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Mais uma vez, um filme cristão, sobre família e baseado em uma história real, supera as expectativas, as fronteiras e até mesmo o ranking de visualizações da Netflix. Inexplicável foi lançado no mês passado e já atingiu mais de 13 milhões de pessoas. Figurou no top 10 de pelo menos 19 países, com destaque para Brasil, Portugal, Argentina, Uruguai, Paraguai e Equador. O filme chegou ao terceiro lugar entre os mais vistos em todo o mundo, um feito relevante para uma produção nacional.
O longa faz parte de um contexto de produções de cunho religioso que vêm ganhando cada vez mais aceitação do público. Assim como o filme Fé para o Impossível, que acaba de chegar ao Top 1 da Netflix, esta é uma obra emocionante sobre o poder da oração.
A trama retrata a história real do paraibano Gabriel Varandas (Miguel Venerabile) que, aos oito anos de idade, passa mal durante um campeonato de futsal, e é diagnosticado com um tumor no cérebro. Ele passa por uma cirurgia de emergência e chega a ser dado como morto. Milagrosamente, por meio de muitas orações e do empenho extraordinário da equipe médica, Gabriel se recupera, contrariando as probabilidades e a ciência.
Inexplicável é a adaptação do livro O Menino que Queria Jogar Futebol, de Phelipe Caldas, e traz Letícia Spiller como Yanna (a mãe), Eriberto Leão como Marcus (o pai), André Ramiro como Dr. Christian (o médico) e Suely Franco como Suelene (a avó).
O longa conta ainda com a participação especial e emocionante do versátil Moacyr Franco, com seus cabelos já bem brancos, mas com sua voz grave e talento inconfundíveis. Ele entra no quarto para rezar pelo menino. Após a oração, uma mulher entra e diz que ele confundiu o paciente, que deveria ter rezado por outra pessoa, mas a resposta que ele dá é uma das mais fortes do filme: “Deus não erra o caminho”.
Superficialidade com pretexto ecumênico
A despeito do enredo bem construído e emocionante, o filme peca, literalmente, pela superficialidade ao tratar da fé. O roteiro parece ter vergonha de assumir que a família é católica. O terço enrolado nas mãos da mãe cumpre uma finalidade mais estética do que de arma poderosa na qual Yanna, a da vida real, deposita suas esperanças.
Uma cena entre a avó e o outro filho do casal corrobora esse argumento no diálogo mais canhestro da obra. Ele pergunta: “Vó, se eu fizer um pedido para a estrelinha, será que ela me atende?”, e obtém dela uma resposta afirmativa: “Vamos tentar”.
A disparidade objetiva entre orar a Deus e fazer um pedido a uma estrela é colossal. Retratar isso em um filme sobre fé chega a ser ultrajante. Ao tentar representar uma fé ecumênica, a mensagem mais poderosa sobre a importância da oração perde força. O filme deixa lacunas teológicas importantes que podem ofender os mais religiosos.
Outro ponto fraco do filme é o posicionamento do pai ao reagir contra um comentário recebido em um grupo de oração. O pai de Gabriel ouve que a esposa estava grávida porque a Providência estaria substituindo um filho por outro. Se já é indelicado dizer algo assim, pior ainda foi a resposta do pai: “Eu me recuso a acreditar em um Deus que age da forma que você falou” — outra fala que pode desagradar.
Mesmo que isso não tenha acontecido no caso relatado (o menino sobreviveu), em outras famílias, um bebê pode, sim, alegrar pais enlutados. Quem sabe a mensagem possa ser o empurrãozinho para que mais famílias se abram à vida e aceitem mais filhos da Providência — não em substituição, mas como entrega à vontade divina?
Personagens secundários que merecem destaque
Apesar dos ruídos teológicos, a produção redime seus erros com outros méritos. A equipe médica demonstra muito respeito pela fé da família. De forma comovente, o envolvimento dos profissionais no caso é um elogio à parte aos que se dedicam aos doentes com excelência e carinho.
Um recado importante aos médicos é que o filme exagera no período em que o menino ficou sem pulso. Na realidade, foram oito minutos, enquanto a obra diz que foram 60. Que os doutores relevem essa desproporção ficcional (os religiosos também relevaram a estrelinha).

Com o filme, refletimos que não temos controle de nada. Um menino saudável pode adoecer gravemente de uma hora para outra. Mas ele também pode sobreviver, voltar a ter saúde e viver uma vida normal. O elo entre o fato e o milagre é a fé.
Além dos profissionais de saúde, vale mencionar a rede de apoio do casal. Em uma das cenas mais marcantes, vários amigos e familiares se reúnem para rezar do lado de fora do hospital, trazendo ainda mais relevância ao papel da oração. Não somente nesse momento, mas ao longo de todo o enredo, a reflexão em torno da corrente de oração é muito significativa.
Testemunhos emocionantes da audiência
Assim que o filme termina, é natural que os espectadores queiram correr para as redes sociais em busca de informações atualizadas sobre os protagonistas reais da trama. E vale a pena. Ouvir a família contando sua emoção por participar do filme é ainda mais inspirador.
Além dos pais, os comentários dos espectadores testemunham a importância desse tipo de obra na vida das pessoas. “Sentimos que não estamos sozinhos”, “voltei a rezar” e “todo pai e mãe se coloca no lugar de vocês” são exemplos de mensagens que Marcus e Yanna receberam.
Uma mulher comentou que, ao assistir ao Inexplicável, passou a rezar e a lutar para manter o casamento que estava prestes a acabar. O que significam as brigas de um casal quando um filho está entre a vida e a morte? A proporção dos nossos problemas parece diminuir, assim como a distância entre o improvável e o possível para aqueles que têm fé.
- Inexplicável
- 2024
- 114 minutos
- Indicado para maiores de 12 anos
- Disponível na Netflix e para locação e compra em Amazon, Claro TV e YouTube Filmes






