Como fazer a sequência de um filme clássico? Se você é Francis Ford Coppola, um jovem cineasta de trinta e poucos anos que acaba de lançar uma obra-prima como O Poderoso Chefão, sua única alternativa é dirigir outra obra-prima. E Coppola conseguiu: para muitos, O Poderoso Chefão 2, que está completando 50 anos, é ainda melhor do que o original.
Independentemente de sua preferência (confesso que ainda gosto mais do primeiro filme), é inegável que são duas grandes obras e bem diferentes em termos de produção. Pouca gente se lembra, mas o primeiro O Poderoso Chefão não foi um filme de alto orçamento, muito pelo contrário. A miséria era tanta que as cenas em Las Vegas foram filmadas em outro lugar, e a tomada aérea que mostra a cidade era uma cena antiga comprada de um arquivo.
Depois que O Poderoso Chefão recebeu dez indicações ao Oscar e venceu três estatuetas – Melhor Filme, Ator (Marlon Brando) e Roteiro Adaptado (Mario Puzo e Francis Ford Coppola) – e tornou-se o filme de maior bilheteria no mundo em 1972, as coisas mudaram de figura. A Paramount, que não acreditava em Coppola, então um diretor desconhecido, deu-lhe carta branca – e um orçamento duas vezes maior – para filmar a sequência.
Se hoje a equipe de O Poderoso Chefão é celebrada por sua genialidade, vale lembrar que o diretor e os atores principais não eram, nem de longe, as primeiras opções do estúdio Paramount. Marlon Brando foi sugerido para o papel de Don Corleone pelo autor do livro, Mario Puzo, mas em 1971, ano de produção do filme, Brando era considerado um ator difícil de trabalhar e que havia passado do auge. Vários astros foram cogitados para o papel, entre eles Orson Welles (que chegou a se encontrar com Puzo), Frank Sinatra, Charles Bronson, Anthony Quinn, Ernest Borgnine, Burt Lancaster e Laurence Olivier.
Para o papel de Michael Corleone, Coppola sempre quis Al Pacino, um iniciante. O estúdio obrigou o diretor a testar vários atores – Martin Sheen, Dean Stockwell, Ryan O’Neal, Robert De Niro, David Carradine – e cogitou alguns astros como Alain Delon, Dustin Hoffman, Robert Redford, Warren Beatty e Jack Nicholson, mas Pacino acabou ficando com o papel. E John Cazale, que interpretou Fredo, também era iniciante e foi descoberto por um produtor do filme atuando numa peça em Nova York com Richard Dreyfuss.
“Estamos falidos!”
Francis Ford Coppola, não era a primeira opção da Paramount para dirigir o filme. Entre os cineastas preferidos pelo estúdio estavam Arthur Penn (Bonnie and Clyde), Richard Brooks (A Sangue Frio), Costa-Gavras (Z), Otto Preminger (Anatomia de um Crime), Peter Yates (Bullitt) e Sam Peckinpah (Meu Ódio Será Tua Herança). Na verdade, Coppola resistiu muito a embarcar na empreitada. Tinha acabado de montar sua produtora e queria fazer filmes pessoais, mas estava duro e precisava da grana. Em 1970, foi a um almoço na casa do amigo Walter Murch, editor e engenheiro de som, e ficou surpreso ao ver Aggie, esposa de Walter, concentrada na leitura do romance O Poderoso Chefão, de Mario Puzo. “Não consigo parar de ler”, disse Aggie. Coppola virou-se para outro amigo presente ao almoço, George Lucas, e perguntou: “George, devo fazer esse filme de gângster?” Lucas disse: “Francis, não recuse. Estamos falidos!”.
Em 1973, depois da explosão de O Poderoso Chefão, Coppola já não estava mais falido e pôde exigir da Paramount condições melhores para filmar a sequência. O novo longa teria um enredo intrincado, com duas linhas temporais paralelas: uma, iniciada em 1958 e que mostrava a história do novo chefão da família Corleone, Michael (Al Pacino), tentando manter o controle dos negócios em meio a disputas ferozes com famílias rivais. A segunda linha voltava no tempo para mostrar a saga do patriarca Vito Corleone (Marlon Brando no primeiro filme e Robert De Niro no segundo, interpretando um Vito mais moço) na Sicília, sua chegada a Nova York e o início de seu império.
Uma das provas de que o novo filme tinha muito mais grana de produção do que o original é que a Paramount concordou em pagar a James Caan, que fizera o papel de Sonny Corleone e morrera no primeiro filme, o mesmo cachê que ganhou em O Poderoso Chefão para atuar em apenas uma cena no segundo filme, uma sequência em flashback mostrando uma festa familiar (Marlon Brando, que também morre no primeiro filme, concordou em filmar essa cena na sequência, mas não apareceu no dia da filmagem).
O Poderoso Chefão 2 tem cenas muito mais grandiosas do que o primeiro, incluindo uma longa sequência em Cuba, que foi filmada na República Dominicana. Diferentemente do que ocorreu no primeiro filme, Francis Ford Coppola teve muito mais liberdade criativa para rodar e editar o filme da maneira como quisesse, sem precisar pedir a bênção do estúdio a toda hora. O resultado é um clássico, possivelmente a melhor sequência da história do cinema, que superou o primeiro filme em número de indicações ao Oscar – onze – e ganhou seis estatuetas, incluindo Melhor Filme, Direção (Coppola) e Ator Coadjuvante (De Niro). Foi a primeira sequência a ganhar o Oscar de melhor filme, feito só igualado por O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei (2003).
O filme está disponível no Star+, Paramount+ e Globoplay, podendo também ser alugado via Apple TV, Amazon, Google Play e Microsoft.
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