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Não é novidade alguém vir dizer que as pessoas com deficiência sofrem de uma falta dolorosa de representatividade na indústria do entretenimento, mas um novo estudo de Stacy Smith e seus colegas da Media, Diversity and Social Change Initiative lançou uma nova luz sobre o quanto Hollywood anda se saindo mal nesse quesito.

E esse último mergulho profundo de Smith sobre quais histórias têm o privilégio de serem contadas na telona nos oferece um lembrete importante: Uma falta de histórias sobre pessoas com deficiência significa uma visão mais estreita da vida em geral.

Smith e seus colegas acompanharam quem aparece e quem tem falas nos filmes mais populares lançados desde 2007. Em 2015, que foi o primeiro ano em que Smith analisou filmes pensando na representatividade de pessoas com deficiência, ela descobriu que apenas 2,4% dos personagens nos 100 filmes mais vistos, que não fossem papéis mudos ou anônimos, eram pessoas com deficiência. Temos aí uma lacuna significativa entre a ficção e a realidade, considerando que o censo descobriu em 2016 que 56,7 milhões de pessoas nos EUA, ou 18,7% da população, tem deficiências.

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Personagens com deficiência apareceram em 55 desses 100 filmes. E, dentre esses personagens, 61% deles tinham deficiências físicas, 37,1% tinham deficiências mentais ou cognitivas e 18,1% tinham deficiências de comunicação. Os personagens com deficiência eram predominantemente masculinos; apenas 19% deles eram mulheres.

Nesses filmes em que eles chegam a aparecer, personagens com deficiência têm também mais chances de serem relativamente marginalizados: 10 dos 100 filmes com maior bilheteria de 2015 contavam com personagens com deficiência no papel principal ou como coadjuvantes. Dos 11 filmes que Smith e seus colegas classificaram como filmes com um elenco composto, dois tinham personagens com deficiência como parte do núcleo principal.

Nas palavras, dolorosas de Smith e seus coautores:

“No geral, a vasta maioria dos personagens com deficiência aparecia em papéis coadjuvantes (54,3%) ou insubstanciais (32,4%)”.

Limitação

São óbvias algumas das consequências da exclusão de pessoas com deficiência de Hollywood. A falta de interesse da indústria do entretenimento por essas histórias faz com que as deficiências pareçam ser menos comuns do que são de fato. E sua tendência de contar histórias que dão ênfase à luta desses personagens com suas deficiências limitam a amplitude de coisas que pessoas com deficiência têm a liberdade de realizar na ficção. O resultado não é meramente que o número de papéis para os atores com deficiências acaba sendo muito limitado, mas também uma variedade igualmente limitada de papéis.

O relatório de Smith aponta ainda para outros indícios perturbadores na arte narrativa de Hollywood. Dentro desse número já pequeno de filmes com personagens com deficiências, apenas 2% desses personagens aparecem em filmes de animação. Em outras palavras, “Procurando Dory”, o filme da Pixar sobre uma peixinha com deficiências cognitivas, pode ter sido um sucesso imenso, mas, no mais, “o conteúdo que tem como público alvo o público mais jovem praticamente apaga esta comunidade”.

E a pobreza de imagens de pessoas com deficiência interage com outras das desigualdades, profundas e persistentes, de Hollywood.

Sub-representação

Pensemos em gênero, por exemplo. As mulheres já são sub-representadas no cinema: Dos 100 principais filmes de 2015, apenas 32% tinham mulheres em papel principal ou quase principal, e 31,4% dos personagens no geral eram mulheres.

Como apontei antes, essas proporções ficam ainda mais enviesadas quando se trata de personagens com deficiência. Como aponta Smith:

“Para mulheres, é evidente que a preferência de Hollywood é enviesada para favorecer juventude, beleza e capacidade”.

A falta de personagens mulheres com deficiência reforça a noção perniciosa de que mulheres com deficiência de alguma forma não são nem jovens, nem belas, nem capazes. E a exclusão geral de personagens mulheres com deficiência contribui para a definição já estreita de Hollywood de o que as mulheres são, qual a nossa aparência e o que podemos fazer.

De forma semelhante, a brancura predominante das pessoas ficcionais com deficiências sugere, ao mesmo tempo, que pessoas não-brancas não têm deficiências e que pessoas com deficiência não são afetadas pelos muitos problemas que afetam as pessoas não-brancas nos Estados Unidos.

Histórias sobre pessoas com deficiência não giram em torno apenas de uma comunidade ou questões de empregos para um grupo de pessoas. Como aponta o estudo de Smith, essas representações têm consequências para todos nós.

Vida real x Hollywood

Enquanto apenas 2,4% das pessoas representadas nos 100 filmes mais vistos de 2015 eram deficientes, o censo de 2016 mostrou que 18,7% da população americana tem deficiências. No Brasil, o índice é de 23,9% , segundo o censo de 2010

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