Em uma época dominada por vídeos virais em redes sociais, fast-food e carros com cores básicas, fica difícil acreditar que algo elegante surgirá no horizonte. É isso que sente Manuel Tamayo Prats, o personagem principal da minissérie argentina O Faz Nada, disponível no Star+. Interpretado pelo ator Luis Brandoni, o octogenário é descrito como um dândi. Ou seja, ele é um cavalheiro que vive com muito requinte, aproveitando o melhor que existe da arte, da culinária e até do automobilismo, com sua Mercedes W123.
Justamente por seu gosto por itens refinados, Prats leva uma vida extremamente acomodada, quase sem contato com o mundo real. Todas as tarefas importantes do seu cotidiano são feitas por sua governanta, uma senhorinha tão dedicada a atender bem o patrão que passa 40 anos escrevendo um livrinho com pequenas rotinas e dicas de detalhes que o agradam. Após dar todo esse contexto, o primeiro dos cinco episódios acaba finalmente colocando o “dândi portenho” em apuros. É aí que o seriado começa para valer.
Agora sem poder contar com sua fiel escudeira, que inclusive dirigia sua Mercedes amarelo-gema, Prats arranca risadas do espectador por sua falta de noção. Em uma ida ao supermercado, por exemplo, o senhor não consegue pagar suas compras. Ele não sabe nenhuma de suas senhas e, quando questionado se tem uma carteira digital no celular, tudo que ele responde é: “eu só tenho essa carteira analógica”.
É nesse momento que fica evidente um dos principais desafios dele ao longo dos próximos capítulos. Seu dinheiro está acabando. Vivendo como um crítico gastronômico, mas afirmando a todos que “não faz nada da vida”, Prats já recebeu dois adiantamentos de uma editora para publicar seu livro, mas ainda não entregou uma linha e corre o risco de enfrentar problemas legais.
De Niro tradutor de “argentinice”
Para trazer maior profundidade ao protagonista, O Faz Nada conta com a ajuda de um narrador-personagem ilustre. Esse brilhantismo não surge por causa de Vincent Parisi, o tal do locutor criado para a série, mas sim por quem o interpreta: o ator Robert De Niro. Em sua primeira participação recorrente em uma série, aos 80 anos de vida e 58 de carreira, o americano encarna um amigo de Prats que vive em Nova York e descreve o argentino para o espectador.
A distância e as similaridades entre os dois são o combustível para enriquecer a minissérie ao comparar o estilo de vida portenho com o nova-iorquino. O seriado defende que ambos têm muito mais em comum do que se imagina.
Colocar De Niro como o narrador-personagem também ajuda a trazer mais da cultura argentina em foco para quem não conhece tão bem aquele país. No começo de cada episódio, Parisi escolhe ditados da Argentina e os disseca em inglês para o espectador.
Esses pequenos momentos também rendem grandes risadas com De Niro – no terceiro capítulo, ele explica as diferenças entre os xingamentos boludo e pelotudo e revela como um é mais amigável do que o outro.
O encontro presencial entre Prats e Parisi só acontece no último episódio, mas é ele que eleva a minissérie ao seu ponto mais alto, evidenciando a maravilhosa química entre os dois personagens (e seus atores). Para De Niro, a experiência foi tão bacana que ele até se apaixonou pelo mate argentino e levou um carregamento para casa depois das gravações em Buenos Aires.
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