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Cena do sucesso de bilheteria 'Sound of Freedom', que trata do combate à exploração sexual infantil.
Cena do sucesso de bilheteria ‘Sound of Freedom’, que trata do combate à exploração sexual infantil.| Foto: Divulgação/Angel Studios

A produção independente 'Sound of Freedom' [Som da Liberdade, em tradução livre, ainda sem título oficial em português] superou 'Indiana Jones' nas bilheterias durante o fim de semana do Dia da Independência nos Estados Unidos. Os orçamentos de ambos não se comparam, mas Davi venceu Golias e isso é uma bênção no mundo hoje.

O filme trata do tráfico sexual de crianças – não é exatamente um entretenimento para as férias de verão. Confesso que fiquei grata por poder assisti-lo em meu computador e dar pausa para me afastar em alguns momentos. O diretor fez um bom trabalho em não mostrar muito, porém o tema em si é forte demais. Todos nós devemos nos indignar com a ideia de que pessoas abusam de crianças, mas precisamos saber como isso funciona para podermos fazer algo a respeito.

'Sound of Freedom' tem sido atacado como propaganda alarmista de direita, pois tanto o ator principal, Jim Caviezel, quanto Tim Ballard, o ex-agente do Departamento de Segurança Interna que ele interpreta, foram criticados por falas questionáveis em entrevistas ao longo dos anos. Mas sou agradecida a ambos. Eles estão fazendo mais do que eu. E o filme não me parece uma propaganda para a organização de Ballard, mas sim um alerta sobre algo que está acontecendo no mundo hoje.

A revista Rolling Stone atacou o longa definindo-o como "um filme de super-herói para pais com cérebros infectados". Diz o texto: "As situações dramáticas podem ser boas para o entretenimento, mas, na vida real, o processo de ajudar sobreviventes do tráfico é muito mais longo e complicado". Bem, claro que é. Mas 'Sound of Freedom' não é um documentário. Bem-vindo a Hollywood.

Deb O'Hara-Rusckowski é uma enfermeira de cuidados intensivos que cofundou a organização Global Strategic Operatives for the Eradication of Human Trafficking [Agentes Estratégicos Globais para a Erradicação do Tráfico Humano, em tradução livre]. Delegada da Ordem de Malta nas Nações Unidas, O'Hara-Rusckowski está abrindo uma casa segura em Massachusetts para mulheres e meninas que foram vítimas de tráfico. E se elas estiverem grávidas ou tiverem filhos, há freiras na Nigéria que as receberão com seus filhos.

A vulnerabilidade e a desesperança podem levar meninas e mulheres aos braços dos traficantes. Nos últimos 12 anos, a enfermeira tem se concentrado em treinar profissionais de saúde para reconhecer os sinais do tráfico – 750 mil pessoas, de seguranças a atendentes de estacionamento, passaram pelo treinamento.

Segundo sua experiência – e de acordo com pesquisas baseadas em evidências – as meninas e mulheres traficadas frequentemente precisam de cuidados médicos. Às vezes, uma mulher chega com um osso quebrado devido a uma agressão. Ou uma menina contrai uma infecção devido ao trabalho sexual em que estava envolvida. Outros grupos treinam funcionários de companhias aéreas e do setor hoteleiro para reconhecer os sinais de tráfico.

O'Hara-Rusckowski enfatiza que também são necessárias casas seguras para meninos. "Eles sentem uma vergonha particular, e precisam de cura depois de escapar ou serem resgatados", diz.

Uma das qualidades de 'Sound of Freedom' é mostrar que não é preciso ser Satanás para usar crianças. Pessoas "comuns" podem se envolver nisso. Uma das cenas mais chocantes do filme envolve um agressor explicando como, depois de ter feito o que fez, percebeu que a garota com quem estava era muito mais jovem do que imaginava (ela tinha 14 anos).

O personagem fala da tristeza que viu nos olhos dela e de como percebeu que ele era a causa de sua dor. O agressor só queria se divertir, não estava pensando na outra pessoa, ou que aquela outra pessoa poderia ser uma criança – que havia sido vítima de tráfico sexual desde os seis anos de idade. Após ter esse entendimento, ele colabora para libertar crianças do tráfico, ajudando o personagem de Caviezel a armar uma emboscada.

Uma das críticas ao grupo de Ballard é que organizar esse tipo de cilada pode contribuir para criar demanda. Tenho minhas dúvidas sobre quantas pessoas se atraem de uma hora para outra por esse tipo de prática. E, infelizmente, coisas das quais não queremos falar, como pornografia, são portas de entrada para esses horrores.

O que os críticos ignoram é que 'Sound of Freedom' é uma oportunidade de falar sobre o que está acontecendo – e sobre como proteger melhor as crianças. Pessoas como O'Hara-Rusckowski estão fazendo esse trabalho. Precisamos apoiá-las.

Conheço um homem que foi ao México para adotar uma criança para ter relações sexuais. Sentei-me na mesma sala com ele um mês antes de sua prisão. Foi óbvio para mim que algo estava errado. Ainda me deixa doente pensar sobre isso. Rezo para que ele seja um caso isolado, mas o tráfico sexual não é uma teoria conspiratória. Gostaria que fosse.

Crianças estão sendo sexualizadas. E as consequências incluem danos graves que a maioria de nós provavelmente preferiria não saber. Mas como podemos desviar o olhar? Como podemos ignorar um filme quando as Nações Unidas e outras organizações dizem que existem 50 milhões de pessoas escravizadas no mundo hoje?

A tarefa de acabar com o tráfico sexual de crianças deve nos unir, independentemente de política, religião ou qualquer outra coisa. Os adultos devem ser adultos e proteger os inocentes – e sua inocência. O lema "Deixem a liberdade soar" não pode ser uma coisa do passado.

© 2023 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês: Child Sex Trafficking Is Not a Right-Wing Conspiracy Theory

Conteúdo editado por:Omar Godoy
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