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O documentário da Netflix Número Desconhecido: Catfishing na Escola, lançado este mês, aborda de forma impactante dois dos temas mais urgentes da atualidade: o uso de celulares por crianças e adolescentes e o avanço do cyberbullying. Dirigido por Skye Borgman, o filme segue o ritmo de um true crime ao revelar os detalhes de uma investigação com desfecho surpreendente em uma pequena cidade do interior dos Estados Unidos.
A trama acompanha Lauryn Licari, de 13 anos, alvo de mensagens insistentes e hostis enviadas por números anônimos, e seu namorado, Owen McKenny. A partir daí, ambos mergulham em um pesadelo digital que se arrasta por quase dois anos em Beal City, no Michigan. As mensagens, que começam com provocações depreciativas sobre Lauryn, evoluem para insinuações sexuais e ataques cada vez mais agressivos.
O documentário constrói uma narrativa em tensão crescente, à medida que os fatos se tornam mais perturbadores. A investigação policial envolve primeiro os pais, passa pela escola, mobiliza autoridades locais e, por fim, chega ao FBI. Nesse processo, surgem dúvidas, acusações equivocadas e suspeitas que atingem amigos, colegas e até familiares das vítimas.
O momento da reviravolta, na parte final, é o que mais choca o espectador. A revelação adiciona complexidade à trama e vem acompanhada da luta dos jovens para serem ouvidos e não carregarem acusações injustas.
A produção também expõe o agravamento do sentimento de impotência quando as vítimas buscam ajuda institucional. A direção da escola, mesmo acionada, limita-se a medidas paliativas ou burocráticas. Já a polícia local, pressionada, não demonstra ter estrutura para chegar aos culpados, reforçando a sensação de vulnerabilidade.
Bloquear não basta
O filme cumpre um papel importante ao lembrar que adolescentes, expostos diariamente a celulares, redes sociais e aplicativos de mensagem, não estão apenas diante de conteúdos inadequados, mas de pessoas que podem transformar essas plataformas em armas. A obra mostra que “bloquear não basta”: o agressor pode trocar de número ou mascarar sua identidade, e os danos morais e psicológicos podem se estender indefinidamente.
Outro ponto relevante é a ênfase na necessidade de diálogo entre pais e filhos. Em entrevistas, a diretora Skye Borgman destacou que um dos objetivos do filme é justamente abrir espaço para essas conversas, alertando adultos de que agressões virtuais acontecem diariamente, mesmo quando não chegam a extremos tão dramáticos. A obra retrata ainda a quebra da confiança entre as pessoas, a dissolução de amizades, o abalo na vida social e escolar dos jovens e os reflexos profundos em sua saúde emocional.

Apesar de sua força, o documentário deixa algumas questões em aberto. Ele provoca reflexão, mas não aprofunda temas que poderiam ampliar o debate: quais os mecanismos institucionais ou legais de prevenção ao cyberbullying em comunidades menores? Como promover educação digital sem cair em vigilância excessiva ou autoritarismo? Essas perguntas permanecem em segundo plano.
Ainda assim, Número Desconhecido: Catfishing na Escola é uma obra que merece ser vista. É um filme que incomoda, choca e alerta, valioso para pais, professores, educadores e todos os que se preocupam com os efeitos do uso irrestrito do celular entre crianças e adolescentes.
- Número Desconhecido: Catfishing na Escola
- 2025
- 94 minutos
- Indicado para maiores de 16 anos
- Disponível na Netflix
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