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Uma parcela menos exigente das pessoas que foram ao cinema na primeira semana de exibição de Amores Materialistas ficou decepcionada. Pelo trailer e pela campanha promovida pela Sony, parecia que o segundo filme da sul-coreana criada no Canadá Celine Song não passaria de uma convencional comédia romântica para desopilar. Houve até uma “batalha de hashtags” em que os futuros espectadores eram instados a decidir se eram “team Chris Evans” ou “team Pedro Pascal”, os atores que “rivalizam na luta pelo coração” da personagem vivida por Dakota Johnson.
Sorte que essa tolice publicitária não tem nada a ver com a essência de Amores Materialistas, um dos grandes filmes de 2025. Quem tinha familiaridade com o primeiro trabalho escrito e dirigido por Celine, o soberbo Vidas Passadas, imaginava que a coreana não iria entregar um segundo trabalho oco ou boboca, apenas para entreter as massas. E ela não entregou mesmo. Apesar de mais leve do que sua estreia, Amores Materialistas levanta bons debates sobre o que é o amor em tempos de relacionamentos frívolos, em que os parceiros são escolhidos por características pouco relevantes para a construção de algo sólido.
A protagonista é Lucy, uma atriz fracassada que ganha o seu pão numa agência que ajuda nova-iorquinos abastados a encontrarem seus pares. Ela é admirada dentro da firma porque seus encontros já redundaram em nove casamentos. Lucy estabelece conexões como no Tinder e aplicativos do tipo, só que realizando entrevistas ao vivo com os interessados e acompanhando a evolução de cada caso.
Aqui vale mencionar que Celine Song, antes de deslanchar no universo audiovisual, trabalhou durante seis meses numa agência que fazia a mesma coisa. Assim como Vidas Passadas contava uma etapa de sua vida – um namoro juvenil em Seul que anos depois virou um reencontro em Nova York, quando ela já era casada –, Amores Materialistas traz mais um pouco das suas vivências e reflexões na vida real. É até de se questionar se ela terá êxito quando se propuser a se filmar algo que não experimentou de fato. Mas, até o momento, não dá para reclamar do saldo positivo de sua filmografia.
Amadurecendo na marra
Numa festa de casamento, Lucy esbarra com Harry (Pascal), o irmão do noivo. Rico, inteligente, cordial, bonito e alto, o homem tem as características que o transformariam num unicórnio na agência da casamenteira. Por isso mesmo, ela tenta virar sua cupido. Porém, o interesse de Harry é na própria Lucy.
No mesmo casamento, John (Evans), que por cinco anos namorou Lucy, reencontra a ex e, em poucas cenas, fica claro que o namoro dos dois foi especial. Eles compartilham lembranças, odores e demonstram que seguiram servindo de “ombro amigo” mesmo depois do término. Pena que John segue quebrado financeiramente como antes, perseguindo a carreira de ator e fazendo bicos como naquele casamento, em que trabalhava como garçom.

Graças à entrada dessas duas figuras em sua rotina e a uma conexão entre clientes de sua agência que dá muito errado, Lucy passa a questionar o que realmente tem valor num relacionamento e onde o amor entra nisso. É aí que Amores Materialistas revela toda sua beleza e profundidade, ainda que com uma ou outra cena divertida aqui e acolá. É impossível não se emocionar com os descobrimentos que Lucy faz nessa etapa, como se seu amadurecimento carecesse de um dilema para aflorar.
A instituição do casamento é bastante valorizada no filme, ainda que não haja nenhuma conversa sobre Deus ou religião. Também não há qualquer cena de sexo ou nudez, o que reforça que Celine não tinha qualquer interesse em apelar, contrariando as ações da produtora de Amores Materialistas. O título também pode enganar quem o ler como uma ode aos relacionamentos movidos por interesses mundanos. A coreana pega o espectador pela mão e o leva para uma jornada de volta para o sentido real do amor e da união entre duas pessoas de sexos opostos.
- Amores Materialistas
- 2025
- 117 minutos
- Indicado para maiores de 14 anos
- Em cartaz nos cinemas





