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O ex-zagueiro Neto, que sobreviveu ao desastre aéreo e deu depoimento para a minissérie
O ex-zagueiro Neto, que sobreviveu ao desastre aéreo e deu depoimento para a minissérie| Foto: Divulgação Discovery

Você provavelmente se recorda de como e onde estava nas primeiras horas do dia 29 de novembro de 2016. Foi quando começaram as ser divulgadas as primeiras informações sobre o desastre envolvendo os atletas da Chapecoense na noite anterior, na Colômbia. A notícia da queda do voo 2933 da LaMia, vitimando 71 pessoas entre jogadores, comissão técnica, dirigentes, profissionais da imprensa e tripulação não só chocou o mundo como se tornou a maior catástrofe relacionada ao esporte no Brasil.

Sete anos depois, chega ao catálogo do HBO Max a minissérie em quatro episódios Dossiê Chapecó: o Jogo por trás da Tragédia, que estreou em 2022, no Discovery+. A qualidade do material foi reconhecida pelo Emmy Internacional, cuja cerimônia ocorre no próximo dia 20 e pode dar ao projeto o prêmio de Melhor Documentário. Também nos próximos dias saberemos se a Chapecoense cairá ou não para terceira divisão do futebol nacional. Faltando duas rodadas para o término da série B, o time que era um dos maiores sucessos do país em 2016 (o destino do voo era a primeira partida da final da Copa Sul-americana, segundo maior torneio do continente, contra o Atlético Nacional, de Medellín) ocupa uma das quatro últimas posições da tabela, zona que leva ao descenso.

Os capítulos da série são relativamente curtos, com cerca de 40 minutos, e investigam vários aspectos do acidente. É impossível recomendar o primeiro para quem tem medo de voar. Nele, há a reconstituição do que ocorreu naquela noite, com relatos de três sobreviventes: o zagueiro Neto, o lateral Alan Ruschel e o tripulante Erwin Tumiri. O desespero dentro da aeronave é dramatizado com o som do áudio gravado na cabine dos pilotos pela torre de controle que tentou viabilizar o pouso. Angustiante é pouco.

Messi escapou dias antes

Além de ilustrar o resgate dos corpos e a comoção internacional pela tragédia, a sequência da minissérie aborda as condições amadoras de operação da LaMia, sempre voando com o mínimo de combustível para chegar aos destinos, para não gastar com as reservas obrigatórias. Os voos anteriores da empresa levando equipes de futebol entram em pauta, com a especulação de que a confederação que cuida do esporte na América do Sul agia de alguma forma para facilitar a aproximação entre os clubes e a companhia aérea, com seus fretes vantajosos financeiramente. É fato que a delegação argentina por pouco não teve um fim como o do time de Chapecó dias antes, quando voltava de uma partida no Brasil. Por tão somente 18 minutos, o voo com Lionel Messi a bordo não ficou sem combustível, o que lá na frente poderia impactar até mesmo no resultado da Copa do Mundo do Catar, em que a seleção dos nossos vizinhos se sagrou campeã.

Na terceira parte, as questões legais ganham mais destaque, com os holofotes em um dos sócios da LaMia que se exilou nos Estados Unidos enquanto os processos seguem em curso. As famílias das vítimas seguem esperando suas indenizações, mas o final feliz não é garantido, pois o contrato da linha aérea com a seguradora Tokio Marine não estava em vigência no dia do ocorrido e sequer cobria acidentes em território colombiano. Cenas da CPI que investigou o caso em Brasília recheiam o quarto episódio, com destaque para o depoimento do ex-senador venezuelano que fundou a LaMia e arrendou o avião para os dois pilotos bolivianos – que posavam como proprietários, mas tinham uma atuação assemelhada a de laranjas.

Esse desenrolar da história, por incrível que pareça, é capaz de ampliar a dimensão trágica da fatalidade. A impunidade dos responsáveis, o descaso com os parentes das vítimas e os jeitinhos que foram dados para que a LaMia operasse ilegalmente são de embrulhar o estômago. E prestigiar  Dossiê Chapecó, além de ser salutar para manter a história e as lutas das viúvas acesa, pode servir para que o espectador fique mais atento a situações que venham a colocar sua vida em risco por uma mera vantagem econômica. Os 71 mortos não tinham a ideia exata do perigo iminente, apesar dos voos confusos feitos com a companhia em compromissos anteriores à final da Copa Sul-americana. Mas hoje todos nós sabemos – e torcemos para que não haja uma empresa tão bagunçada quanto a do voo 2933 cruzando os ares neste exato momento.

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