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O diretor Darren Aronofsky construiu sua carreira em obras que desafiam o público e levam o espectador a caminhos perturbadores, como Réquiem para um Sonho (2000), Cisne Negro (2010) e A Baleia (2022). Com o novo Ladrões, em cartaz nos cinemas brasileiros, o americano se reinventa ao apostar em um thriller urbano marcado pelo humor negro e ambientado nos anos 90 em Nova York.
O longa tem como protagonista Hank Thompson, vivido por Austin Butler, atualmente um dos atores mais celebrados de Hollywood, após o impacto de Elvis e a participação em Duna: Parte Dois. Butler assume em Ladrões um papel diferente de tudo o que já fez, encarnando um ex-jogador de beisebol fracassado que passa os dias cuidando de um bar decadente em Manhattan.
A vida sem rumo do personagem muda quando Hank aceita cuidar de uma gata de estimação. A tarefa aparentemente banal o arrasta para o submundo do crime nova-iorquino. A partir daí, ele se vê cercado por mafiosos, policiais corruptos e criminosos russos, em uma espiral de violência crescente que não dá sinais de trégua.
Nova York é personagem
O cenário é parte essencial da força do filme. Aronofsky recria uma Nova York do fim dos anos 1990, antes do processo acelerado de gentrificação que transformaria a paisagem urbana. A cidade aparece sombria, suja e vibrante, com bares esfumaçados e prédios em ruínas. Nova York é tratada como um personagem, decadente e caótica.
Ladrões é recheado de perseguições, brigas brutais e diálogos carregados de ironia. É um filme que dialoga diretamente com clássicos do cinema criminal dos anos 90, como Fargo, dos irmãos Coen, Pulp Fiction, de Quentin Tarantino, e Snatch – Porcos e Diamantes, de Guy Ritchie. O filme não se leva a sério o tempo todo e o humor funciona como alívio em meio às situações grotescas.

Ainda assim, Aronofsky consegue deixar sua marca. Sobretudo, como o diretor filma a degradação física e emocional de seu protagonista. O ritmo e a trilha sonora da produção reforçam a sensação de urgência. Cada decisão de Hank o empurra para um abismo maior, e o público é arrastado junto. O americano resgata um espírito quase perdido do cinema sobre crimes, usando a irreverência, misturando estilos e, acima de tudo, surpreendendo.
Filme é virada na carreira de diretor
Ladrões também marca uma ruptura importante na filmografia de Aronofsky. Ao contrário da atmosfera sufocante de Mãe! ou do mergulho psicológico de O Lutador, aqui o diretor aposta em um tom mais leve. O filme exibe violência explícita, mas a liberdade narrativa o aproxima de comédias criminais frenéticas.
Essa guinada gerou debates entre críticos. Alguns viram a mudança como saudável, mostrando que Aronofsky não precisa se repetir. Outros sentiram falta da densidade existencial de seus trabalhos. Ainda assim, há consenso de que Ladrões é um capítulo inédito na trajetória de um cineasta que, mesmo fora de sua zona de conforto, permanece inventivo.
Apesar de ser mais palatável que seus filmes anteriores, Ladrões não é indicado para qualquer espectador. Há momentos de violência extrema, incluindo torturas, mutilações e assassinatos exibidos sem concessões. Também há elementos escatológicos e um humor que flerta com o grotesco, o que pode incomodar públicos mais sensíveis. Para espectadores conservadores ou famílias que procuram um entretenimento menos agressivo, a recomendação é de cautela.
- Ladrões
- 2025
- 107 minutos
- Indicado para maiores de 16 anos
- Em cartaz nos cinemas
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