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Brian Wilson, cofundador da banda The Beach Boys, que redefiniu o “sonho californiano”, morreu aos 82 anos, anunciou sua família na conta do músico no Instagram.
“Estamos devastados por ter que anunciar que nosso amado pai Brian Wilson faleceu. Estamos sem palavras neste momento. Por favor, respeitem nossa privacidade neste momento de luto”, escreveu a família, sem dar detalhes sobre a causa de sua morte.
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“Percebemos que compartilhamos nossa dor com o mundo. Paz e amor”, conclui a mensagem de sua família de sete filhos.
Em fevereiro de 2024, soube-se que Wilson, que havia acabado de perder sua esposa Melinda, sofria de “distúrbios neurocognitivos graves” que exigiam que ele fosse colocado sob a tutela de dois médicos então indicados por seus parentes.
A família reconheceu na época que Brian Wilson era incapaz de prover “sua saúde física, alimentação, vestuário e abrigo”, disseram seus advogados na ocasião.
De qualquer forma, os problemas neurocognitivos de Wilson remontam à década de 1990, causados por longos períodos de abuso de drogas quando ele estava no auge da fama, exacerbados por seu relacionamento com o controverso psicólogo Eugene Landy, que tentou controlar todos os aspectos de sua vida até que a família proibiu qualquer contato com ele, o que só aconteceu em 2006.
A obra-prima: "Pet Sounds"
A obra-prima de Wilson e dos Beach Boys, o álbum Pet Sounds, de 1966, embora não tenha sido um sucesso de vendas quando foi lançado, teve influência direta sobre alguns dos artistas mais importantes de sua época, que continua ressoando até hoje. Foi eleito o segundo melhor álbum de todos os tempos pela revista Rolling Stone.
Inspirado pelo estilo de produção de Phil Spector e instigado pela evolução dos Beatles em Rubber Soul, Wilson – que havia conquistado todo o tempo que quisesse em estúdio ao abandonar as turnês do Beach Boys depois de um ataque de pânico – fez um disco revolucionário para o pop da época.
O músico aperfeiçoou em vários sentidos a música dos Beach Boys, que até então faziam sucesso com um canções solares sobre praia, carros, garotas. Com o letrista Tony Asher, Brian compôs músicas de temáticas mais profundas, “adultas” – tendência que já vinha mudando as feições do rock, até então mais ligado a um universo de juventude, diversão, rebeldia.
Decidido a fazer seu melhor trabalho, criou algumas melodias primorosas, buscou harmonias e recursos musicais mais sofisticados e os potencializou com arranjos sinfônicos complexos, bem construídos, enriquecidos por sons estranhos a um disco de música pop. E arrematou o resultado explorando novos territórios em termos de técnicas de gravação, fazendo Pet Sounds ter uma extraordinária única e uma sonoridade única. O trabalho trouxe contribuições tanto para a canção quanto para a produção, arranjos e o conceito de “álbum” como obra de arte; foi uma espécie de fundador de uma forma de fazer música pop – uma em que os artistas em questão nem precisam estar necessariamente tocando (os Beach Boys gravaram essencialmente as vozes em Pet Sounds; o resto coube a dezenas de músicos de estúdio).
Em uma época de saltos artísticos e ritmo de competição criativa entre os músicos, os novos territórios explorados por Brian Wilson foram logo incorporados por artistas como os próprios Beatles, que haviam servido de fagulha para a grande obra do músico.
O único show de Brian Wilson no Brasil aconteceu em 7 de novembro de 2004, como parte do extinto Tim Festival. O eterno Beach Boy subiu ao palco montado no Jockey Club acompanhado de músicos mais jovens, que o devolveram às turnês internacionais. O repertório trouxe 31 músicas, dentre elas várias faixas de Pet Sounds, e chegou ao fim com a balada Love and Mercy, da carreira solo de Wilson.





