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O Mossad não conseguiria atingir os líderes iranianos com tanta precisão e agilidade se não obtivesse ajuda do próprio povo iraniano que, mesmo sob o risco de morte, prefere estender a mão a Israel a continuar cúmplice do regime de opressão dos aiatolás. Essa estratégia de guerra tem sido tão humilhante para a tirania iraniana que o Apple TV+, em parceria com canais israelenses, produziu ainda em 2020 a série Teerã para expor, sob a forma de ficção, suas vitórias dentro do campo político inimigo.
Teerã é uma aula de geopolítica contemporânea sob o manto de um thriller de espionagem. Assim sendo, expõe o conflito entre o aparato totalitário dos aiatolás e a resistência de cidadãos iranianos que não compactuam com a opressão do regime. Para além de uma história de espiões, Teerã evidencia: nem todo iraniano é anti-Israel e muitos, inclusive, veem no Estado judeu uma esperança de libertação.
A aliança improvável revelada pela série se alinha com o discurso do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que, em pronunciamento direcionado diretamente ao povo iraniano na última semana, apontou como “o verdadeiro inimigo comum o regime tirânico que os oprime há décadas”.
Até o The New York Times mencionou a série
Thomas L. Friedman, colunista do New York Times, ao analisar a guerra entre Irã e Israel defendeu a possibilidade de uma reação em cadeia que leve à queda do regime iraniano e à sua substituição por um governo mais “decente, laico e baseado em consenso”. Em seus argumentos, ele menciona a facilidade de Israel para “recrutar agentes dentro do governo e das Forças Armadas iranianas, inclusive nos níveis mais altos”.
Friedman ainda cita a obra da Apple TV+: “O que se aprende com essa série — e que também é verdade na vida real — é quantos funcionários iranianos estão dispostos a trabalhar para Israel, tamanha é a aversão que sentem por seu próprio governo”.
Premiada com o Emmy Internacional de Melhor Série Dramática e com sucesso no Rotten Tomatoes (com índice de aprovação de 88%), Teerã conta com duas temporadas no streaming.
No entanto, a estreia da terceira temporada permanece adiada fora de Israel, onde já foi exibida entre dezembro de 2024 e janeiro de 2025 pela emissora estatal Kan 11. Nos demais países, os novos episódios ainda não foram liberados no streaming dado o agravamento do conflito entre Irã e Israel, justamente visando evitar a sobreposição entre a ficção e os eventos reais para a opinião pública.
O verdadeiro Irã por trás do regime
A trama gira em torno de Tamar Rabinyan (Niv Sultan), uma agente do Mossad, o serviço secreto israelense, que é enviada a Teerã em uma missão de alto risco. Filha de iranianos que emigraram para Israel, Tamar é a heroína que arrisca a própria vida para libertar o país. Interessante, portanto, é a forma como a população civil iraniana, especialmente os jovens, é retratada: insatisfeita, vigiada, e ao mesmo tempo sedenta por liberdade, ainda que isso signifique colaborar com os considerados “inimigos sionistas”.
Há que se fazer a ressalva de que o tipo de liberdade que eles apresentam seria para usar drogas, fazer sexo casual e vestir roupas ocidentais (para mulheres). Apesar disso, o Irã retratado na tela não é o país das propagandas oficiais: é um Estado policialesco, onde mulheres são açoitadas por tirarem o véu, onde dissidentes desaparecem, onde a Internet é censurada e o medo permeia as relações sociais.
Quando a ficção explica a estratégia
A riqueza de Teerã reside justamente em humanizar todos os lados, sem ignorar os males que os afligem. A protagonista, apesar de ser agente de uma operação arriscada, carrega dilemas éticos e não se mostra imune aos efeitos colaterais da guerra de informações.

Ainda assim, o seriado não nega a existência de um sentimento nacionalista. Ao contrário, ele distingue claramente o amor à pátria do culto à ditadura teocrática. Muitos dos que se arriscam a ajudar Israel não o fazem por interesse financeiro, mas por convicção moral.
Em suma, Teerã recorda que os verdadeiros inimigos da paz são os regimes algozes do seu próprio povo, que mentem para o mundo e que investem em terrorismo internacional. Ao mostrar que iranianos descontentes com a ditadura podem se aliar a Israel, a série derruba o mito da inimizade inevitável entre os povos. Em vez disso, sugere que há uma guerra entre liberdade e tirania — e que nessa guerra, a coragem de indivíduos pode mudar o rumo da História.
- Teerã
- 2020
- 16 episódios
- Indicada para maiores de 16 anos
- Disponível no Apple TV+
Conteúdo editado por: Jones Rossi






