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Calçadão da Rua XV de Novembro em Curitiba na pandemia.| Foto: Gerson klaina/Tribuna do Paraná

Curitiba apresenta neste início de agosto um cenário que se assemelha aos períodos que antecederam os dois piores picos da pandemia de Covid-19. A alta no número de novos casos e na taxa de transmissão da doença foi classificada como preocupante por especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo, que pedem para que a população evite as aglomerações e deixe de se comportar “como se a pandemia tivesse acabado”.

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A média móvel de novos casos confirmados diariamente está atualmente na casa dos 530 pacientes. O número é quase 14% maior do que o registrado há 14 dias, e mostra uma tendência de aceleração vista anteriormente no fim de fevereiro deste ano e em novembro de 2020. Desde a sexta-feira passada (6) são mais de 500 novas confirmações de Covid-19 todos os dias na capital.

Com a entrada de tantos pacientes a cada dia nas estatísticas da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Curitiba, o número de pessoas consideradas com potencial de transmitir a Covid-19 é estimado em 6.227. Sem surpresa, a taxa RT, que mede a transmissão do coronavírus, passou de 1,05 no dia 4 de agosto para 1,16 nesta quarta-feira. Com isso, hoje cada 100 curitibanos infectados podem transmitir a Covid-19 para outros 116. O cenário tido como ideal para o controle da pandemia é que o RT esteja abaixo de 1.

Medidas preventivas

O médico infectologista no Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná Giovanni Breda defende que sejam intensificadas as medidas preventivas para que a taxa de transmissão da Covid-19 em Curitiba volte a patamares toleráveis. Segundo ele, agora é o momento de adotar tais medidas, para que não seja necessário recorrer a atitudes mais drásticas em breve.

“Agora é o momento de tomar medidas preventivas contra os danos. Esperar um patamar muito elevado de casos para se tomar alguma decisão leva a uma intervenção mais intensa, mais rígida e mais duradoura para diminuir o dano em vez de prevenir esse dano. Se a gente quer medidas preventivas, se a gente realmente quer prevenir essa disparada do contágio, o momento é bem no início do crescimento do número de casos. As medidas basicamente são as mesmas de sempre, é diminuir a interação social, o estímulo ao uso de máscaras com alta proteção como as N95, e evitar aglomerações, eventos, situações em que as pessoas tenham mais contato umas com as outras. Esse é o tipo de intervenção que ajuda a diminuir a transmissão”, comentou, em entrevista por telefone.

Já a médica infectologista Marion Burger, da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Curitiba, apesar de também se dizer preocupada com o crescimento dos índices e de criticar as aglomerações, dá crédito à vacinação para afirmar que os cenários anteriores eram bem piores do que o atual.

Ela explicou que mesmo não sendo possível precisar qual o porcentual de presença da variante Delta na capital, é provável que esta nova cepa esteja entrando em uma espécie de competição com outra variante, a gama – identificada pela primeira vez no Amazonas e que registra a maior prevalência entre os casos de Covid-19 no Paraná.

“Dentro de uma situação de epidemia veio essa outra variante, a delta. Como vão se comportar essas duas variantes, competindo entre si, ainda não se sabe. Mas a gente espera que dentro desse cenário todo de competição, o vencedor seja a vacina. Nós temos esse fator muito importante agora que é termos mais de 1,1 milhão de pessoas já vacinadas. Isso não havia em nenhum dos outros picos da pandemia. É o que nos anima, pelo menos na perspectiva de haver menos casos graves e menos óbitos em decorrência disso. Mas, por outro lado, exatamente por estarmos nessa situação de possível troca de variantes preponderantes, os cuidados nossos enquanto população precisam redobrar”, avaliou.

Contando com a sorte

Os números da vacinação na capital, porém, não são suficientes para essa animação, na avaliação de Breda. Para ele, uma cobertura vacinal como a de Curitiba, com pouco mais 20% da população completamente imunizada, representa pouco frente ao potencial do coronavírus – principalmente por causa da variante Delta.

“Eles [a Prefeitura] apostam em uma vacinação que ainda está muito abaixo dos níveis de outros países, como os EUA. E o impacto que a Covid vem tendo nos EUA, mesmo com a maior parte da população já vacinada, ainda é significativo. Não sei qual é a expectativa da prefeitura sobre o que vai acontecer aqui quando se tem 20% da população completamente vacinada. Se a nossa taxa de vacinação é inferior à dos EUA, e lá eles estão enfrentando problemas, por que a gente acha que aqui vai ser diferente? Não dá para trabalhar com apostas. Tem que haver convicções, definições e explicações claras de por que aqui vai ser diferente. Hoje não vejo muitas justificativas, muita clareza de porque aqui vai ser diferente a não ser contar com a sorte”, apontou.

Para médica, aglomerações são “atestado de burrice social”

Além da vacinação, a infectologista Marion Burger também disse esperar que a população volte a evitar aglomerações como forma de reduzir o contágio. Apesar de não haver indicativo por parte da secretaria para mudanças na bandeira amarela nos próximos dias, ela fez duras críticas a quem participa de aglomerações, e pediu a todos para que se lembrem que a pandemia ainda não acabou.

“É inadmissível que pessoas com o mínimo de intelecto se comportem dessa forma irresponsável, voltando a ter comportamentos como se a pandemia tivesse acabado. Essas aglomerações que vivenciamos agora nesta última semana são inadmissíveis para um ser humano que queira viver em sociedade, que minimamente ama as pessoas com quem convive. Quem tem o mínimo de consciência sabe que mesmo quem já teve a doença, ou mesmo quem já foi vacinado, pode adoecer novamente e transmitir para uma pessoa que não tenha a felicidade de ter um quadro leve da Covid. É uma irresponsabilidade, um atestado de burrice social que eu realmente não consigo aceitar e não consigo entender”, desabafou.

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