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Tubarão, de Steven Spielberg, está fazendo 50 anos. É um filme marcante não só pelo sucesso comercial estrondoso e, à época, inusitado, mas por simbolizar o fim de uma era em Hollywood e o início de outra. O fim, no caso, foi o debacle da chamada Nova Hollywood, a talentosa e revolucionária leva de filmes que rendeu obras-primas como O Poderoso Chefão (Francis Ford Coppola), Taxi Driver (Martin Scorsese), A Última Sessão de Cinema (Peter Bogdanovich) e tantas outras, e o início de um período em que os estúdios hollywoodianos voltaram a ter controle total sobre suas produções e passaram a investir em filmes mais caros e com imensas campanhas publicitárias. Tubarão foi o marco zero de uma fase que rendeu blockbusters como Guerra nas Estrelas e E.T. O Extraterrestre.
A Nova Hollywood durou pouco. De Bonnie e Clyde, lançado em 1967, até surgir Tubarão, em 1975, a indústria do cinema passou por um período de turbulência, em que os grandes estúdios perceberam que estavam completamente fora de sintonia com o gosto do público jovem e, basicamente, deram carta branca para que novos cineastas fizessem filmes contraculturais e ousados. Spielberg e Tubarão mudaram tudo isso, mesmo sem querer.
Quando foi convidado a dirigir Tubarão, Steven Spielberg era um cineasta novato muito ligado à turma da Nova Hollywood – Coppola, Scorsese, Brian De Palma – e que fazia filmes baratos. Tubarão não era uma produção cara e Spielberg sofreu muito com as cenas marinhas e a tosquice do boneco do tubarão, que não era nada assustador.
Spielberg percebeu que a única maneira de realmente assustar o público seria esconder ao máximo o animal, que apareceria com mais destaque na parte final do filme. Ele pediu ao compositor John Williams que fizesse uma trilha com um tema que marcasse as aparições do monstrengo, e Williams fez uma música espartana e minimalista, com poucas notas ao piano, mas que imediatamente conjurava tensão e suspense.
Sugestões e improvisos
Hoje, Tubarão é considerado um clássico, mas é difícil para plateias modernas entenderem a pobreza que foi a filmagem e o tanto de improviso que aconteceu durante sua produção. Para ajudar a criar mais suspense, Spielberg recorreu a amigos para dar sugestões no roteiro enquanto o filme estava sendo rodado.
Uma das sequências mais célebres de Tubarão é o monólogo de Quint (Robert Shaw) diante de Martin Brody (Roy Scheider) e Matt Hooper (Richard Dreyfuss) em que Quint revela ser um dos 316 sobreviventes do famoso naufrágio do navio USS Indianapolis, em 1945. Essa cena não estava no roteiro original e foi sugerida pelo roteirista Howard Sackler, que fez revisões no roteiro escrito por Peter Benchley (autor do livro do qual o filme é adaptado) e Carl Gottlieb.
Mas a versão de Sackler não foi a que terminou sendo filmada. Segundo relatos, Spielberg teria pedido ajuda ao roteirista John Milius para polir a cena, e Milius teria ditado a cena por telefone ao cineasta. Essa versão é negada por Gottlieb, que afirma que a maior parte da cena foi inventada pelo próprio ator Robert Shaw. Independentemente da autoria da cena, é prova de que Spielberg estava mudando o filme no meio da produção.
O resultado, apesar das dificuldades na produção, foi um filme tão intenso e assustador que o estúdio decidiu contrariar uma prática comum na época, que era a de distribuir vários filmes por poucas salas de cinema, e concentrar a exibição de Tubarão em um número imenso de salas de cinema ao mesmo tempo. O que vemos hoje, com um verdadeiro “monopólio” de determinados filmes na grande maioria das salas de uma cidade, começou há 50 anos com Tubarão.
- Tubarão
- 1975
- 118 minutos
- Indicado para maiores de 14 anos
- Disponível no Prime Video, Claro Video, Globoplay e Telecine
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