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Roberto Benigni

A inocência preservada em meio à barbárie: o legado de “A Vida É Bela” 

Benigni (Guido), Braschi (Dora) e Cantarini (Giosuè) formam uma família entre guerra e afeto
Guido (Benigni), Dora (Nicoletta) e Giosuè (Cantarini): amor que resiste ao campo de concentração (Foto: Divulgação/ Miramax)

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Se existe um filme capaz de nos fazer rir, chorar e repensar a forma como encaramos o sofrimento, esse filme é A Vida É Bela (1997), do italiano Roberto Benigni. Disponível na Netflix e na Oldflix, o longa é uma joia rara do cinema mundial, não apenas por sua narrativa criativa, mas por conseguir transformar uma tragédia em comédia, mas sem perder a sensibilidade.

A história é sobre Guido (Roberto Benigni), um pai judeu que inventa uma brincadeira imaginária para esconder do filho os horrores que eles passam no campo de concentração. O pai sorri segurando a mão do filho e, assim, oferece a confiança necessária para que o menino não entregue a única coisa que ninguém lhe pode roubar depois de arrancar-lhe tudo: a esperança.

Não por acaso, o sucesso do filme foi estrondoso. Em 1999, A Vida É Bela ganhou três Oscars: Melhor Ator para Benigni (primeiro prêmio para um ator em filme falado em italiano), Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Trilha Sonora.

A Vida É Bela foi o segundo filme estrangeiro mais premiado da história do Oscar, rendendo também uma pérola inesquecível durante a entrega do prêmio. Ao ouvir seu nome como o ganhador da noite, Benigni sobe eufórico pelas cadeiras do auditório em meio a uma efusão de aplausos. Seu discurso foi tão emocionante e engraçado que provou como o personagem expressa genuinamente a personalidade do ator.

Outro detalhe curioso é que a atriz que interpreta Dora, a mãe da criança e esposa de Guido, é também a esposa real de Benigni: Nicoletta Braschi. A relação entre eles transborda da tela, trazendo ainda mais autenticidade ao filme.  

Uma verdade para além da encenação é que o pequeno Giorgio Cantarini (que interpreta Giosuè) foi poupado da história real, acreditando estar participando de um jogo de verdade. Essa foi uma ideia genial que contribuiu para manter a atuação do garoto natural e espontânea.

O riso como “arma da alma”

Segundo Roberto Benigni, a proposta não seria fazer um filme sobre o Holocausto, mas sim um filme sobre o amor, especialmente entre pai e filho. Foi o que ele explicou na entrevista ao The New York Times, em 1998. 

A Vida É Bela foi inspirada pelas histórias do próprio pai, que passou anos em um campo de concentração nazista e contava histórias engraçadas dessa prisão para não traumatizar os filhos. A experiência pessoal norteou o roteiro. “O riso é uma arma da alma. O humor não nega a tragédia. Ele dá a ela um outro tom, uma resistência”, explicou o ator sobre o filme na coletiva de imprensa do Festival de Cannes, também em 1998.

Há uma cena específica que exemplifica a genialidade da obra. Ao traduzir as ordens cruéis de um oficial alemão para o italiano, o pai inventa regras como se as estivesse explicando ao filho. Enquanto o soldado grita as instruções severas do campo de concentração, Guido, com expressão sorridente, cria as regras imaginárias: “Quem chorar perde pontos. Quem perguntar pela mãe perde ainda mais. Quem ganhar, leva o tanque para casa.” É uma das sequências mais comoventes e perturbadoras do longa, que tanto consegue arrancar gargalhadas quanto nos incomoda sobre até onde alcança a capacidade humana para a maldade.

Guido (Roberto Benigni) usa o humor para salvar o filho do terror nazistaBenigni emociona como Guido, o pai que faz da esperança uma missão em "A Vida é Bela" (Foto: Divulgação/ Miramax)

Outra observação importante sobre o filme é como ele utiliza o recurso de contrastes. Ele começa como uma comédia romântica, com situações cômicas e diálogos cheios de trocadilhos. Mas, na segunda metade, o longa vira um drama histórico, mesmo sem abandonar o tom leve e terno do humor.  O contraste é poderoso porque mostra a grandeza da capacidade humana de amar, por um lado, e de odiar, por outro.

Em tempos de guerra e repressão, talvez seja exatamente disso que precisamos: de quem nos faça rir, não para fugir da realidade, mas para enfrentá-la com esperança. Porque sim, mesmo em meio às tragédias reais, a vida é sempre bela. 

  • A Vida É Bela
  • 1997
  • 116 minutos 
  • Classificação indicativa livre
  • Disponível na Netflix, Oldflix e para locação e compra na Amazon e Microsoft

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