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Black Sabbath

Ozzy é amor: por que o metaleiro era mais da paz do que das trevas

Ozzy Osbourne: um artista e um homem paradoxal
Mural com imagem de Ozzy Osbourne em Birmingham recebe flores após sua morte (Foto: EFE)

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Morto aos 76 anos no último dia 22, Ozzy Osbourne escreveu uma trajetória como ícone do rock, e na vida pessoal, em que conviveu com anjos e demônios, guitarras pesadas e baladas de amor, rituais de loucura e gestos de ternura ao longo de cinco décadas como figura pública. 
 
E, talvez, a maior herança de John Michael Osbourne tenha sido a coragem de, até o fim, exibir-se com honestidade. O inglês foi uma figura complexa, bem mais profunda do que o estereótipo que o consagrou. Por trás do ícone sombrio, o cantor foi um homem contraditório, profundo, vulnerável — e, acredite, até mesmo religioso.  

Abaixo, em tópicos, mostramos como foi paradoxal o homem que personificou um estilo musical e amealhou milhões de fãs, e muitos detratores também, o tempo todo. 

O mito ocultista 

Nascido na cidade de Birmingham, na Inglaterra, o Black Sabbath foi associado ao ocultismo logo que ganhou projeção. Principalmente pela sonoridade sombria e letras que abordavam temas como magia, morte e forças ocultas.  

O próprio nome da banda, inspirado em um filme de terror, e a capa do primeiro disco, com uma figura misteriosa em um cenário assustador, também reforçavam essa imagem. E com seu vocal hipnótico e teatral, Ozzy tornou-se imediatamente o porta-voz do terror.

Posteriormente, em carreira solo, o vocalista alimentou essa relação. Algumas vezes, diretamente, como em Mr. Crowley, do álbum solo Blizzard of Ozz (1980), que falava sobre o ocultista Aleister Crowley.  

No entanto, os integrantes da banda sempre negaram tais vínculos que acabaram solidificados no imaginário popular. Pode-se dizer que o ocultismo foi mais uma lente simbólica do que uma prática real. 

Mensagens edificantes 

Os maiores sucessos do Black Sabbath, por exemplo, nada têm que possa ser relacionado às forças do mal. War Pigs é uma crítica à política e ao militarismo. Paranoid fala sobre a dor da alienação e da incompreensão emocional. E Iron Man pode ser resumida como uma trágica fábula futurista. 

No Black Sabbath ou na carreira solo de Ozzy, há também dezenas de canções que exaltam o amor, a vulnerabilidade e a esperança. Changes, composta ainda nos tempos de banda, é uma das baladas mais tocantes do rock dos anos 70, falando de arrependimento e mudança pessoal.  

Ozzy OsbourneOzzy, em entrevistas, sempre negou qualquer relação com o ocultismo Crédito: EFE (Foto: EFE)

Por sua vez, Mama, I’m Coming Home, do período como artista solo do cantor, é uma ode ao retorno, à saudade e ao perdão. Já No More Tears, apesar do título, é um grito contra a dor — não uma aceitação.  

Mesmo músicas que abordam temas duros, como Suicide Solution — que foi interpretada como apologia ao suicídio — segundo Ozzy foi escrita com a intenção de alertar para os riscos do alcoolismo, vício que quase destruiu sua vida. 

Gestos bizarros x atos de ternura  

Ao longo da carreira, o cantor protagonizou diversos episódios bizarros, que contribuíram para consolidar a imagem, especialmente no início, de roqueiro doidão inveterado. 

Em 1981, num evento da gravadora CBS, Ozzy foi ao encontro levando duas pombas vivas, como símbolos de paz. A ideia havia sido da equipe do cantor. Porém, bêbado e sob o efeito de drogas, ele mordeu a cabeça de um dos pássaros e a cuspiu no chão. 

