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Motorista Alcides Borges afirma que trabalhando na linha  Detran Vicente Machado há 7 anos descobriu seu lado mais atencioso. | Henry Milleo/Gazeta do Povo
Motorista Alcides Borges afirma que trabalhando na linha Detran Vicente Machado há 7 anos descobriu seu lado mais atencioso.| Foto: Henry Milleo/Gazeta do Povo

Parar bem próximo ao meio-fio para evitar tropeços, ajudar no embarque e desembarque, passar alguns minutos conversando: essas atitudes já fazem parte do dia a dia de parte dos motoristas do transporte público de Curitiba, mas em certas linhas não são apenas diferenciais, e sim parte essencial do trabalho. O motivo? O público, que em linhas como a Detran/Vicente Machado e a Novena chega a ser cerca de 80% formado por idosos, segundo motoristas.

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“Eu brinco com os passageiros idosos que eles são minhas joias - e eu dirijo sempre com muito cuidado para que essas joias não se danifiquem”, conta o motorista Alcides Borges, que tem 52 anos e começou a dirigir ônibus há quase 20. Mas foi ao começar na linha Detran/Vicente Machado, há cerca de sete anos, que Borges afirma ter descoberto seu lado mais atencioso: “A gente precisa ajudar os mais velhos. Eles têm mais dificuldade em mobilidade e não são mais tão ágeis para descobrir o ponto exato para descer, por exemplo. Além de muitas vezes não terem companhia para conversar”, explica.

Não é por acaso que a melhor idade é público fiel da linha, cujo trajeto vai do Batel ao Tarumã. Próximos aos pontos, estão pelo menos oito hospitais e clínicas de saúde, como os hospitais São Vicente, Cruz Vermelha, Vita, Militar,entre outros. Isso faz com que, além de idosos, muitos dos passageiros estejam em condições de saúde não tão boas assim.

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É o caso de Áurea Farias, de 66 anos, que usa o ônibus uma vez ao mês para ir ao Instituto Pró-Renal, onde faz tratamento. “Realmente essa linha tem muitos idosos, por isso o motorista e o cobrador fazem a diferença, ajudam todo mundo a saber onde parar, e os outros passageiros dão lugar pra gente sentar”, narra a senhora, que afirma que o trajeto mais alegre ajuda a não pensar nas horas que passa no hospital, cuidando dos rins.

Áurea Farias, 66 anos, afirma que as gentilezas do motorista e cobrador da linha Detran/Vicente Machado faz a diferença no trajeto ao hospital. Henry Milleo/Gazeta do Povo

Alguns passageiros, no entanto, são frequentadores de todos os dias há anos, por morarem próximos a um dos pontos, e chegaram a desenvolver uma amizade com “seu Alcides”. “Ele já é meu conhecido há muito tempo, sempre pergunta como eu estou e se meu marido melhorou da doença. Como tem sempre muitos idosos, isso faz com que a gente conheça mais as pessoas”, conta Silvia Abrão, de 76 anos, moradora do Batel que usa o ônibus principalmente para ir à farmácia.

Saúde... E religião

Não é apenas motivos de saúde que fazem com que os idosos frequentem mais alguma linha específica. Todas as quartas-feiras, um ônibus especial também reúne um público grande da melhor idade - é o dia das novenas da Igreja Católica, que em Curitiba acontecem em pelo menos 27 endereços diferentes. A fé faz com que dezenas de idosos procurem a linha, que circula entre a praça Rui Barbosa e o Alto da Glória, onde fica o Santuário Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.

Linha Detran/Vicente Machado é uma das que mais têm passageiros idosos em Curitiba. Henry Milleo/Gazeta do Povo

“Quando eu chego na Rui Barbosa para assumir a linha, a partir das 9h50, eu já vou passando pela fila de passageiros cumprimentando todos: bom dia, minhas meninas, bom dia, meus meninos”, conta o motorista Antonio da Silva, que costuma chamar os idosos usuários da linha dessa maneira, em tom de descontração. Nesta linha grande parte dos passageiros são frequentadores assíduos das novenas e se conhecem há anos.

Seja por camaradagem ou educação, o motorista já chegou a entrar em algumas paróquias para acompanhar passageiros com as funções motoras prejudicadas. “Uma vez eu estava adiantado, então dei o braço para uma senhora e levei ela até dentro da novena, ela ficou muito agradecida”, lembra.

Mesmo quando a situação não é tão alegre, Silva garante que dá o seu melhor para facilitar a vida de todos na linha com bom humor. Isso acontece, por exemplo, quando algum senhor não-cadeirante apresenta dificuldade para subir as escadas do veículo. “Chega de sofrência, vamos usar o elevador que ele está aí para isso, senão vai enferrujar”, diz o motorista para não deixá-los envergonhados de usarem a ferramenta.

O segredo para que todos fiquem satisfeitos, opina Silva, é pensar no próximo sempre: “Eu tenho mãe idosa, sogra idosa, e eu também já não sou mais tão novo. Eu sei como é difícil ter que se virar sozinho nessa idade, e um dia todos nós chegaremos lá”.

Outras linhas

A informação do grande número de idosos nas linhas citadas partiu dos próprios motoristas. Mas, durante as entrevistas, outras linhas lembradas pelos próprios passageiros como muito usadas pelo público da melhor idade são a Itupava/Hospital Militar e a Jardim Social/Batel. A Urbanização de Curitiba (Urbs), responsável por gerenciar o transporte público da capital, afirma que não é possível mensurar quais linhas têm mais idosos - que em sua maioria usam o cartão “isento”, disponível para quem tem 65 anos ou mais. De acordo com a empresa, o sistema informa apenas a quantidade total de não-pagantes, que além dos idosos isentos, inclui também deficientes físico e outras categorias.

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