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Documentário palestino

Ao premiar “Sem Chão”, Oscar legitimou peça de propaganda contra Israel

Produção dividida entre Palestina e Noruega, "Sem Chão", levou a estatueta de Melhor Documentário em Longa-metragem no Oscar 2025
Produção dividida entre Palestina e Noruega, "Sem Chão", levou a estatueta de Melhor Documentário em Longa-metragem no último Oscar (Foto: Divulgação Synapse)

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Sem Chão (No Other Land), documentário vencedor do Oscar 2025, já disponível para aluguel e compra nos principais serviços de streaming, tem uma grande virtude: a honestidade de não esconder seu propósito ativista em defesa dos palestinos contra os israelenses. É, antes de tudo, uma peça de propaganda instrumentalizando uma dramática e trágica realidade.

O filme hiperfoca na situação de conflito existente em Masafer Yatta, localizada nas colinas ao sul da Cisjordânia. De um lado, palestinos afirmam que suas famílias vivem ali há gerações, praticando a agricultura e o pastoreio, antes de Israel ocupar a área e tentar expulsá-los, ao que eles resistem com bravura e teimosia.

Do outro lado... Bem, se quiser saber as razões de Israel, o espectador terá de procurar em outro lugar. Para o filme, Israel é apenas um invasor opressor, injusto e impiedoso, cujos motivos pouco ou nada interessam.

Não tentar enganar o espectador, embalando militância em papel de jornalismo, é digno de aplauso nos dias atuais em que isso se tornou a norma. Mas é também o maior defeito de Sem Chão, pois reduz a complexidade do conflito entre Israel e palestinos a um maniqueísmo raso que, na prática, não vai além de reforçar o viés de quem defende a causa palestina.

Também por isso, pouco alcançará quem precisaria ser alcançado para que o seu próprio propósito ativista atinja sua finalidade. Para qualquer espectador minimamente informado, é óbvio que o caso de Masafer Yatta não tem como ser resolvido à parte do drama trágico muito maior e complexo que envolve a própria existência do Estado de Israel, a possível criação de um Estado Palestino e a extensão territorial de ambos.

Como é impossível que os ativistas ignorassem tal realidade, não há como escapar da conclusão de que seu objetivo é menos o de conseguir a permanência daquelas famílias na terra e mais o de usar seu drama como arma de propaganda em uma guerra que transcende aquela situação e que, inclusive, parece distante da compreensão daquelas pessoas sobre a real situação em que se encontram.

Fotografia é o que salva

Em determinada altura de Sem Chão, um dos seus criadores e personagem central, o ativista Basel Adra, diz: “Esta é uma história sobre poder”. Pode ser a história dos ativistas. Entretanto, não é a história daquelas famílias, cujo retrato no filme é o de sua impotência. O que faz com que, no fim das contas, aquelas pessoas pareçam ser mais instrumentalizadas do que defendidas.

É no retrato desta impotência que se encontra o melhor do documentário. Por sorte, havia artistas também entre os criadores. Rachel Szor (que é israelita, aliás) foi a responsável pela fotografia do filme, que é, de longe, a sua melhor parte. As escolhas de enquadramento nas cenas filmadas em cavernas ou a partir delas, intercalando planos abertos e fechados, somando-se ao enquadramento em plano geral no que parece ser mais um deserto do que uma terra fértil, tornando as vilas, as casas, as pessoas, ainda mais impotentes e inofensivas, impressiona muito mais e melhor do que os discursos e conversas entre os ativistas.

O documentário aborda conflito existente em Masafer Yatta, localizada nas colinas ao sul da CisjordâniaO documentário premiado aborda conflito existente em Masafer Yatta, localizada nas colinas ao sul da Cisjordânia (Foto: Divulgação Synapse)

Impressiona, mas não exatamente no sentido que os ativistas gostariam. A impotência e ingenuidade daquelas famílias despertam menos o desejo por justiça, por vingança, por ativismo do que a compaixão diante de um drama que parece insolúvel, de um destino trágico. No fim das contas, como o conflito é de cunho também religioso, o título do filme, que em tradução literal seria “Não Há Outra Terra”, ganha outra dimensão, de significado metafísico sobre a universal condição humana depois da expulsão do Jardim do Éden. Estamos destinados a viver e morrer neste vale de lágrimas causadas por nossos próprios erros, crimes e pecados, cuja única solução de fato é a misericórdia divina.

  • Sem Chão
  • 2024
  • 92 minutos
  • Indicado para maiores de 14 anos
  • Disponível no Claro TV+ e para locação e compra em Amazon e AppleTV

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