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 | Arquivo da família
| Foto: Arquivo da família

A vida de Celso Paciornik, morto em maio deste ano aos 72 anos, teve tantas cores que fica difícil saber por onde começar a contar sua história. Nascido em uma família judia de Jacarezinho (PR) em que a religião era o diploma, mudou-se para Curitiba ainda criança e faria da cidade seu porto, sempre dando um jeito de retornar. Filho de dois professores, ela de francês e ele um engenheiro que lecionava matemática, em casa a leitura era regra e Paciornik aprendeu desde cedo a se aventurar em outros idiomas além do português, fazendo da tradução jornalística e literária, mais tarde, seu modo de ganhar a vida.

Antes de trabalhar vertendo clássicos de William Faulkner, Agatha Christie e Joseph Conrad para que os brasileiros pudessem apreciá-los, nos anos 1960 começou o curso de engenharia no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) em São José dos Campos, mas, percebendo que não era exatamente o que queria, retornou à Curitiba para cursar Arquitetura na Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Teve consciência de seu papel na luta social e, já militante da Política Operária – ou POLOP, como era chamada – , foi preso em 1968 junto com colegas pelas forças de repressão da ditadura militar acusado de contravenção em um congresso semelhante ao que acontecera em Ibiuna (SP). Após os 18 meses de encarceramento que cumpre no presídio do Ahú, volta às atividades da militância na clandestinidade. Morando em São Paulo, trabalha como tradutor, ao longo dos anos, em jornais como a Gazeta Mercantil, Valor Econômico e O Estado de São Paulo. A velocidade de escrita e o apreço pelas palavras chamavam a atenção dos colegas. Nos anos 1990, forma-se em Letras pela Universidade de São Paulo (USP).

Apesar da luta política e das traduções estarem em sua mente e rotina durante toda a vida, a personalidade de Paciornik tinha variadas faces e talentos que se acumulavam. Fascinado por teatro e profundo conhecedor de cinema, escrevia poemas – teve um livro publicado, na década de 1990 – e peças. Em uma ocasião curiosa, ao traduzir o musical “West Side Story” para apresentações em São Paulo, deu a quem lhe chamou para o trabalho uma condição: que ele mesmo atuasse de alguma maneira na montagem. E foi assim que Paciornik esteve nos palcos como um bartender-guru na peça.

Boêmio nato, gostava de reunir os amigos para jogar sinuca ou preparar uma de suas especialidades culinárias – a ideia era sempre cozinhar para um batalhão –, como moqueca, feijoada ou costela. Apaixonado por música clássica, presenteou os filhos gêmeos, Cesar e Ivan, na tenra juventude, com seus primeiros discos, diferentes sinfonias de Beethoven. Tocava violão e flauta doce. Em recitais, misturava o último instrumento com as poesias que compunha. Gravou um CD de tango com o trio musical do qual fazia parte.

Sem apegos materiais, Paciornik recheou de cores e de conhecimento a existência de quem o acompanhou durante sua trajetória de luta. Realizou a vontade de conhecer sua primeira neta biológica, Maria, antes de falecer. Deixa cinco filhos e seis netos, em laços que vão além dos de sangue.

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