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A atriz inglesa Rachel Weisz interpreta as gêmeas obstetras Beverly e Elliot Mantle
A atriz inglesa Rachel Weisz interpreta as gêmeas obstetras Beverly e Elliot Mantle| Foto: Niko Tavernise/Prime Video

Poucas coisas são tão fascinantes quanto acompanhar um ator ou uma atriz tendo de interpretar gêmeos ou gêmeas com personalidades diferentes. Para ficar num exemplo popular e caseiro, é só lembrar de Glória Pires dando vida às irmãs Ruth e Raquel na segunda versão da novela Mulheres de Areia. Em Gêmeas – Mórbida Semelhança, minissérie em seis episódios que estreou no Prime Video em abril, a missão de encantar a plateia é de Rachel Weisz. A britânica de 53 anos encarou o desafio de encarnar as obstetras Beverly e Elliot Mantle nesse remake do filme de 1988 de David Cronenberg (Gêmeos – Mórbida Semelhança) e o resultado é sublime.

Vale ressaltar logo de saída que a série não é para todos os paladares. Thriller psicológico com personagens sarcásticos e com as bocas bem sujas, Gêmeas – Mórbida Semelhança impressiona não só pelas suas qualidades dramáticas, como pelas cenas doloridas de partos e até por passagens sexuais inesperadas. Levando em conta os agregadores de resenhas na internet e os veículos tradicionais que publicam listas com os melhores lançamentos no streaming no primeiro semestre, dá para cravar que a crueza do produto agradou muito. E a performance de Rachel Weisz tem enorme peso nisso.

No filme original, baseado num romance que narrava os êxitos e conflitos reais de dois gêmeos ginecologistas que fizeram fama em Nova York, Jeremy Irons viveu os protagonistas. Até por ter assinatura de Cronenberg, o trabalho virou cult. Mas nenhum fã da obra esperava por um remake, ainda mais com os dois médicos dando lugar a duas médicas. A responsável pelo feito é Alice Birch, dramaturga inglesa que deixou sua marca em diversos episódios da série Succession, entre outros trabalhos incensados. Aqui, a autora não tenta emular o longa-metragem de 1988 nem fazer uma daquelas pataquadas que estão em voga no audiovisual de substituir o protagonista masculino por uma feminina só pelo humor dos nossos tempos. A série tem vida própria e inventa novos caminhos para Beverly e Elliot – os nomes do filme foram mantidos.

Cabelo preso, cabelo solto

Beverly é a gêmea mais contida, que sonha em abrir um centro particular com a irmã para melhorar o atendimento a gestantes e mulheres tentando engravidar (seu próprio caso). O espectador reconhece Beverly pelas feições angustiadas de Rachel Weisz e também por seu cabelo geralmente preso. Elliot é a gêmea audaz, ácida e adicta, que também quer o centro, mas está mais interessada em realizar experimentos sobre fertilização, além de práticas ilegais para retardar a menopausa. Muito por conta desse caráter laboratorial, elas conseguem uma mecenas para custear o centro, oriunda de uma família podre de rica, que causou a epidemia de opioides nos Estados Unidos.

O empreendimento rapidamente começa a ser reconhecido e a ganhar prêmios, mas seu triunfo é afetado pelo ciúme doentio de Elliot por Beverly, que logo no primeiro episódio cai de amores pela atriz Genevieve. O detalhe é que, para conquistar Genevieve, Beverly troca de lugar com a gêmea audaciosa por um momento – e claro que essa tramoia acaba tendo impacto no relacionamento lá na frente, a partir de uma das cenas mais tensas da série, ambientada num jantar com os pais das gêmeas à mesa.

Gêmeas – Mórbida Semelhança é indigesto, perturbador, aflitivo e, ao mesmo tempo, viciante. Pode extenuar o espectador que optar por maratonar, mas é bem capaz que ele chegue ao fim querendo mais, torcendo para que milagrosamente surja uma segunda temporada para descobrir como as irmãs seguiram com suas vidas duplas. Rachel Weisz, que também é produtora da série, vai ser indicada para todos os prêmios televisivos da temporada. Para muitos, esse é o grande trabalho de sua carreira. Se ganhar troféus, que ganhe em dobro.

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