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Há exatos 30 anos, um filme deixou público e crítica extasiados pela engenhosidade de seu roteiro: Os Suspeitos, de Bryan Singer. Escrito por Christopher McQuarrie, que depois viria a ter uma longa parceria com Tom Cruise, tendo escrito e dirigido Jack Reacher (2012) e quatro filmes da série Missão Impossível, incluindo o mais recente, Missão Impossível – O Acerto Final, Os Suspeitos trouxe uma história intrincada e narrada de maneira brilhante e inovadora.
O filme conta a história de cinco bandidos – Roger “Verbal” Kint (Kevin Spacey), Dean Keaton (Gabriel Byrne), Fred Fenster (Benicio Del Toro), Todd Hockney (Kevin Pollak) e Michael McManus (Stephen Baldwin) – que são reunidos numa linha policial como suspeitos de um assalto a um caminhão de carga em Nova York. Na cela da delegacia, os cinco resolvem cometer um roubo para desbaratar um esquema de propina paga a policiais e se vingar do Departamento de Polícia de Nova York.
A partir desse encontro casual – ou teria sido mesmo casual? – os cinco se envolvem com um misterioso advogado, Kobayashi (Pete Postlewaithe), que diz trabalhar para um chefão criminal chamado Keyser Söze, um homem que todos temem, mas ninguém nunca viu. A história dos cinco criminosos e de Söze é contada em flashback por “Verbal” numa delegacia, em depoimento a um policial, Dave Kujan (Chazz Palminteri) que há anos tenta descobrir o paradeiro de Keyser Söze.
A cada relato, novos contornos
A estrutura narrativa de “Os Suspeitos” deve muito a uma obra-prima realizada 45 anos antes: Rashomon, do japonês Akira Kurosawa. Neste filme, o assassinato de um samurai é contado por várias pessoas, cada uma com um ponto de vista diferente. A cada relato, a história ganha novos contornos, alguns contraditórios em relação a relatos anteriores. Rashomon é um filme que questiona o conceito de “verdade” e mostra que fatos têm múltiplas interpretações, dependendo do narrador.
Singer e McQuarrie haviam trabalhado juntos no filme de estreia de Singer, o bom Public Access, que foi exibido em 1993 no Festival de Sundance e chamou a atenção de Kevin Spacey. O ator então disse ao cineasta que adoraria trabalhar com ele. McQuarrie levou mais de um ano burilando o roteiro de Os Suspeitos, que passou por uma dezena de versões. Muitos estúdios recusaram o projeto por achar a história complicada demais.

De fato, no papel, a narrativa de Os Suspeitos pode parecer intrincada e densa. O filme tem muitos personagens e diversas subtramas, e tudo é mostrado em flashback durante o interrogatório de “Verbal” com o policial Kujan. Isso poderia resultar num filme mal costurado e de difícil compreensão, mas a forma como Singer conta a história, e a edição de John Ottman, um colaborador frequente do cineasta e que ganhou um Oscar em 2018 pelo filme do Queen, Bohemian Rhapsody, dão ao filme uma fluidez cativante.
Diálogos improvisados
Outro ponto alto de Os Suspeitos é a química do elenco. Foi uma produção ridiculamente barata – custou a bagatela de 6 milhões de dólares – e todos os atores e atrizes receberam salários muito abaixo do que costumavam ganhar, mas toparam por causa da força do roteiro e a chance de trabalhar num filme tão diferente. Al Pacino recusou o papel do detetive Kujan por ter acabado de fazer um filme policial – Fogo contra Fogo, de Michael Mann – e depois disse que estava muito arrependido da decisão.
Singer permitiu que todo o elenco improvisasse, e a famosa cena em que os cinco estão na linha policial foi marcada por “cacos” e diálogos que não estavam no roteiro. Quando Fenster (Benicio Del Toro) abre a boca, ninguém entende patavinas do que ele está falando, e todos caem na risada. Del Toro não havia avisado a ninguém – nem ao diretor – que falaria daquela maneira, e as risadas do elenco foram tão espontâneas que Singer deixou a cena daquela maneira na edição final.

Os Suspeitos foi um sucesso inesperado: rendeu 11 vezes seu orçamento e ganhou os dois Oscars a que foi indicado – Melhor Roteiro Adaptado para Christopher McQuarrie e Melhor Ator Coadjuvante para Kevin Spacey. Bryan Singer teve uma carreira de sucesso no cinema, dirigindo hits como X-Men e Bohemian Rhapsody, mas a verdade é que nunca fez um filme tão bom quanto Os Suspeitos.
- Os Suspeitos
- 1995
- 106 minutos
- Indicado para maiores de 14 anos
- Disponível para a locação e compra no streaming da Microsoft





