metragem, dois amigos, um judeu e um árabe, mudam-se de Nova York para Jerusalém e acabam vivenciando momentos históricos como a guerra da Palestina e a criação do estado de Israel, em 1948. Esse é um bom lugar para começar. Para quem quiser se aprofundar nesse período histórico, também vale alugar pelo YouTube o filme De Amor e Trevas (2015), dirigido pela israelense Natalie Portman e baseado em um livro de Amos Oz, grande defensor da paz entre os dois países. Natalie também estrela Free Zone (2005), tocante filme do cineasta israelense Amos Gitai que só não está nesta lista por não estar disponível virtualmente.
Onde assistir: Prime Video
O Filho do Outro (2012)
Histórias com dois lados antagônicos bem definidos sempre rendem um bom drama – ou pelo menos é o que provou ser possível Shakespeare em seu clássico Romeu e Julieta. Em O Filho do Outro, disponível pelo pacote Reserva Imovision, que pode ser acessado pelo Prime Video, essa dualidade é explorada a partir de uma troca de bebês na maternidade. Quando se alista no exército de Israel, o protagonista Joseph realiza exames e descobre que, na verdade, seus pais biológicos são palestinos. Em vez de colocar o jovem na guerra para deixar o filme fluir, a diretora e roteirista Lorraine Lévy optou por focar nos conflitos internos e familiares do personagem principal, resultando em uma abordagem pacificadora para a questão entre Israel e Palestina.
Onde assistir: Reserva Imovision
Limoeiro (Lemon Tree) (2008)
Em 2008, o cineasta israelense Eran Riklis se lançou de cabeça em um projeto ousado: realizar uma película que abordasse o conflito entre os países de maneira empática com os palestinos. Limoeiro é o resultado disso, filme que acompanha a luta de uma viúva palestina para proteger seu pomar de limões. As árvores, plantadas por seu pai, correm o risco de serem derrubadas quando o ministro da defesa de Israel se muda para a casa ao lado – seus seguranças acreditam que os limoeiros podem ser perfeitos para esconder bombas em um eventual atentado. Para quem assistiu Munique e a série Succession, pode ser uma boa surpresa encontrar uma interpretação incrível da atriz Hiam Abbass em sua língua principal.
Onde assistir: Belas Artes À La Carte
O Paraíso É Aqui (Paradise Now) (2005)
Primeiro filme palestino a concorrer ao Oscar, O Paraíso É Aqui narra a história dos amigos Said e Khaled, que consertam carros e fazem bicos na Cisjordânia, sem qualquer perspectiva de uma vida melhor. As coisas mudam quando eles são recrutados para atuarem como homens-bombas em Tel Aviv. Apesar do diretor Hany Abu-Assad filmar a saga com leveza e até algum humor – em uma cena, a paquera de Said pergunta se ele vai ao cinema; ele responde que só foi uma vez, para incendiar a sala –, o que alivia o programa para o espectador. Mas é impossível não sentir um nó na garganta quando Said diz que já se sente morto vivendo na Cisjordânia, portanto morrer num atentado não fará muita diferença. Abu-Assad voltou a ser indicado ao Oscar em 2013 por Omar, que atualmente não está disponível em nenhum streaming.
Onde assistir: Belas Artes À La Carte e Looke
Zohan – O Agente Bom de Corte (2008)
Os dias estão tão pesados com as notícias que chegam da guerra que um alívio cômico pode ser muito salutar. Nessa comédia escrachada e um tanto apelativa, o humorista judeu superstar Adam Sandler vive Zohan, um agente do alto comando israelense que não aguenta mais a guerra sem fim envolvendo seu país e a Palestina. Numa batalha contra uma caricatura de líder do Hamas chamado Fantasma (papel de John Turturro) que ele venceria com facilidade, Zohan finge ter morrido para poder se pirulitar para Nova York e perseguir o sonho de virar cabelereiro. Só que seu passado segue o perseguindo, especialmente ao ser reconhecido por compatriotas e palestinos nas ruas da cidade. A convivência pacífica entre os povos nos Estados Unidos evolui para uma verdadeira união entre eles para combater um inimigo mais sórdido: especuladores imobiliários que querem tomar o bairro dos imigrantes. O filme tem pontas dos cantores Dave Matthews e Mariah Carey, além de Chris Rock como um taxista. Se o material for muito pesado para o leitor, a dica é conferir o humor mais singelo de Tel Aviv em Chamas (2018), que conta a história de um estagiário palestino promovido a roteirista de uma série romântica. Ele se complica ao conhecer um oficial de fronteira que deseja influenciar na trama. Está no Belas Artes À La Carte.
Onde assistir: HBO Max
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