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Lançado em setembro de 2024, em meio à disputa presidencial entre Donald Trump e Kamala Harris, o filme Reagan gerou intensas reações nos Estados Unidos ao retratar a vida do 40º presidente americano nas telas. Produzido pela MJM Entertainment, conhecida por suas obras de viés cristão, o longa é dirigido por Sean McNamara e rejeita a neutralidade típica de uma cinebiografia. Longe disso, ele abraça Ronald Reagan como um mito fundador da direita americana, celebrando sua jornada de Hollywood à Casa Branca.
Enquanto o público demonstra entusiasmo — com 98% de aprovação no Rotten Tomatoes —, a crítica especializada reage com desdém, atribuindo apenas 21%. Esse contraste revela a crescente polarização ideológica no cenário cultural dos Estados Unidos. Agora disponível no Amazon Prime Video, o filme estreia oficialmente no Brasil e promete gerar debate também entre os espectadores brasileiros.
Inspirado no livro The Crusader: Ronald Reagan and the Fall of Communism (sem edição no Brasil), de Paul Kengor, o filme atravessa cinco décadas da vida de Reagan — da infância humilde em Illinois à presidência dos EUA. Sua originalidade narrativa reside no ponto de vista fictício de Viktor Petrovich (Jon Voight), um ex-espião soviético que observa Reagan por anos e se torna seu admirador. O mais curioso é que essa escolha confere ao roteiro um tom introspectivo e simbólico: até seus inimigos o reverenciam. O início apresenta Reagan moldado por uma mãe cristã devota e um pai carismático, mas alcoólatra — influências que forjam seu senso moral apurado.
Um roteiro que reforça valores, não ideologias
O filme avança por momentos marcantes: a carreira em Hollywood, o fim de seu primeiro casamento, o romance com Nancy Davis (Penelope Ann Miller) e, além disso, seu engajamento sindical contra o comunismo, que pavimentou sua entrada na política. A relação com Nancy é central: ela é seu porto seguro, conselheira e apoio constante nos tempos difíceis. Por fim, Reagan é retratado como um homem guiado por convicções, dotado de carisma e um humor leve, usando anedotas e piadas simples para suavizar as cenas de tensão.
O roteiro destaca sua fé cristã e valores morais como alicerces de sua missão como líder, especialmente em sua determinação de enfrentar a União Soviética, que ele chamou de “império do mal”. Após governar a Califórnia, Reagan tenta a presidência em 1976, sem sucesso, mas triunfa em 1980. Em seguida, apesar das críticas sobre sua gestão da crise da AIDS, ele é reeleito com ampla vantagem em 1984. Em meio às tensões com a URSS, desempenha um papel crucial no fim da Guerra Fria. Sua articulação com Margaret Thatcher (Lesley-Anne Down) e os encontros com Mikhail Gorbachev (Olek Krupa) são destacados, sobretudo nas negociações de desarmamento nuclear — embora Reagan tenha hesitado em assinar acordos que ameaçassem seu programa de defesa estratégica.

O escândalo Irã-Contras e os primeiros sinais de Alzheimer surgem, mas são tratados de maneira superficial. Já os anos finais de Reagan recebem um enfoque mais sensível e respeitoso, mostrando sua humanidade e vulnerabilidade, e sugerindo que seu legado perdura. Aqui, Sean McNamara acerta ao evitar retratar Reagan como um super-herói ou vilão, optando por apresentá-lo como um homem comum movido por convicções firmes — uma raridade na política atual.
Paralelos com Donald Trump
O atentado contra Reagan em 1981 é o fio condutor da narrativa, aparecendo no início e sendo retomado ao longo do filme. Mais do que um artifício narrativo, ele estabelece um paralelo explícito com a recente tentativa de assassinato de Donald Trump, reforçando as similaridades entre os dois líderes. Ambos sobreviveram a atentados, migraram do entretenimento para a política, desafiaram elites estabelecidas e adotaram o slogan “Make America Great Again” — criado por Reagan e habilmente reaproveitado por Trump — em suas campanhas.
Esses paralelos se estendem para fora da tela. Primeiramente, Dennis Quaid, que interpreta Reagan com notável autenticidade, é um dos poucos atores conservadores em Hollywood. Em seguida, Jon Voight, que dá voz ao narrador soviético, é pai de Angelina Jolie e apoiador declarado de Donald Trump — posicionamento que lhe rendeu rejeição tanto do público quanto da própria família. Por consequência, a participação dos atores confere ao filme um forte significado patriótico e um apelo necessário pela união dos lúcidos. Trump elogiou o longa abertamente, enquanto plataformas como o Facebook limitaram sua divulgação, citando “motivações eleitorais”.

Embora tenha sofrido críticas progressistas, Reagan foi um sucesso de bilheteria e provou que há espaço para histórias edificantes. Sua mensagem ecoa entre os que veem em Trump uma versão mais pragmática de Reagan - focada mais em resultados, menos em diplomacia. O filme, portanto, se posiciona como uma réplica direta ao cinismo progressista dominante em Hollywood. Apesar das aparências, ele não é um folhetim promocional da campanha de Trump. Pelo contrário, resgata os valores e personalidades que moldaram a identidade americana no século XX. Como Reagan afirmou certa vez: “A liberdade está sempre a uma geração da extinção”. Nesse sentido, o longa se dedica a lembrar por que ela ainda importa.
- Reagan
- 2024
- 141 minutos
- Indicado para maiores de 12 anos
- Disponível no Prime Video e para locação e compra em Apple TV, Claro Video e Amazon






