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Para quem cresceu ouvindo rádio nos anos 1980, havia dois nomes inescapáveis: Michael Sullivan e Paulo Massadas. Desde que estouraram, em 1983, com Me Dê Motivo, clássica balada de dor de corno eternizada por Tim Maia, esses dois compositores – conhecidos como a dupla Sullivan & Massadas – dominaram a música brasileira por mais de uma década. Era impossível ligar o rádio e não ouvir algum sucesso com a assinatura dos dois.
A lista de hits era impressionante: Um Dia de Domingo (Tim Maia e Gal Costa), Whisky a Go Go (Roupa Nova), Deslizes (Fagner), Lua de Cristal (Xuxa), Talismã (Leandro e Leonardo), Retratos e Canções (Sandra de Sá), Amanhã Talvez (Joanna), Amor Perfeito (Roberto Carlos), Estranha Loucura (Alcione) e incontáveis sucessos de José Augusto, Fafá de Belém, Rosana, Trem da Alegria e muitos, mas muitos outros. O sucesso cobrou um preço alto: esse monopólio das paradas de sucesso rendeu à dupla muitas críticas da mídia e de colegas de profissão. Muita gente dizia que Sullivan e Massadas haviam promovido uma queda de qualidade da música brasileira.
Em 2011, quando eu pesquisava para meu livro Pavões Misteriosos, sobre a música brasileira dos anos 1970 e 1980, tive a chance de entrevistar Michael Sullivan e Paulo Massadas. Eles estavam separados havia quase duas décadas e Massadas morava na Califórnia. Fiquei muito emocionado com as entrevistas e com as revelações sobre as histórias pessoais de cada um – Sullivan se chamava Ivanilton e era de uma família paupérrima da Zona da Mata de Pernambuco, enquanto Massadas era do subúrbio do Rio de Janeiro e cresceu tocando em bailes – que pensei em fazer um livro contando a história da dupla.
O projeto levou quase dez anos para sair do papel e, no processo, modificou-se: no lugar de um livro, decidi fazer uma série documental para TV depois que o serviço de streaming Globoplay se interessou pelo projeto. As filmagens deveriam começar em março de 2020, mas foram adiadas devido à pandemia. Acabamos rodando a série em plena onda da Covid-19, tomando todas as providências e cuidados com as exigências sanitárias.
Todo mundo quis participar
A importância da dupla ficou evidente quando nossos pedidos de entrevistas começaram a ser aceitos. Nomes de peso da música brasileira como Gal Costa, Alcione, Fagner, Robertinho de Recife, Hyldon, Zeca Baleiro e Chico César fizeram fila para dar depoimentos, e até ícones como Roberto Carlos e Xuxa, que raramente concedem entrevistas, toparam falar sobre Sullivan e Massadas. O todo-poderoso diretor da Globo, Boni, falou sobre a importância das músicas da dupla para as trilhas de novelas da Rede Globo.
A série, Sullivan & Massadas – Retratos e Canções estreou em março de 2024 no Globoplay e foi muito bem recebida. Com cinco episódios, contava toda a história de vida da dupla, antes de se conhecerem e depois que firmaram a parceria de maior sucesso comercial dos anos 1980 e 1990. Nesse tempo, compuseram cerca de 700 canções juntos. “E pelo menos cem são hits incontestáveis”, disse Sullivan na série.

O quinto e último episódio reuniu artistas mais novos reinterpretando clássicos de Sullivan & Massadas. Foi muito legal dirigir a dupla Anavitória cantando Amor Perfeito, megassucesso na voz de Roberto Carlos, o sambista Ferrugem fazendo uma versão de Talismã e Alice Caymmi interpretando Estranha Loucura, hit de Alcione.
Mas divertido mesmo foi ouvir a dupla contando “causos” lendários, como Tim Maia ouvindo um jingle que a dupla havia escrito para a Rádio Bandeirantes e ligando aos prantos para Sullivan exigindo gravar a música, que virou o sucesso Leva, ou as brigas de Tim e Gal durante as gravações de Um Dia de Domingo (que gravaram separadamente!) Ouvir isso das bocas de Sullivan & Massadas não tem preço.
- Sullivan & Massadas – Retratos e Canções
- 2024
- 5 episódios
- Classificação indicativa livre
- Disponível no Globoplay
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