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Grandes documentários musicais foram feitos sobre momentos marcantes da música pop, como os filmes sobre os lendários festivais de Monterey (1967) e Woodstock (1969), mas alguns eventos de triste memória também renderam ótimos filmes. Um exemplo é Gimme Shelter, clássico registro da turnê dos Rolling Stones em 1969 que culmina no sangrento e triste Festival de Altamont, na Califórnia.
Mais recentemente, outro bom filme contou a história de um grande fracasso do showbiz: Fyre Festival: Fiasco no Caribe, em exibição na Netflix, narra toda a saga de um show anunciado como “histórico”, mas que terminou em caos e processos.
Em 2017, o empresário norte-americano Billy McFarland e o rapper Ja Rule anunciaram a primeira edição do Fyre Festival, um evento luxuoso que aconteceria numa praia paradisíaca nas Bahamas. Supermodelos como Bella Hadid, Kendall Jenner e Emily Ratajkowski apareceram em posts do Instagram convidando o público e dando a impressão de que elas estariam no evento. A programação musical prometida era especial, com Blink-182, Major Lazer, Disclosure, Pusha T e muitos outros nomes famosos do rock, pop e hip hop. O evento garantia acomodações de luxo e uma orgia gastronômica sem igual, com menus assinados por chefs estrelados. Ingressos para um dia chegavam a 1500 dólares e pacotes VIP custavam a bagatela de 12 mil dólares.
Claro que nada disso aconteceu. A produção foi um pesadelo, o local do show cancelou a reserva depois que McFarland não pagou o prometido, e todas as atrações musicais cancelaram. O resultado foi que cerca de cinco mil pessoas acabaram abandonadas numa praia erma e sem a menor estrutura, comendo o que os habitantes locais conseguiam. Não vou dar spoiler, mas McFarland acabou processado e preso, o que foi notícia em todo o mundo.
O que importa é o marketing
Fyre Festival: Fiasco no Caribe foi dirigido pelo norte-americano Chris Smith, que fez ótimos filmes documentais para a Netflix sobre o ator Jim Carrey interpretando o comediante Andy Kaufman (Jim e Andy), o duo pop Wham! e, mais recentemente, a banda Devo. Smith acerta a mão ao usar uma narrativa que mistura imagens lindas e extravagantes do material de divulgação do Fyre Festival a vídeos e fotos tirados pelo público que efetivamente foi ao evento. O resultado é tragicômico, um relato revoltante de picaretagem extrema na era dos millennials.
Segundo reportagens publicadas na época, McFarland soube de antemão que o evento seria um fiasco e contratou um fotógrafo, Michael Swaigen, para registrar cenas de bastidores, já com o intuito de lançar um filme que documentasse todo o caos do Fyre Festival. Boa parte desse material foi usado em outro filme, Fyre Fraud, lançado nos EUA pela plataforma Hulu.

Assistindo a Fyre Festival: Fiasco no Caribe, o que fica é a sensação de que, hoje, basta uma campanha promocional esperta para enganar qualquer um sobre qualquer coisa. No mundo virtual, a imagem de modelos deslumbrantes de biquíni, andando por praias paradisíacas e convidando o público a juntar-se a elas num evento exclusivo é forte demais para ser ignorada e questões logísticas óbvias são ignoradas. McFarland entendeu que a ilusão é muito mais poderosa que a razão. O problema é quando a ilusão é confrontada com a realidade. E o resultado foi o Fyre Festival.
- Fyre Festival: Fiasco no Caribe
- 2019
- 97 minutos
- Indicado para maiores de 12 anos
- Disponível na Netflix
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