
A valorização da moeda americana no primeiro semestre de 2012 frustrou os brasileiros que sonhavam com uma viagem ao exterior. O primeiro reflexo da mudança de planos do turista foi a redução da expectativa de crescimento das empresas do setor.
No início deste ano, o mercado acreditava numa expansão de 15% nos negócios, de acordo com a Pesquisa Anual de Conjuntura Econômica do Turismo (Pacet), feita no primeiro trimestre deste ano pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) a pedido do Ministério do Turismo (MTur). Mas o ritmo não deve ser tão otimista, segundo o presidente da Associação Brasileira de Agências de Viagens (ABAV), que representa 3 mil empresas, Antônio Azevedo. Desde abril na casa dos R$ 2, a cotação prejudicou as empresas e os brasileiros que querem viajar.
Crescer menos
Com taxas e tarifas cotadas em dólar, hotéis, passagens aéreas e pacotes estão até 25% mais caros em 2012. Na CVC, maior operadora de turismo da América Latina, um pacote para os Estados Unidos, por exemplo, custa a partir de US$ 1,9 mil por pessoa. Em setembro de 2011, com o dólar turismo a R$ 1,65 no dia 02, o pacote custaria R$ 3.135. Um ano depois, cotado a R$ 2,09, a viagem fica R$ 836 ou 23% , mais cara.
Na opinião de Azevedo, as empresas não deixarão de crescer, apenas vão fazê-lo aquém do esperado. "É normal o segundo semestre ser melhor do que o primeiro, mas não acho que a economia vai permitir um crescimento acima de 10%. As metas iniciais não serão atingidas", acredita.
Para o empresário Aroldo Schultz, presidente da agência Schultz, de Curitiba, oscilação cambial afeta demais o segmento. "Extremamente dependente da moeda americana, o setor turístico cresce na medida em que o dólar cai", revela.
Em 2011, ano em que o dólar atingiu o menor patamar dos últimos 12 anos (R$ 1,55), as empresas do setor turístico tiveram um crescimento médio de 18,3% no faturamento, de acordo com dados da Pacet.
Classe C
O levantamento ouviu as 80 maiores empresas brasileiras de nove segmentos turísticos. Em todas as empresas, o crescimento do faturamento registrado foi superior ao Produto Interno Bruto (PIB), que em 2011 foi de 2,7%. Entre os fatores listados pelos empresários como responsáveis pelo crescimento das atividades estão o fortalecimento da economia nacional, o aumento da demanda por viagens e investimentos, a expansão do volume de operações e a imagem favorável do Brasil no exterior.
O dólar baixo e o crédito fez todo mundo viajar. A possibilidade de parcelar as viagens em até 12 vezes permitiu que brasileiros da classe C e D viajassem pela primeira vez e incluíssem o turismo no orçamento da família. E possibilitou que turistas de classes A e B escolhecem destinos considerados exóticos e caros.
Ele cresceu
O presidente da MGM Operadora, Arnaldo Levandowski, revela que, em 2011, a empresa registrou picos de crescimento na ordem de 45% em determinados meses, e fechou o ano com 38%. "Apostamos em novos departamentos com atendimento personalizado. Também criamos um Centro de Controle de Qualidade que confere tudo, desde a reserva até os traslados e apólices de seguro. Com isso conseguimos aumentar a nossa taxa de fidelização", afirma.
A pesquisa foi realizada no primeiro trimestre de 2012 com nove segmentos: agências de viagens; locadores de automóveis; meios de hospedagem; operadoras de turismo; organizadoras de eventos; promotores de feiras; transporte aéreo; transporte rodoviário; e turismo receptivo. De acordo com o MTur, os empreendimentos somam 110 mil empregados e faturamento de R$ 50,9 bilhões.
Turistas estrangeiros aumentam gastos
Às vésperas de receber os dois maiores eventos esportivos do planeta, a Copa do Mundo (2014) e a Olímpiada (2016), o Brasil está em alta no exterior. No ano passado, 5.433.354 turistas entraram no país, 5,3% a mais do que 2010. A quantidade de estrangeiro aumentou faturamento das empresas de turismo receptivo em 33,5%.
De acordo com dados do Banco Central, os gastos efetuados por turistas estrangeiros em visita ao Brasil, em 2011, somaram US$ 6,775 bilhões, 14,46% a mais do que os US$ 5,919 bilhões gastos em 2010.
Para o diretor do Departamento de Estudos e Pesquisas do Ministério do Turismo (MTur), José Francisco de Salles Lopes, a imagem positiva do Brasil lá fora atraiu e vai atrair cada vez mais turistas nos próximos anos. "Vai continuar crescendo, principalmente com a divulgação do destino, resultado dos eventos esportivos", explica.
Mas não é só isso. Segundo o diretor de Mercados Internacionais do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), Marcelo Pedroso, o Brasil ainda está se recuperando da falência da Varig, empresa aérea que operava em 90 destinos ao redor do mundo e trazia muito estrangeiros para o Brasil. "Foram anos ruins para o turismo no Brasil", conta.
Investimento
Para recuperar turistas, o Brasil investiu na malha aérea e ampliou o número de voos internacionais para cá. Dados da Anac mostram que em 2003 o Brasil tinha 563 frequências semanais regulares para 26 países. Em 2011, o número cresceu para 900 voos, para 35 países. A taxa média de ocupação de assentos é 70%.
Para continuar atraindo turistas, o Instituto Brasileiro de Turismo vai gastar US$ 40 milhões em publicidade nos próximos dois anos. A imagem do país será divulgada nos veículos de comunicação de 100 países e deve atingir 1,2 bilhão de pessoas. O objetivo do Embratur é atingir a marca de 10 milhões de turistas/ano em 2020 e 15 bilhões em gastos. Outro desafio é aumentar o fluxo de turistas intraregionais. "Na Europa, 80% dos turistas visitam outros países do próprio continente. Na América do Sul, a taxa é de apenas 40%. Queremos elevar esta porcentagem", revela Pedroso.
Apesar do crescimento e dos recordes, para o presidente da Abav, o desafio para os próximos anos é grande. "Apesar da visibilidade, os eventos não resolvem os problemas do país. Ainda somos muito dependentes do turismo interno. O turismo estrangeiro ainda é tímido, precisamos resolver os gargalos econômicos e estruturais para continuar expandindo todo o segmento", afirma.



