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Revelou Bruce Willis

Como “Duro de Matar” redefiniu o herói de ação e virou tradição natalina

"Duro de Matar" revelou Bruce Willis no cinema.
"Duro de Matar" revelou Bruce Willis no cinema. (Foto: Divulgação/Disney+)

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Está chegando o fim de ano e um improvável candidato a “Filme de Natal” para assistir com a família durante os festejos é Duro de Matar, o icônico hit lançado em 1988 e que revelou ao mundo o ator Bruce Willis no papel do policial John McClane.

A improvável relação entre Duro de Matar e o Natal nasceu do próprio contexto da trama. O filme se passa na noite de 24 de dezembro, durante a festa natalina da empresa Nakatomi, onde McClane tenta se reconciliar com a esposa antes que terroristas transformem o prédio num campo de batalha. O filme não celebra o Natal, mas se tornou tradição natalina entre fãs.

Se hoje Willis é conhecido mundialmente como um astro dos filmes de ação, é bom lembrar que em 1988 ele era famoso apenas pela série de TV A Gata e o Rato. Na verdade, ninguém acreditava que ele poderia fazer um filme do tipo, e os produtores convidaram uma penca de atores para o papel, de Arnold Schwarzenegger a Harrison Ford, passando por Sylvester Stallone, Al Pacino e até Robert Redford. Ninguém topou. Bruce Willis foi a raspa do tacho.

O que pouca gente sabe é que, por direito, o papel deveria ter sido de Frank Sinatra. Explico: o argumento de Duro de Matar foi adaptado de um livro policial chamado Nothing Lasts Forever, escrito em 1979 por um investigador aposentado, Roderick Thorp. O livro era sequência de outra obra de Thorp, O Detetive, que havia sido adaptada para o cinema em 1966 e estrelada por Frank Sinatra. Por contrato, o cantor-ator seria a primeira opção para filmar a continuação, mas Sinatra, que à época tinha 70 anos, felizmente recusou.

Para a direção, os produtores Joel Silver e Lawrence Gordon chamaram o talentoso John McTiernan, que no ano anterior havia dirigido para eles o sucesso O Predador, com Schwarzenegger. Na reunião com McTiernan, eles descreveram Duro de Matar de forma sucinta: “É Rambo dentro de um prédio!”.

McTiernan disse que estava cansado de ver brutamontes comandando histórias policiais – os anos 80 foram o auge dos musculosos nas telas, com Schwarzenegger, Stallone, Van Damme, Steven Seagal, Chuck Norris, Dolph Lundgren e vários outros – e disse que só toparia dirigir se pudesse criar um herói diferente, mais humano e com senso de humor. Essa decisão tornaria o filme um marco.

O sucesso de Duro de Matar é resultado de três ingredientes básicos: em primeiro lugar, o filme praticamente inaugurou o subgênero “Herói preso em algum lugar com bandidos”. Em segundo lugar, tem uma história divertida e um ritmo frenético com ação ininterrupta. Finalmente, teve em Bruce Willis um novo tipo de herói de ação, bem diferente dos bombados de academia e que remetia aos astros policiais dos anos 70, como Steve McQueen, mas cheio de graça e simpatia. O público imediatamente se conectou com John McLane.

McTiernan também arriscou na escolha do vilão apostando em Alan Rickman, um ator celebrado no teatro britânico, mas que nunca havia feito um filme. Rickman deu um show e seu genial Hans Gruber virou um ícone. O irmão de Hans no filme, Karl, foi interpretado pelo bailarino russo Alexander Godunov, um bamba do balé Bolshoi que tinha ido dançar em Nova York em 1979 e simplesmente abandonou a trupe e nunca mais voltou para a União Soviética. Forte e bonitão, Godunov acabou escalado para um papel pequeno no policial A Testemunha (1985), com Harrison Ford, e depois ganhou o importante papel de vilão em Duro de Matar (Godunov tristemente morreria de cirrose em 1995).

De todos esses limões, John McTiernan fez uma limonada, e Duro de Matar virou uma referência no cinema de ação: Velocidade Máxima foi “Duro de Matar num ônibus”, Risco Total (1992) foi “Stallone na montanha de gelo” e Força em Alerta (1992) era “Steven Seagal num navio de guerra”. E não podemos esquecer Nicholas Cage batalhando com os criminosos mais sanguinolentos do mundo dentro de um avião em Con Air – Rota de Fuga (1997).

Depois de Duro de Matar, John McTiernan dirigiu alguns outros sucessos, como Caçada ao Outubro Vermelho (1990) e O Último Herói de Ação (1993), mas sua carreira em Hollywood foi interrompida no início dos anos 2000, quando ele foi acusado pelo FBI de ter contratado um investigador particular para gravar ilegalmente conversas de um produtor de cinema com quem estava tendo problemas numa filmagem. O imbróglio durou até 2013, quando McTiernan foi preso por um ano. Ele nunca mais dirigiu um longa-metragem.

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