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Ficar 50 anos no ar é para poucos programas de TV. Ficar 50 anos no ar, ao vivo, e ainda fazendo a plateia rir toda semana, aí é que é raridade mesmo. Justamente por isso é que as celebrações de meio século do programa Saturday Night Live foram tão grandiosas, merecendo uma temporada especial, que acaba de ser finalizada, e um filme ambicioso, que chega agora ao streaming no Brasil.
O longa-metragem ganhou por aqui o nome de Saturday Night: A Noite que Mudou a Comédia. Soaria pretensioso se o SNL não tivesse mesmo um caráter revolucionário, que acostumou americanos a ligar a TV no sábado, às 23h30, para acompanhar novos talentos da comédia (que iam sendo substituídos de tempos em tempos) em quadros de humor que iam da acidez ao mais puro nonsense.
Dirigido por Jason Reitman, que há 20 anos estreava com o ferino Obrigado por Fumar, depois faria Juno, Amor sem Escalas e enveredaria por trabalhos menos interessantes, Saturday Night: A Noite que Mudou a Comédia promete muito mais do que entrega. Ele imagina como teria sido a hora e meia que antecedeu a primeira exibição do SNL na rede NBC. O espectador é levado para os bastidores da estreia, com toda a tensão que cerca um programa ao vivo, ainda mais um integrado por estrelas então em ascensão (Chevy Chase, Billy Cristal) e malucos de pedra que podiam simplesmente surtar e não aparecer na hora (John Belushi, Andy Kaufman).
Tensão com samba
O protagonista é Lorne Michaels, produtor que acreditava naquele formato inédito e permanece na condução do SNL até hoje, tendo se ausentado do programa apenas no começo dos anos 1980. Interpretado por Gabriel LaBelle, o showrunner é visto nas coxias andando de um lado para o outro, decidindo quais quadros entrariam no ar, lidando com o ego dos artistas e adoçando os executivos da empresa.
A tensão é bem transmitida pelo filme e ganha uma ajuda formidável da trilha sonora, assinada pelo talentoso Jon Batiste. O músico, que também interpreta o pianista “que tocou no Let It Be” Billy Preston (primeira atração musical do SNL), criou temas instrumentais que vão do afrobeat ao samba, muito adequados para sonorizar o corre-corre e o entra-e-sai de camarins registrado na tela.
Pena que isso não seja suficiente para garantir a excelência do filme, que nem muito engraçado é. Funciona como uma homenagem e agrada especialmente quem tem familiaridade com os primórdios do SNL. Mas não dá conta de passar toda a importância e influência do programa ao longo dos anos. Por ser focado naquela noite em 11 de outubro 1975, Saturday Night: A Noite que Mudou a Comédia não contempla Eddie Murphy, Bill Murray, Will Ferrell, Chris Rock, Adam Sandler, Tina Fey, Jimmy Fallon, Julia Louis-Dreyfus, Robert Downey Jr. e tantos outros astros forjados em suas fileiras. Isso para não falar dos roteiristas...
Trump e Musk
Quem acompanhou o programa em encarnações pregressas tende a reclamar do elenco atual e dizer que o SNL perdeu a graça. Não é verdade. Ainda que não tenha a mesma relevância para a comédia nem seja crucial para estourar a banda ou cantor que toque duas músicas lá, o humorístico segue oferecendo quadros engraçados, o que a temporada 50 comprovou. Ela foi exibida no Brasil pela plataforma Universal+, acessível pelo Prime Video, Claro TV e outras plataformas.
A temporada chegou ao fim há três semanas, com Scarlett Johansson de mestre de cerimônia. Sem dúvida, os quadros mais marcantes foram os ambientados na Casa Branca, com Donald Trump sendo interpretado por James Austin Johnson, após herdar o personagem de Alec Baldwin. Suas interações com o Elon Musk feito pelo veterano Mike Myers foram impagáveis. Myers, aliás, fez fama no SNL nos anos 90 ao lado de Dana Carvey com o quadro Wayne’s World, que depois viraria o filme Quanto mais Idiota Melhor. Carvey interpretou Joe Biden na temporada 50 do programa.
Claro que o fato de ser um momento de celebração contribuiu para que o SNL atraísse humoristas do passado para participar dos quadros recentes. Mas quem foi lançado pelo programa sempre dá as caras novamente, seja como MC da noite, seja revivendo personagens ou até encarando novas missões, como Myers fazendo Musk. A lamentar apenas o fato de a temporada ter terminado antes do rompimento de Musk com Trump. Myers e James Austin Johnson teriam feito mil estripulias com ajuda do afiado time de roteiristas do programa.
- Saturday Night: A Noite que Mudou a Comédia
- 2024
- 110 minutos
- Indicado para maiores de 16 anos
- Disponível no HBO Max e para compra em Apple TV e Amazon
