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 | Arquivo da família/
| Foto: Arquivo da família/

Tornar melhores os lugares por onde passasse era uma espécie de mantra que Aglae Taborda Ribas Dutra, falecida em fevereiro deste ano, não apenas seguia, como transferia para as pessoas mais jovens. Permitir que tirassem fotos suas era raridade e fazia de tudo para não revelar a idade, mas é permitido escrever que formou-se médica pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) na metade do século, uma época em que a mera ideia de uma mulher cuja profissão incluísse a possibilidade de tocar em um homem causava desconforto na maior parte das famílias tradicionais paranaenses.

Descumprindo a orientação do pai, fez inscrição para o vestibular de Medicina em vez de Odontologia. Nesse período, ela já trabalhava como professora normalista em São José dos Pinhais, onde morava com a família, e em Curitiba. A distância entre os dois locais e a necessidade de trabalhar não impediam que seguisse uma rotina dedicada aos estudos, aproveitando todo o tempo hábil para isso, como os trajetos de ônibus entre uma cidade e outra. Levou consigo para a empreitada na universidade seu companheiro de vida e futuro marido, Luiz Vergés Dutra. Conheceram-se numa escola em que ambos trabalhavam, ele como inspetor de ensino. Foi Aglae a responsável por conduzi-lo à formação universitária em Direito.

Assim que as condições financeiras foram favoráveis, passaram a morar na cidade que fazia o coração de Aglae bater mais forte, Curitiba. Não podia ficar uma semana longe do petit-pavê que já reclamava de saudade. Exerceu a clínica médica e a ginecologia e obstetrícia, concentrando em si mesma o apoio incondicional às mães pacientes, mesmo que os trabalhos de parto durassem a noite toda. A filha e também médica Ivone Taborda Dutra Martins lembra que acontecia de, no meio de uma viagem, a família tinha que retornar para que a mãe atendesse um paciente em necessidade. “Foi uma mãe maravilhosa, nossa conexão era muito forte. O tempo que passamos juntas pode não ter sido tão grande em quantidade, porque ela era muito dedicada à profissão, mas foi de alta qualidade”, conta.

Teve em casa o exemplo de mulher forte que seguiria e passaria à filha e à neta. A mãe de Aglae, a professora Dolores Ribeiro, foi o incentivo vivo para que os seis filhos estudassem e seguissem carreira universitária apesar das dificuldades. Ela levava os estudantes que não estivessem se saindo tão bem na escola quanto poderiam para a própria casa, onde recebiam reforço gratuito com as filhas. Como médica, Aglae passava os finais de semana, muitas vezes em companhia da filha, na época com cerca de 5 anos, na antiga Casa do Pequeno Jornaleiro de Curitiba, entidade que recebia crianças que precisassem de apoio. No tempo em que atendia em uma delegacia, levava os filhos das mulheres que estivessem presas para casa, para que pudessem brincar enquanto a situação se resolvia.

Depois de aposentada, no início dos anos 90, continuou se atualizando no estudo da medicina, mas também passou a se dedicar a vários hobbies, como ler e assistir a histórias de aventura – seu gênero de ficção preferido –, a ser adorada pelos cães da família – apesar de não serem propriamente dela, os animais a adotavam como dona – e a brincar com ferramentas tecnológicas, como a edição de fotos no computador. Deixa a filha, uma neta e um neto.

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