Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
O Ratinho deles

“Jerry Springer: Brigas, Câmera, Ação” narra saga do rei do mundo cão na TV

Jerry Springer, que ficou no ar com seu programa entre 1991 e 2018
O apresentador Jerry Springer, que ficou no ar com seu programa entre 1991 e 2018 (Foto: Divulgação Netflix)

Ouça este conteúdo

“E o que eu tenho pra te revelar é que eu me prostituía. Eu me prostituía pra comer ‘x-burgui’”. Essa frase, talvez a mais emblemática já proferida num programa de João Kleber, não existiria se não fosse por Jerry Springer (1944-2023). Pode colocar no balaio o quadro do teste de DNA do Programa do Ratinho, a carreira quase completa de Christina Rocha e diversas atrações televisivas que chocaram e divertiram o Brasil nas últimas décadas. Era tudo inspirado no The Jerry Springer Show, programa que incendiou a TV americana entre 1991 e 2018 e é alvo de escrutínio num documentário em duas partes da Netflix.

Jerry Springer: Brigas, Câmera, Ação explica como surgiu e qual foi o impacto do talk show que mudou de uma vez por todas as tardes do americano médio, com reflexos sentidos até no Brasil. Começa explicando as origens de Springer, um judeu nascido em Londres e criado em Nova York, que antes de aportar em Chicago para comandar seu programa revolucionário havia servido como prefeito de Cincinnati, no estado de Ohio. Até por ter esse background na política, ele não “chegou chegando” nos lares dos Estados Unidos. Seu programa de conversas, inicialmente, era bem chatinho. Foi jogado na madrugada e perdeu retransmissões pelo país meses depois da estreia.

A mudança de rumo se deu com a chegada de um editor vindo de tabloides estilo o nosso finado Notícias Populares. Richard Dominick era conhecido por bolar as manchetes mais insanas e ir a talk shows como o de Dave Letterman discorrer sobre elas. Era um cara acostumado com o mundo cão e que sabia como chamar a atenção do cidadão comum com muito humor e sensacionalismo. Conforme convivia com Springer, Dominick ia percebendo que era possível fazer o apresentador se soltar cada vez mais e embarcar em pautas surreais. Novos integrantes da produção também compraram o barulho de Dominick e a atração vespertina começou a disparar na audiência com baixaria da grossa (tipo um senhor que dizia ser casado com seu pônei) e embates físicos no palco (entre membros da Ku Klux Klan e judeus, por exemplo).

Credibilidade em xeque

A boa sacada da Netflix foi dividir o documentário em duas partes. Na primeira, até o espectador mais ultrajado torce pelo sucesso do programa. O The Jerry Springer Show chega a ultrapassar o programa da Oprah, a rainha das tardes americanas, que reclamava da apelação do concorrente o tempo todo. Mas, na segunda parte, a deprê bate forte. Chegam os relatos de produtores que entravam na cabeça dos participantes para arrancar reações explosivas. Os próprios produtores reclamam da dificuldade que era conseguir histórias interessantes todos os dias e da pressão que sofriam do chefão Dominick. Isso sem contar as situações forjadas, que redundavam em trocas de socos fajutas, colocando em xeque a “credibilidade” (e bote aspas nisso!) do produto.

Judeu nascido em Londres e criado em Nova York, Springer foi prefeito de Cincinnati (Ohio) antes de estourar na TVJudeu nascido em Londres e criado em Nova York, Springer foi prefeito de Cincinnati antes de estourar na TV (Foto: Divulgação Netflix)

Até que é apresentado o caso mais escabroso de todos, de uma mulher que foi ao programa porque achava que ia reatar seu relacionamento. Só que seu ex apareceu no programa e confirmou que iria ficar com a nova namorada, também presente no palco. A pobre participante deixou os estúdios desnorteada e precisou da ajuda de estranhos para conseguir voltar para sua cidade de ônibus – a produção avisava que não pagaria o voo de volta caso o barraco não rendesse. No dia em que a gravação foi ao ar, o homem procurou a ex e a matou em sua residência.

Se já estava no olho do furacão, o The Jerry Springer Show passou a ser mais questionado ainda após o escândalo, com o titular precisando comparecer a audiências para dizer “é só um programa de TV, todos nós vamos sobreviver”. Mas a atração não sobreviveu. O desinteresse crescente do público fez o show ser descontinuado após 27 anos no ar. Além de muitos pontos de ibope, ele rendeu inúmeros estudos sociológicos e debates acalorados sobre o vale tudo na indústria do entretenimento. E também esse documentário redondinho que está dando sopa na Netflix.

  • Jerry Springer: Brigas, Câmera, Ação
  • 2025
  • 2 episódios
  • Indicado para maiores de 14 anos
  • Disponível na Netflix

VEJA TAMBÉM:

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.