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A HBO Max lançou Jayne Mansfield, Minha Mãe, documentário de Mariska Hargitay sobre a atriz e símbolo sexual Jayne Mansfield (1933-1967). Mariska é mundialmente conhecida pelo papel de Olivia Benson, chefe da Unidade Especial de Vítimas do Departamento de Polícia de Nova York em Law & Order: Special Victims Unit. A série está no ar desde 1999 e fez de Benson a personagem mais longeva da história das séries de drama na TV norte-americana.
Mariska tinha três anos de idade em 28 de junho de 1967, quando viajava de carro com os dois irmãos, a mãe, o advogado Sam Brody, então marido de Jayne, um motorista e os quatro chihuahuas da família em direção a New Orleans, onde a estrela da família se apresentaria num programa de rádio no dia seguinte. Por volta de duas da manhã, o carro colidiu com a traseira de um caminhão. Os três passageiros que estavam na frente – Jayne, Brody e o motorista – morreram na hora. As três crianças, que viajavam atrás, sofreram apenas machucados leves, e dois dos quatro cães morreram. Jayne tinha 34 anos.
Após a morte da mãe, Mariska e os irmãos foram criados pelo pai, o ator e fisiculturista húngaro-americano Mickey Hargitay, que já estava em outro casamento quando a ex-esposa morreu. Por muito tempo, Mariska bloqueou as memórias da mãe e se recusou a ler as muitas biografias não autorizadas que contavam detalhes picantes sobre a vida de Jayne, uma atriz escultural e que nunca deixou de explorar sua sensualidade na mídia.
Foi só depois de fazer uma visita a um depósito de pertences da família que Mariska decidiu começar a investigar a vida e carreira da mãe, e o resultado surpreendeu até a ela. A imagem da “loura burra” foi se dissipando, e Mariska concluiu que Jayne Mansfield, a sex symbol voluptuosa, era mais uma personagem criada por Vera Jayne Palmer, seu nome de batismo, uma mulher muito mais inteligente e sensível do que sua figura pública fazia parecer. Palmer era uma poliglota que tocava piano e violino, gostava de literatura e sonhava em ser uma atriz séria, mas infelizmente não conseguiu escapar da imagem de loura gostosona.
Descortinada por Groucho
A principal qualidade de Jayne Mansfield, Minha Mãe é não vitimizar a personagem. A atriz não é mostrada como uma inocente vítima das circunstâncias e do machismo de uma indústria cultural misógina e exploradora, mas como uma mulher de carne e osso que usou sua beleza e sex appeal para fazer fama e fortuna e depois tentou, sem sucesso, mudar sua imagem. Uma das cenas de arquivo mais marcantes mostra Jayne sendo entrevistada num programa de TV pelo genial comediante Groucho Marx. Num momento revelador, Groucho diz: “Jayne, eu sei que você está só interpretando uma personagem. Você é uma mulher brilhante e seria bom que todo o mundo soubesse disso”.
O filme conta, por meio de cenas de arquivo e entrevistas – com os filhos, amigos e até um centenário assessor de imprensa – a trajetória de Jayne Mansfield, que foi, pelo menos em seu início, muito parecida com a de tantas meninas bonitas que chegaram a Hollywood em busca de oportunidades no cinema e tiveram de ralar muito. No caso de Jayne, ela havia estudado dança e teatro no Texas (foi aluna de Baruch Lumet, pai do cineasta Sidney Lumet) e chegou à Califórnia em 1951, aos 18 anos. Antes de conseguir seus primeiros testes para filmes, trabalhou de modelo nua para pintores e de vendedora de doces e pipoca em salas de cinema. Também posou nua para a revista Playboy em fevereiro de 1955, o que fez subir absurdamente a vendagem da revista. Depois de pequenos papéis em filmes, ela se destacou na Broadway, em Nova York, na peça Will Success Spoil Rock Hunter? (Em Busca de um Homem), depois adaptada para o cinema.

De meados dos anos 1950 até sua morte, em 1967, Jayne Mansfield foi uma atriz famosa em todo o mundo e considerada um símbolo sexual feminino da época junto a Marilyn Monroe, à italiana Sophia Loren e à sueca Anita Ekberg. Mas sua carreira sofreu quando ela tentou abandonar a imagem de loura fatal e foi atrás de papeis mais desafiadores. As seguidas negativas por parte de estúdios deixaram a atriz deprimida e sujeita a crises de alcoolismo e barbitúricos, e sua vida pessoal também sofreu.
Um lado fascinante da história de Jayne Mansfield – e da filha Mariska – ocupa a parte final do filme, e não o revelarei aqui para não estragar a surpresa. Mas foi um acontecimento marcante e de sérias consequências para Mariska, e a maneira como o filme o aborda é elegante e nada apelativo. No fim, descobrimos que não só Jayne Mansfield foi uma personagem muito mais interessante do que sua imagem pública dava a entender, mas sua vida foi uma sucessão de acontecimentos incríveis e improváveis. Um exemplo: o pai de Jayne, Herbert, um sujeito amoroso, morreu de um ataque do coração sofrido enquanto dirigia. Detalhe: Jayne tinha três anos de idade e estava dentro do carro, replicando o que aconteceria com Mariska 31 anos depois.
- Jayne Mansfield, Minha Mãe
- 2025
- 106 minutos
- Indicado para maiores de 10 anos
- Disponível na HBO Max





