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 | Arquivo da família/
| Foto: Arquivo da família/

Na sala de costura do Teatro Guaíra, um homem meticuloso organizava todas as vestimentas e adereços utilizados pelos atores na peça que inauguraria o auditório Bento Munhoz da Rocha Netto, o Guairão, maior espaço da casa. Tratava-se do espetáculo “Paraná, Terra de Todas as Gentes”, de 1974, e o figurinista era Luiz Afonso Burigo, que morreu em março deste ano, aos 76 anos.

Por envolver grande quantidade de representações das etnias do estado e de atores, a montagem impressionou não apenas os espectadores como a família de Burigo, que acompanhava seu trabalho. Naquela época, ele passava por um período de transição do jornalismo – formado pela PUCPR, trabalhou em redações extintas como a da revista Manchete e d’O Cruzeiro, até atuar como crítico diário de cinema no jornal Diário do Paraná – para o teatro.

O trabalho de figurinista exige constante pesquisa e atualização de tendências para manter o que é utilizado no palco real e esteticamente coerente. Ao pesquisar, Burigo não apenas cumpria seu papel, como exercitava interesses que lhes eram naturais. Gostava de se manter por dentro do que era novo no mundo do teatro, sempre com leituras sobre a temática. Nos anos 70, quando o acesso a informações e produtos dependia mais da localização geográfica, ele viajava até o Rio de Janeiro para comprar livros e lápis franceses.

Atento ao trabalho de toda a equipe, era detalhista com a confecção das peças pelas costureiras e, habilidoso com as mãos, auxiliava ele mesmo na produção de roupas e adereços. Podia passar horas em casa fechando os três dentes que prendiam as centenas de brilhantes de um vestido de noiva, por exemplo, até que ficasse perfeito. Tinha na ponta da língua os melhores profissionais e locais do ramo para conseguir materiais específicos.

Na casa da família, o destaque da estante é a grande coruja dourada com olhos de rolo de película cinematográfica. Trata-se do Prêmio Coruja de Ouro, reconhecimento nacional que Burigo venceu em 1976 pelo figurino de “Aleluia Gretchen”, filme dirigido por Sylvio Back sobre uma família que chega ao Brasil em fuga do nazismo alemão. Além desse, também colecionava outros prêmios por seu trabalho, como três troféus Gralha Azul. No Colégio Estadual do Paraná, onde também dirigiu peças, lecionou e foi coordenador do Curso Técnico de Teatro e Ator. Além do Guaíra, outras instituições reconhecidas da arte contaram com seu talento e refinamento, como o Teatro Lala Schneider e o Teatro de Comédia do Paraná.

Tão envolvido com teatro, conheceu a esposa, a professora Lia Burigo, no Guairinha. Ela tinha ido assistir a uma montagem portuguesa com uma amiga e descobriu afinidades com o figurinista, como o fato de serem vizinhos. O resto é história.

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