
Ouça este conteúdo
Em 10 de março de 1915, tropas francesas que lutavam contra as alemãs nas proximidades da cidade de Souain, no nordeste da França, receberam ordens para uma missão arriscada: atacar com baionetas uma trincheira germânica fortemente armada com metralhadoras poderosas. O primeiro grupo de soldados obedeceu e quase todos os oficiais caíram mortos antes de chegar à trincheira inimiga.
O General Gérauh Réveihac, que comandava as tropas francesas, ordenou outro ataque, e novamente os soldados foram alvejados poucos metros depois de saírem de suas posições. Era uma missão praticamente suicida. Réveihac mandou então que os soldados restantes continuassem as investidas, mas esses recusaram. O general estava brincando com a vida deles.
Furioso, Réveihac apelou: ordenou ao chefe da artilharia, Coronel Raoul Berube, que atirasse contra os próprios soldados franceses para obrigá-los a sair de suas trincheiras. Berube recusou e disse que só cumpriria a ordem se Réveihac a enviasse por escrito, mas o general, certamente para não se incriminar, não botou a ordem no papel.
Seis dias depois, em 16 de março, 24 soldados foram submetidos a uma corte marcial num julgamento improvisado e sem direito à apelação. No fim, três oficiais foram executados por um pelotão de fuzilamento. O incidente ficou conhecido como “Caso dos Oficiais de Souain” e é uma mancha na história das forças armadas francesas. Vinte anos depois, em 1935, o escritor ítalo-americano Humphrey Cobb lançou Paths of Glory, livro que contava aquela história trágica. E em 1957, um cineasta de 31 anos, Stanley Kubrick, adaptou a história num longa-metragem, que no Brasil recebeu o título de Glória Feita de Sangue.
Início mais do que promissor
Foi apenas o quarto longa-metragem de Kubrick e a maior produção de um filme dele até então. Os dois filmes anteriores do cineasta foram dramas criminais, Killer’s Kiss (A Morte Passou por Perto) e o extraordinário The Killing (O Grande Golpe), este com diálogos escritos por um mestre do romance policial, Jim Thompson.
Para adaptar o livro de Humphrey Cobb, Kubrick pediu ajuda a dois roteiristas que admirava, o próprio Jim Thompson e o escritor Calder Willingham (que depois teria uma carreira de muito sucesso em Hollywood, escrevendo roteiros para filmaços como A Primeira Noite de um Homem e Pequeno Grande Homem). O resultado foi uma obra-prima do filme de guerra e um dos maiores dramas do cinema.

No filme, Kirk Douglas faz Coronel Dax, que comanda a Infantaria e se recusa a levar a cabo a missão suicida ordenada pelo General Paul Mireau (George McReady). As cenas de ação são sublimes, com a câmera sempre móvel do fotógrafo alemão Georg Krause levando o espectador para dentro do campo de batalha.
Stanley Kubrick, que mais tarde daria ao mundo clássicos como 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968) e Laranja Mecânica (1971), conseguiu fazer um filme de guerra que funciona tanto como thriller de ação e aventura, como um denso e comovente drama humano. É uma obra dilacerante e que mantém sua força dramática mais de 70 anos depois do lançamento.
- Glória Feita de Sangue
- 1957
- 88 minutos
- Indicado para maiores de 14 anos
- Disponível no Looke, Lumine, Netmovies (gratuito) e para locação e compra na Amazon e Apple TV+
VEJA TAMBÉM:





