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Maluco beleza

“Raul: o Início, o Fim e o Meio” desvenda o que a minissérie não é capaz

Raul Seixas, que teria completado 80 anos em junho
Raul Seixas, que teria completado 80 anos se não tivesse partido em 1989 (Foto: Divulgação Paramount)

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Navegando pelas redes sociais é muito comum encontrar espectadores reclamando da minissérie Raul: Eu Sou, exibida pelo Globoplay desde 26 de junho. Não falta descontentamento com as interpretações nem com a falta de acuidade no relato de fatos acontecidos com Raul Seixas. Quem quiser um produto à prova de críticas para se informar sobre vida e obra de Raulzito, deve investir em Raul: o Início, o Fim e o Meio, que está em várias plataformas de streaming e também chegou no serviço da Globo.

Lançado em 2012, o documentário de Walter Carvalho dá conta de resumir a jornada cintilante do roqueiro baiano no cenário cultural brasileiro. Sem invencionices artísticas, o filme reúne depoimentos de quem foi próximo de Raul, imagens de arquivo e gravações raríssimas que são capazes de emocionar até mesmo quem não tem qualquer relação com a música do autor de Gita (sucesso que contém o verso que batiza o doc).

O nome de Raul voltou a ser muito comentado porque em 28 de junho ele teria completado 80 anos. Desde sua precoce partida, em 1989, não surgiu nenhum cantor que conseguisse um impacto sequer parecido com o dele no imaginário nacional. Ao mesmo que tempo em que era um outsider, um membro da sociedade alternativa, um totem contracultural, Raul conseguia vocalizar as angústias de muitos brasileiros, mesmo os que nem de longe levavam uma vida louca como a dele. Quem tem o mesmo poder hoje em dia?

A prova de que o músico tinha essa conexão com o Brasil profundo está no número de hits que ele acumulou nos anos 70 e 80. Metamorfose Ambulante, Ouro de Tolo, Maluco Beleza, A Maçã, Tente Outra Vez, Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás, Mosca na Sopa, Aluga-se, Rock das Aranhas, Carimbador Maluco, Cowboy Fora-da-Lei... O filme de Walter Carvalho passa por todas essas, dando destaque para os parceiros de Raul em cada caso.

O mago influente

Obviamente, Paulo Coelho tem uma participação imensa nessa sequência de êxitos. O documentário explica como o seguidor de Elvis Presley e o intelectual entraram em sintonia, revelando que as vinculações com o ocultismo vinham mais de Coelho. Aliás, o líder da seita macabra frequentada pela dupla diz que Coelho ainda não deu baixa em sua carteirinha, portanto ainda seria um satanista oficialmente. O escritor, que dá entrevista de sua casa na Suíça, ri ao saber desse protocolo.

As relações matrimoniais também são esmiuçadas no longa. Raul teve várias mulheres e filhas e quase todas lembram dele de maneira muito afetuosa, apesar do trabalho que ele deu a elas, especialmente quando seu alcoolismo virou uma pancreatite aliada a diabetes. Para quem quiser ter certeza do quão mal o consumo de bebidas e outras drogas pode fazer a um ser humano, Raul: o Início, o Fim e o Meio é o alerta perfeito.

O roqueiro Raul Seixas marcou a cultura popular brasileira nos anos 70 e 80Raul Seixas marcou a cultura popular brasileira nos anos 70 e 80 (Foto: Divulgação Globoplay)

Mesmo ao retratar a fase terminal do roqueiro, o documentário entrega passagens bonitas. A principal diz respeito aos 50 shows que Raul teve forças para fazer pouco antes de sua morte. A lenda foi resgatada pelo fã Marcelo Nova, do grupo Camisa de Vênus, que rodou o país reabilitando seu ídolo diante de plateias devotas, que entendiam que Raul estava nas últimas, mas merecia aquela homenagem final. Guardadas as proporções, lembra até o que fez Ozzy Osbourne no derradeiro show na cidade natal 14 dias antes de sua passagem.

O filme também tem cenas muito gozadas, como as que mostram seus covers e seguidores totalmente fora da casinha. As gravações dos discos eram cheias de doidices, com seus músicos em performances surreais, provando que Raul tinha um entorno tão perturbado das ideias quanto ele. Mas, controlando sua “maluquez”, misturada com sua lucidez, o baiano deu uma contribuição inestimável para o rock brasileiro e a cultura popular.

  • Raul: o Início, o Fim e o Meio
  • 2012
  • 128 minutos
  • Indicado para maiores de 14 anos
  • Disponível na Netflix, Paramount+, Telecine, Claro TV+ e para compra em Apple TV+

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