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Morreu na madrugada desta sexta-feira (12), aos 84 anos, o cineasta Cacá Diegues. Segundo a família do diretor, ele não resistiu às complicações de uma cirurgia, realizada no Rio de Janeiro.
Um dos fundadores do Cinema Novo, Diegues nasceu em Maceió (AL) e se mudou para a capital fluminense ainda criança. Dentro deste movimento cinematográfico, marcado pelo descontentamento de cineastas com a política durante a ditadura militar, o alagoano fez películas carregadas de críticas sociais.
Sua obra inclui mais de 20 longas-metragens, entre eles Xica da Silva (1976), Bye Bye Brasil (1980), Veja Esta Canção (1994), Tieta do Agreste (1995) e Deus é Brasileiro (2003). O seu último trabalho lançado em vida foi O Grande Circo Místico (2018), baseado em um poema do autor Jorge de Lima.
Cacá Diegues também era membro da Academia Brasileira de Letras, onde ocupava, desde 2018, a cadeira de número 7. “Sua obra equilibrou popularidade e profundidade artística, abordando temas sociais e culturais com sensibilidade. Durante a ditadura militar, viveu no exílio, mantendo-se sempre ativo no debate sobre política, cultura e cinema”, declarou a entidade em nota nas redes sociais.
O cineasta deixa a mulher (a produtora de cinema Renata Almeida Magalhães), quatro filhos e três netos.
Criador da "patrulha ideológica"
Em 1978, durante a divulgação do filme Chuvas de Verão, que não foi bem recebido pela crítica especializada, Diegues deu uma entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo. No texto, publicado com o título "Cacá Diegues: por um cinema popular, sem ideologias", o cineasta se queixava da suposta ligação de jornalistas com o Partido Comunista Brasileiro.
Para ele, os críticos militantes detonavam produtos culturais que não fossem alinhados às crenças do partido, forçando uma espécie de visão limitadora da arte. Ao descrever isso, cunhou o termo "patrulhas ideológicas".
"Naquela época, havia quem insistisse numa espécie de censura ideológica à produção cultural. Estavam muito preocupados em dividir o mundo entre o bem e o mal. Isso era resultado da Guerra Fria. Eu era contra isso, como sou até hoje. O artista não pode ser um intelectual orgânico, do partido, e colocar a ideologia acima de sua criação. Criei a expressão “patrulhas ideológicas” em homenagem a essas críticas", comentou Diegues em entrevista à revista Época, em 2014.








