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Wallace & Gromit – Avengança

Animação dos criadores de “A Fuga das Galinhas” zomba de inteligência artificial

Em novo filme, Wallace e Gromit enfrentam inteligência artificial
Em novo filme, Wallace e Gromit enfrentam uma inteligência artificial (Foto: Netflix/Aardman/Divulgação)

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Como já dizia o ditado, o cachorro é o melhor amigo do homem. Na animação disponível na Netflix e indicada ao Oscar Wallace & Gromit – Avengança, cabe ao animal o papel de grande herói. É ele quem alerta o dono dos riscos de substituir o trabalho da humanidade por uma máquina alimentada por inteligência artificial. O tema é um prato cheio para um debate que envolve o próprio futuro de estúdios como a Aardman, que desde 1989 traz a dupla Wallace e Gromit à vida por meio da arte do stop-motion.

Vale explicar quem são esses personagens, os mais importantes na história da animação britânica, marcada por sucessos como A Fuga das Galinhas e  Shaun, o Carneiro. A dupla fez sua primeira aparição no curta A Grand Day Out (1989)com um roteiro que já estabelecia a relação de absurdo que mantém a série viva até hoje. Ao perceber que a geladeira estava sem queijo para comer com biscoitos e chá, Wallace (um inventor igualmente tapado e genial) decide que seria uma boa ideia construir um foguete para a lua, afinal ela é feita de queijo, não é mesmo? O cachorro, Gromit, embarca na jornada, mas sempre se coloca como a voz do bom-senso, ainda que seja totalmente mudo.

A partir dessa produção, a saga dos dois cresceu e rendeu outros três curtas e um longa-metragem que mergulham de cabeça no humor nonsense, típico de britânicos que se inspiram na trupe Monty Python. O surpreendente é que todos esses lançamentos ganharam indicações ao Oscar, ou na categoria de Melhor Curta-metragem de Animação ou Melhor Longa-metragem de Animação. Dessa forma, a presença de Wallace & Gromit – Avengança na premiação deste ano, além de esperada, reforça um reconhecimento já muito bem estabelecido.

Pinguim galináceo

O novo filme acompanha a dupla em uma saga contra Norbot, uma invenção de Wallace que deu errado. O simpático gnomo de jardim foi criado para ajudar Gromit nos cuidados com o quintal, mas desde o início mostra a frieza comum de uma máquina. Ele tira toda a beleza do trabalho manual do cão e deixa as árvores e flores com aspecto quadrado e sem vida. Wallace, encantado com a eficiência do robô, ignora os alertas de seu fiel companheiro. 

Paralelamente, a história apresenta o vilão do filme: Feathers McGraw, o pinguim que já enfrentou a dupla no curta Wallace & Gromit: As Calças Erradas (1993), vencedor do Oscar. Determinado a se vingar, ele assume novamente uma identidade disfarçada — colocando uma luva vermelha na cabeça para se passar por uma galinha — e invade a IA que controla Norbot. O trocadilho no título do filme (Avengança, combinando "vingança" e "ave") reforça essa conexão com a trama anterior.

Nada aparece por acaso no roteiro. Pouco após a estreia, os diretores Nick Park e Merlin Crossingham explicaram à BBC o processo de criação do novo longa. “O stop-motion é um dos mais antigos ofícios do cinema... O tempo que gastamos para fazer isso engloba um processo de cinco anos e um grande esforço em time”, revelou Crossingham.  

Criador de Wallace & Gromit, Park complementou: “Em uma semana boa de trabalho, conseguimos fazer um minuto do filme”. Ele também disse que sua equipe abraçou muitas tecnologias inovadoras de pós-produção, o que explica algumas cenas, que possuem iluminações e movimentos quase perfeitos dos personagens de “massinha”. O filme não usa IA, justamente pela aposta da equipe nesse formato tradicional.

Arte ameaçada

Mas quem fica parado é estátua. Por meio de seu cofundador, Peter Lord, a Aardman assumiu que tem “brincado” com Inteligência artificialEm uma conversa de 2023 com a publicação Radio Times, Lord cravou: “Se o mundo avançar tanto o ponto de ninguém mais se importar com o stop-motion, nós nos adaptaremos. Enquanto as pessoas quiserem, continuaremos fazendo o que fazemos tão bem. E ainda seguiremos oferecendo isso a elas mesmo que elas não saibam que querem.”  

Isso indica que o futuro dessa arte depende do sucesso de Wallace & Gromit – Avengança no streaming e no Oscar, onde enfrentará candidatos como Flow, Divertida Mente 2 Robô Selvagem. E o cenário não parece muito positivo. Dentro da própria premiação, por exemplo, uma das grandes polêmicas é a do uso de IA para refinar a pronúncia do ator Adrien Brody em cenas de O Brutalista. 

Já no Grammy, que aconteceu domingo (2), os Beatles ganharam o prêmio de Melhor Performance de Rock pela inédita Now and Then, que usou do artifício para trazer a voz de John Lennon do além. Com isso, veio um questionamento muito válido: será que essa tecnologia inovadora, assim como o gnomo Norbot, veio para ficar eternamente no caminho entre a arte e a alma humana?   

Provavelmente, não. Mas a presença de Wallace & Gromit – Avengança no Oscar é um lembrete para que a indústria não deixe de valorizar artistas que colocam a mão na massa. Afinal, uma das coisas mais impressionantes no stop-motion é conseguir ver as digitais dos escultores nos bonequinhos que se mexem na tela. 

  • Wallace & Gromit – Avengança 
  • 2024 
  • 82 minutos 
  • Indicado para maiores de 10 anos 
  • Disponível na Netflix 

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