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Dominic Sessa, Paul Giamatti e Da’Vine Joy Randolph, o trio principal do filme
Dominic Sessa, Paul Giamatti e Da’Vine Joy Randolph, o trio principal do filme| Foto: Reprodução YouTube

O próprio título original afirma o status à margem desse mais recente longa-metragem de Alexander Payne: The Holdovers, ou seja “os que sobram”. Nos cinemas brasileiros, ele estreou na semana passada batizado de Os Rejeitados, trazendo ecos clássicos de Sociedade dos Poetas Mortos e Adeus, Mr Chips. Já ganhou diversos prêmios da crítica e entrou na competição do Globo de Ouro como Melhor Filme e Ator (Paul Giamatti) de Comédia ou Musical, e de Melhor Atriz Coadjuvante (Da'Vine Joy Randolph). Sua pegada alternativa é semelhante à exibida nos demais filmes deste cineasta original nascido em Omaha (Nebraska), em 1961, talvez o melhor franco-atirador de Hollywood do século 21, que gosta de fazer arte com os restos mortais, com os que ficam para trás depois de colocar outros em seu respectivo pote, arquétipo ou clichê. Basta lembrar os heterogêneos retratos humanos que ele ofereceu em As Confissões de Schmidt (2002), Sideways – Entre Umas e Outras (2004), Os Descendentes (2011) e Nebraska (2013).

Aqui a ação se passa no prestigiado internato masculino Barton, na Nova Inglaterra, durante o Natal de 1970. Todos vão com suas famílias passar aquelas queridas férias de fim de ano, exceto os restos mortais, ou seja, várias crianças que não têm com quem ir, a cozinheira afro-americana Mary Lamb (Da'Vine Joy Randolph) – cujo único filho, um ex-aluno de Barton, acaba de morrer na Guerra do Vietnã – e Paul Hunham (Paul Giamatti), um professor de História Antiga, solteiro, exigente e rabugento, que irritou o diretor da escola por não ceder às pressões de uma rica família benfeitora. Devido a um acontecimento inesperado, no final resta apenas um aluno: Angus Tully (Dominic Sessa), um cara inteligente, mas rebelde, traumatizado pelo divórcio dos pais, pelo afastamento do pai e pelo novo casamento da mãe. Uma excursão a Boston decidirá o futuro de todos eles.

Embora pareça, desta vez o roteiro não é de Payne, mas de David Hemingson, escritor de New Haven (Connecticut), que estreia no cinema após uma vasta experiência televisiva. Na verdade, aqui ele expandiu uma ideia para um piloto de série e a transformou em uma cativante fábula de Natal sobre supostos perdedores, que aprendem a deixar para trás os preconceitos, a se amar como são, a amadurecer e a curar as feridas que carregam há tempos, que os impedem de voar. Esta perspectiva sugestiva dá asas a todos os atores – que brilham nas suas caracterizações muito naturais, especialmente Paul Giamatti – e à soberba encenação de Alexander Payne, sempre substancial no planejamento, iluminação e progressão narrativa.

Dessa forma, dosam-se os belos toques da vida real que definem a evolução dramática dos personagens, inicialmente lacônicos e aparentemente pessimistas, mas enriquecidos de esperança na capacidade do ser humano para o bem e no poder da educação, do amor, da amizade, do carinho, da ternura, da paternidade, da maternidade... Enfim, da família. Sempre com um tom divertido, onde o sorriso prevalece sobre as expressões de dor e angústia.

© 2024 Aceprensa. Publicado com permissão. Original em espanhol.

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