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Logo que o primeiro papa americano ascendeu ao trono de Pedro, as especulações sobre a beatificação do bispo americano Fulton Sheen, falecido em 1979, começaram. Sheen foi a primeira autoridade católica a ganhar fama por sua eloquência na era da comunicação de massa. Dono de uma oratória hipnotizante, chegou a ter mais de 30 milhões de espectadores, em rádio e TV, batendo a audiência de ninguém menos que Frank Sinatra.
Fulton Sheen foi o Padre Paulo Ricardo dos Estados Unidos entre os anos de 1930 e 1968, período em que denunciou o comunismo como uma ameaça à fé e à liberdade atraindo a atenção de muitos não-católicos. Entre os convertidos pela eloquência do bispo estão Louis Budenz, ex-editor do Daily Worker, jornal fundado pelo Partido Comunista dos Estados Unidos (CPUSA), e Bella Dodd, uma ex-agente soviética infiltrada nos EUA, que ganhou fama por expor as táticas do Partido Comunista e as manipulações educacionais que praticou antes da conversão.
Fulton John Sheen nasceu em 1895, em El Paso, Illinois (não confudir com El Paso, no Texas), e, ordenado sacerdote aos 24 anos, destacou-se por sua formação intelectual, com doutorado em Filosofia pela Universidade Católica de Louvain e estudos teológicos em Roma.
Sheen revolucionou a evangelização ao usar a mídia de forma inovadora para a época. Estreou em 1930, com A Hora Católica no rádio, e liderou em audiência com o icônico A Vida Vale a Pena (1952-1957), na televisão, pelo qual ganhou um prêmio Emmy (o principal da TV americana) de Melhor Personalidade da Televisão em 1952.
Entre 1961 e 1968, apresentou The Fulton Sheen Program, consolidando sua influência. Sheen fez sucesso também com a escrita. Autor de 96 livros, incluindo A Vida de Cristo, elogiado pelo então Papa João Paulo II, Sheen deixou um legado literário e audiovisual admirável.
Como bispo auxiliar de Nova York (1951-1966) e bispo de Rochester (1966-1969), Sheen prometeu realizar “uma hora santa” todos os dias. Diariamente, ele rezava diante do Santíssimo Sacramento e, de forma impressionante, foi assim que morreu, aos 84 anos, em 1979. Seu corpo repousa em Peoria, Illinois, enquanto sua causa de beatificação segue em aberto.
O milagre já atestado e reconhecido
A intercessão de Fulton Sheen foi capaz de fazer com que um bebê ressuscitasse. O caso aconteceu em Goodfield, Illinois, nos EUA. Um bebê nasceu morto em setembro de 2010 e ficou por 61 minutos sem batimentos cardíacos. Seus pais rezaram e pediram a intercessão do bispo. Ao conseguirem o milagre, o nome do menino tornou-se James Fulton, em homenagem ao sacerdote por quem seus pais rezaram.
A investigação do caso, iniciada em 2011, contou com uma equipe de sete especialistas médicos do Vaticano e concluiu, em 2014, que a recuperação era cientificamente inexplicável. O milagre extraordinário, embora reconhecido pela Igreja Católica, não foi suficiente para que o bispo fosse reconhecido como beato. O motivo é que o Papa Francisco, depois de anunciar que realizaria a beatificação do bispo em dezembro de 2019, precisou adiá-la por questões mais políticas do que religiosas.
Justificou-se que havia uma investigação em curso a respeito de possíveis escândalos sexuais da época, não envolvendo o bispo, mas padres cujas faltas não teriam sido suficientemente punidas por ele. Ainda que as investigações confirmem que ele agiu corretamente, e a diocese local tenha negado qualquer acusação de abuso cometido por Sheen, o caso segue sendo o motivo do adiamento da sua beatificação.
Coincidências com Papa Leão XIV
Agora, com o Papa Leão XIV, pode ser que a beatificação de Fulton Sheen finalmente se concretize. Mesmo sem ter se pronunciado sobre o assunto até agora, ambos nasceram no mesmo estado, em Illinois nos EUA. Sheen nasceu em El Paso, uma cidade a 200 km de distância de Chicago, onde nasceu o Papa Leão XIV. Quando o Papa nasceu, no ano de 1955, Sheen pregava nos meios de comunicação. Não existem declarações públicas do atual pontífice a respeito do famoso bispo, mas a proximidade geográfica e doutrinária de ambos leva a crer que o bispo comunicador influenciou a formação do Santo Padre.
Além da coincidência no local de nascimento, a moderação pastoral talvez seja uma das características mais correspondentes entre os dois. Fulton Sheen começava seus discursos com uma piada para “quebrar o gelo” e, logo em seguida, falava de algum assunto secular, ao qual aplicava conceitos do cristianismo. O Papa Leão XIV foi eleito justamente por conseguir conciliar interesses das alas tanto conservadoras quanto das mais progressistas da Igreja. Ambos, portanto, são reconhecidos por combinar firmeza com diálogo, atraindo a atenção até de quem não está interessado propriamente em religião.
Série da Lumine
Com a finalidade de conhecer a oratória do bispo comunicador, a Lumine TV disponibilizou uma série de dez pregações proferidas por Fulton Sheen entre 1952 e 1957. Com temas sobre a Eucaristia, Revolução Sexual e Comunismo, o bispo, usando suas vestes de gala e um quadro negro, prende a atenção do espectador com didática e com bom humor, combinando reflexão com entretenimento.
É valioso assistir, ainda em preto e branco, a um religioso criticar o comunismo para além da questão política envolvendo a Rússia e Estados Unidos. Fulton Sheen adentra os princípios econômicos, sociais e até mesmo morais da ideologia destruidora. Em outro episódio, ao falar da Revolução Sexual, ele é elegante ao tratar do assunto, diferenciando o ser humano de um animal com argumentos sagazes.
De toda forma, mesmo sem data marcada, a beatificação de Sheen será apenas uma formalidade diante de sua grandeza. Antes do advento da internet, ele já havia demonstrado que era possível levar Deus às telas, tornando a fé acessível para todos os públicos.
- A Vida Vale a Pena: uma Série com Fulton Sheen
- 1960
- 10 episódios
- Classificação indicativa livre
- Disponível na Lumine
