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 | HENRY MILLEO / GAZETA DO POVO/ARQUIVO
| Foto: HENRY MILLEO / GAZETA DO POVO/ARQUIVO

Batizado Waltel, e não Walter, por erro do escrivão do cartório que o registrou em 1929, em Paranaguá, ele deixou a cidade do litoral paranaense para colocar a sua marca na música brasileira.

Desde menino, o compositor, arranjador e regente Walter Branco buscou o sonho de ser músico. Enfrentou as dificuldades de uma criança que nasce prematura, com os pulmões fracos, e teve que abandonar o caminho do pai, que tocava instrumentos de sopro na banda do Exército, em Curitiba. Mas não desistiu da música.

Enfrentou também a resistência da família, que não via com bons olhos (e ouvidos) ele aprendendo violão, um instrumento de má fama na época para famílias tradicionais. Waltel então aceitou as condições impostas pelo pai e passou a estudar violão clássico, canto gregoriano e regência.

Ainda na adolescência criou uma banda de jazz na capital paranaense, antes de ir para Cuba, onde tocou com os músicos de jazz e de salsa Mongo Santamaría e Chico O´Farrel. Com apenas 21 anos, em 1950, mudou-se para os Estados Unidos, país em estudou música incidental com Stanley Wilson, o mais badalado compositor de trilhas sonoras de Hollywood na época. Trabalhou ainda com o arranjador Quincy Jones e tocou e gravou com músicos de jazz como Max Bennet e Louis Armstrong.

A partir daí, de volta ao Brasil, construiu um monumento musical ainda não dimensionado corretamente. Embora muitos o lembrem como o criador do célebre arranjo do tema-título de “A pantera cor-de-rosa” (Estados Unidos, 1963), Walter Branco deixa um legado de tons variados para a música brasileira.

Colega de quarto de João Gilberto em uma pensão no Rio de Janeiro, Waltel entrou no mundo da Bossa Nova e, ao mesmo tempo, fazia acordes em outras bossas. Com reputação em alta, trabalhou ao lado de gente como Baden Powell, Luiz Bonfá, Djavan e Cazuza. Também fez arranjos para Dorival Caymmi, Carlinhos Vergueiro, Sérgio Ricardo, Toni Tornado, Elis Regina e Tim Maia.

Na obra de Waltel merece um lugar especial as orquestrações para trilhas sonoras de novelas da Rede Globo, como Irmãos Coragem (1970/1971) e Selva de pedra (1972/1973), além do arranjo de Retirantes (Dorival Caymmi, 1976), símbolo musical da novela Escrava Isaura (1976 / 1977).

Nos últimos anos, Waltel passou boa parte do tempo em Curitiba lutando para receber direitos inúmeras composições de sua grande obra. Em entrevistas, contava ter participado na elaboração de ao menos quatro mil músicas. Apesar dessa grandiosidade, vivia com a verba que recebia pelos direitos autorais de cerca de 400 composições. Ele reivindicava participação nos direitos autorais do tema de “A Pantera Cor-de-Rosa” (com a famosa “tarãm, tarãm, tarãm, tarãm, tarãm...”), o que nunca foi reconhecido legalmente.

Longe dos holofotes da fama mesmo no auge da carreira, Waltel morreu no último dia 28 de novembro praticamente desconhecido do grande público. Ao mesmo tempo, simboliza um dos lugares mais altos da nossa música para muitos dos principais nomes autores brasileiros.

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