Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Com Jim Carrey

Seis vezes em que o filme “O Show de Truman” antecipou o futuro

Truman Burbank em O Show de Truman.
Em O Show de Truman, só o personagem principal não sabia de nada. (Foto: Divulgação/Netflix)

Ouça este conteúdo

Estrelado por Jim Carrey, até então apenas o careteiro das comédias Ace Ventura, O Máscara e Debi & Lóide, o Show de Truman - O Show da Vida foi celebrado, à época do lançamento, em 1998, como a primeira investida do canadense como um ator, digamos, dramático, sério, adulto. Com o passar dos anos, entretanto, o excelente filme dirigido pelo australiano Peter Weir, foi se estabelecendo como uma coleção impressionante de profecias sobre a sociedade do espetáculo e o tempo em que vivemos.   

A trama é sobre a trajetória de Truman Burbank, um bom homem. Bom filho, bom marido, bom amigo, bom colega de trabalho e bom vizinho. A grande sacada do roteiro é que o personagem de Carrey (ainda careteiro, mas menos, ok) vive, sem saber, dentro de um programa televisivo de enorme sucesso.  

Truman nasceu sob as câmeras e, desde o primeiro dia de existência, é filmado 24 horas por dia. Até mesmo quando está, inocentemente, dormindo. Todos à sua volta, incluindo sua mãe e esposa, são atores,e tudo o que acontece é encenação. A harmoniosa cidade de Seahaven, ambientada nos subúrbios americanos dos anos 50 e 60, é um gigantesco cenário. Só o bom camarada Burbank não desconfia de absolutamente nada.   

Note que O Show de Truman estreou nos cinemas no ano anterior da estreia do Big Brother, reality show criado na Holanda e veiculado no país em 1999. Antecipar a febre mundial pelas atrações com pessoas reais, confinadas ou não, é só a mais óbvia previsão do filme de Weir, que fez também Sociedade dos Poetas Mortos. Mas há vários outros lances visionários na obra que foi indicada a três Oscars, não levou nenhum, e faturou três Globos de Ouro. Listamos os principais abaixo:  

Entretenimento da vida real (ou nem tanto)  

Como já dito, o programa Big Brother original, produção holandesa, foi lançado em 1999. No Brasil, chegou em 2002 e, aparentemente, nunca mais vai embora. E ainda no começo dos anos 2000, os reality shows passaram a dominar a grade das emissoras e a quase monopolizar a atenção do público no planeta todo. Fenômeno popular que é mostrado em O Show de Truman, sucesso estrondoso de audiência na fictícia televisão americana. Tamanho fascínio das pessoas pela vida real (vida real mesmo? Bem, essa é outra discussão) que se desdobrou em formatos os mais diversos, com anônimos e famosos, e apelos diferentes, de concursos culinários, como o irresistível MasterChef, a constrangedoras gincanas selvagens, como Largados e Pelados (sim, tem isso).    

Ascensão da cultura da vigilância  

Truman é observado diuturnamente por câmeras escondidas, instaladas em todos os buracos possíveis, em postes, rodapés, até atrás do espelho do banheiro, onde o personagem escova os dentes e faz profundas reflexões. Atualmente, parece não haver um canto das cidades grandes onde uma câmera de vigilância não esteja operando. Do ponto de vista da segurança, as cidades investem também cada vez mais nas chamadas “muralhas digitais”, capazes de gravar crimes e perceber, por videomonitoramento, a passagem de pessoas procuradas pela Justiça. Nós já descobrimos, ainda, que os celulares ouvem e registram tudo que é falado por perto. E será que as conversas realizadas em vídeo também são gravadas e armazenadas? 

Exposição desmedida

O Show de Truman explora abertamente, sem qualquer limite, a exposição da intimidade do personagem principal. Discussão levada ao cinema anos antes do surgimento das redes sociais (o Orkut, por exemplo, desembarcou no Brasil somente em 2004). E se o personagem de Carrey não fazia ideia de que era exposto, na Era Digital os usuários do Instagram, Facebook, TikTok, enfim, exibem detalhes da própria vida por livre e espontânea vontade, e normalmente sem faturar um pila. E mais recentemente, tornou-se obrigatório criar uma persona digital para qualquer profissão, de jornalista a pedreiro. Se você não aparece na internet, a impressão é que não existe. 

Publicidade invasiva 

O merchandising é inserido na rotina do protagonista o tempo todo. Numa cena, por exemplo, a mulher de Truman, Meryl, vivida pela atriz Laura Linney, faz propaganda de um achocolatado chamado Mococoa durante uma briga familiar. Corta para os dias atuais e as inserções comerciais em novelas já soam até inocentes se considerarmos a explosão do marketing de influência nas redes, publiposts, jabás os mais diversos. Ninguém mais sabe se determinada pessoa está elogiando o que quer que seja sinceramente, ou se está faturando algum para fazer propaganda indireta. 

Algoritmos e as “bolhas” 

A vida de Truman é moldada a partir do que está à sua volta, e tudo é cenário, todas as interações sociais são fakes. Para não ter despertado o desejo de viajar, por exemplo, o personagem é impactado, explicitamente, sobre os terríveis perigos de subir num avião (vai que um raio derruba a aeronave?). Tal perspectiva pode ser comparada com a influência dos algoritmos e, claro, da mídia de uma forma geral, na percepção da opinião pública.  

Espetacularização da vida e falsa espontaneidade  

O Show de Truman é um triunfo estrondoso de audiência. Nos bares, na delegacia, até mesmo na banheira, o público segue, mesmerizado, o dia a dia de um sujeito qualquer. Fenômeno semelhante é verificado nas redes sociais: anônimos, subcelebridades e celebridades simulam o próprio cotidiano, tudo roteirizado para ganhar o engajamento da plateia.

  • O Show de Truman  
  • 1998  
  • 103 minutos  
  • Indicado para maiores de 16 anos  
  • Disponível na Netflix, Prime Video (para locação), YouTube Filmes (para compra ou locação)

VEJA TAMBÉM:

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.