No ano seguinte, outro momento de terror que entrou para a história. Desta vez, o vocalista abocanhou um morcego atirado ao palco que, depois, quando já era tarde demais, declarou ter pensado que era de mentira. 

Mas se Ozzy Osbourne parecia um mensageiro do caos, também era capaz de gestos de ternura e consideração. No competitivo cenário da música, não há quem não se derrame em elogios ao homem por trás do personagem. Aliás, parece não existir alguém que seja capaz de falar mal do inglês. 

O cantor mantinha laços afetivos profundos com amigos, colegas de banda e fãs. Costumava ser muito generoso, financeiramente, e utilizando de seu status, com quem cruzava o seu caminho. Ozzy era um homem sensível e grato aos que o apoiavam. 

Entre a escuridão e a luz 

Apesar da estética sombria e das referências a demônios e rituais, em entrevistas o vocalista reafirmava com frequência sua crença em Deus. No documentário God Bless Ozzy, o cantor aparece no camarim ajoelhado em oração.  

O inglês era um cristão não praticante, criado na Igreja da Inglaterra (ou Anglicana). Em sua autobiografia, lançada em 2009, Osbourne declarou que frequentava a escola bíblica dominical, em Birmingham, por influência da mãe. 

Em outro momento, o artista chegou a declarar que a associação ao ocultismo era somente mais uma construção cênica: “Não acredito nas coisas do mal. Não sou satanista. É somente um papel teatral que eu enceno”. 

Os relatos das pessoas que o conheceram pessoalmente sempre destacaram a bondade, o senso de humor e a espiritualidade de Ozzy Osbourne. Era como se a persona musical fosse apenas para provocar, entreter e desafiar convenções. 

Ozzy Osbourne, um metaleiro família  

A relação entre Ozzy e a esposa Sharon, no início dos anos 80, começou de forma turbulenta, marcada por brigas e o agravamento do vício em drogas e álcool do vocalista. Filha do empresário Don Arden, Sharon assumiu a carreira solo de Ozzy e foi decisiva para sua reabilitação pessoal e profissional. 

Com pulso firme e contatos no meio do rock, Sharon organizou turnês e montou uma banda sólida ao redor do marido. Ao longo do tempo, os dois construíram ao redor do artista um verdadeiro império musical, com discos de sucesso e merchandising. 

Ozzy OsbourneOzzy ao lado da esposa, Sharon, e dois de seus seis filhos Crédito: EFE (Foto: EPA)

Mais do que empresária, ela também foi o alicerce familiar: o casal teve três filhos e enfrentou décadas de altos e baixos, incluindo recaídas e problemas de saúde de Ozzy. No reality show The Osbournes, transmitido pela MTV de 2002 a 2005, a família foi transformada em celebridade global, com Ozzy exercendo o papel de um pai amoroso. 

O artista teve ainda outros três filhos, antes da relação com Sharon. Em testamento, Ozzy decidiu deixar sua fortuna, avaliada em mais de US$ 1,2 bilhão, dividida de forma igualitária entre os seis herdeiros e a esposa, em uma amostra do amor que expressou por todos.  

Vício x sobriedade 

Ozzy Osbourne foi, ao mesmo tempo, o ídolo que perdia o controle e o homem que, aos poucos, buscava reconstruir-se. Após anos de dependência química, escândalos e internações, ele falou abertamente sobre o impacto das drogas em sua saúde e mente. E a sinceridade com que narrava seus fracassos acabou conquistando ainda mais respeito.  

Em sua fase final de vida, especialmente após o diagnóstico de Mal de Parkinson, o cantor se mostrou mais frágil, mas também mais humano do que nunca. Sua performance derradeira, em julho de 2025, no show de despedida do Black Sabbath, foi marcada pela emoção e por um público em reverência não ao ícone do metal, mas também ao homem.

Ozzy OsbourneFãs prestam homenagem a Ozzy Osbourne Crédito: EFE (Foto: EFE)

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