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Vítima de arrastão, motorista relata momentos de terror dentro de ônibus

Segundo sindicato dos trabalhadores do transporte, modalidade de assalto está se tornando cada vez mais comum na cidade

Insegurança faz com que motoristas queiram abandonar linhas mais perigosas, afirma sindicato | Daniel Castellano/Gazeta do Povo/Arquivo
Insegurança faz com que motoristas queiram abandonar linhas mais perigosas, afirma sindicato (Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo/Arquivo)

Motorista da linha Trabalhador há mais de nove anos, João* se acostumou com a violência do trajeto. A linha é considerada a mais perigosa de Curitiba, segundo um levantamento da prefeitura de Curitiba, e, ao longo de todo esse tempo, o condutor já foi assaltado várias vezes durante o expediente. Recentemente, ele acabou sendo vítima de uma modalidade de crime que começa a se tornar cada vez mais comum na cidade, os arrastões.

“Os ladrões chegaram junto com os outros passageiros. O primeiro entrou na frente e foi para o fundo. O outro veio até mim, mostrou a arma e anunciou o assalto”, conta o motorista. “Pediu para tirar a mão do volante, ficar calmo e não tirar o ônibus do lugar. Foi quando eles começaram a roubar quem estava lá dentro”.

João relembra que a ação dos criminosos, ocorrida no dia 31 de maio, foi bastante rápida. Para ele, pareceu uma eternidade. O homem armado ficou parado em frente à catraca, gritando e fazendo ameaças, enquanto o comparsa abordava os passageiros, pegando celulares, carteiras e o que mais estivesse à mão. Sem poder sair do lugar, o motorista apenas ouvia a movimentação no fundo do ônibus e, pelo retrovisor, viu a tentativa de alguns passageiros de escapar pela janela de emergência.

Situação frequente

Segundo o Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Sindimoc), esse tipo de situação vem se tornando frequente na capital paranaense, embora ainda não haja estatísticas específicas. Os casos acontecem principalmente em bairros como Pinheirinho, Sítio Cercado e Alto Boqueirão, onde João foi abordado.

Para o diretor do Sindimoc e responsável pelo setor de apoio aos trabalhadores, Ricardo Ribeiro, o que impressiona não é apenas o aumento no número de ocorrências, mas a ousadia dos criminosos, que atuam a qualquer hora do dia. No caso de João, a ação aconteceu toda por volta das 9h. “A gente sente um crescimento nos casos. A antiga linha Tupi-Pinheirinho, que nem existe mais, já registrava alguns arrastões, mas parece que eles estão ficando mais comuns”, aponta.

Curitiba está tão pouco acostumada com esse tipo de crime que nem mesmo a Guarda Municipal (GM) tem um balanço de ocorrências desse tipo. Procurada pela Gazeta do Povo, o órgão apenas disse que, até 2016, nunca foi feito um levantamento que diferenciasse os arrastões de assaltos comuns. A reportagem não obteve retorno em relação aos dados deste ano e nem sobre ações feita pela Guarda Municipal para coibir esse tipo de situação.

O dia seguinte

Segundo Ribeiro, a insegurança causada pelo crescimento desses arrastões é algo que afeta bastante o psicológico dos trabalhadores. “Entre os motoristas e cobradores, há um clima de tensão por causa disso. Tem linhas que é até difícil manter o trabalhador, que sempre pedem para sair”. É comum que alguns desses trabalhadores precisem procurar ajuda de psicólogos para lidar com o trauma.

Com João, porém, não foi o caso. Apesar de todo o susto, ele continuou na linha Trabalhador, mas não sem sentir os efeitos do medo. “O dia seguinte foi bem pesado. Eu e a cobradora que estava na hora do arrastão ficamos bem tensos”, conta. “Em qualquer parada, todos eram suspeitos”.

O motorista relata que a sensação de ser vítima desse tipo de crime é bem mais impactante do que aquela sentida durante um assalto comum. “A gente não sabe o que vai acontecer. Você percebe que eles estão mais preparados e que têm mais coragem que os ladrões que só vão roubar o cobrador. Significa que estão mais dispostos a atirar”.

* João é um nome fictício. O motorista pediu para não ser identificado.

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