Entramos em dezembro! Época de festas e comemorações em família. Já é Natal! Desde que o cinema é cinema, sempre foram produzidos filmes que contam histórias que tentam traduzir o espírito natalino. E neste domingo iniciamos uma nova série de obras cinematográficas que abordam o tema. Mas o que é exatamente o Natal? Em resumo: é a data cristã que relembra o nascimento de Jesus. Mas, sejamos francos, nenhum filme sobre ou ambientado na época do Natal realmente fala sobre isso. O que se vê – e é isso o que vamos abordar aqui – é a livre expressão do fato bíblico e algumas das possíveis leituras que podemos fazer diante do desejo de esperança e renovação.
OK, pode causar bastante estranheza, mas decidimos abrir essa série com O Grinch, produção realizada em 2000, sob a direção de Ron Howard, disponível no streaming pelo Prime Video, GloboPlay ou locação via Now, Amazon, Google Play e Apple TV. O leitor certamente deve se lembrar, ao menos, da aparência: o Grinch é um ser esquisito, quase monstrengo, com jeito de vilão e o corpo todo verde. É, de fato, uma figura assustadora, mas que iremos descobrir que também possui um bom coração. O personagem, registre-se, é um dos mais importantes e famosos na carreira do escritor americano Theodor Seuss Geisel, autor de livros infantis mundialmente conhecido somente pelo pseudônimo Dr. Seuss. Lançado em 1957, How The Grinch Stole Christmas! (Como o Grinch Roubou o Natal!) rapidamente conquistou as crianças. Em pouco mais de 30 páginas, o livro traz belas ilustrações (feitas pelo próprio Dr. Seuss) e um texto bastante criativo escrito em rimas, resultando em uma narrativa ágil e envolvente.
Trata-se, evidentemente, de um rico material em termos de argumento, mas bastante pobre (30 páginas!!!) para o desenvolvimento narrativo de um longa-metragem para cinema. O diretor Ron Howard precisou contar com dois habilidosos roteiristas (Jeffrey Price e Peter S. Seaman) para criar todo o universo de Grinch (interpretado de forma brilhante por Jim Carrey), um ser extremamente rabugento. Sim, porque além de aterrorizante, ele é terrivelmente ranzinza e mal-humorado. Vive solitário em sua caverna-castelo, um ambiente sombrio em meio à sujeira e muita quinquilharia esparramada pelo local. O Grinch não suporta nada nem ninguém.
Crítica ao consumismo
Na história original escrita por Dr. Seuss, o que mais irritava o Grinch era não apenas a época de Natal, mas principalmente a motivação consumista que a data criava nas pessoas, desesperadas em comprar presentes. Sim, era uma crítica de viés ideológico um tanto camuflada numa história infantil. Dr. Seuss, durante um breve período, considerava-se um democrata liberal. O autor rapidamente começou a perceber que as duas palavras juntas não faziam muito sentido (lembre-se de que democrata, nos Estados Unidos, significa esquerda) e em dado momento descobriu-se mais conservador e foi viver em La Jolla, San Diego, uma cidade praiana predominantemente republicana.
No filme, o diretor Ron Howard mantém-se fiel aos escritos de Dr. Seuss. O Grinch odeia o Natal e, como forma de acabar com a alegria de todos, decide roubar tudo o que se relaciona à data comemorativa, sobretudo os presentes colocados debaixo das árvores nas salas dos moradores da Cidade dos Quem. Mas lá vive a garotinha Cindy Lou Who (interpretada por Taylor Momsen) que, contrariando todas as possibilidades, não tem medo do Grinch e quer ficar amiga dele. O grande destaque do filme é justamente conseguir conciliar a atmosfera de terror, por meio de um personagem desagradável e intimidador, e a ternura de um conto natalino com a presença de uma garota meiga e delicada.
Os roteiristas do filme aproveitam muito bem essa relação para inserir na história informações pouco exploradas e até mesmo ausentes no livro, o que dá à obra uma robustez dramática. E assim podemos conhecer um pouco mais sobre quem é o verdadeiro Grinch e seu passado como uma criança molestada na escola por conta de sua aparência. Apaixonado por uma colega e mesmo diante da reciprocidade amorosa, Grinch decide fugir para a montanha e viver em total isolamento.
Mas, afinal de contas, estamos falando de Natal. É a partir do encontro do Grinch com a garotinha Cindy que aquele ranheta e constantemente intolerante finalmente percebe que a vida pode ser muito melhor quando existe compaixão e generosidade. Se o Natal é capaz de fazer milagres, certamente um deles é o da transformação. E quando Grinch, antes um ser feio, sinistro e aterrorizante, torna-se capaz de compartilhar alegria e amor, pode-se afirmar que o milagre natalino se consagrou.
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