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Comportamento

A agressividade dos chats

Ser humano é mais propenso a ofensas na comunicação online; e isso é explicado pela neurociência

Rio – Cada vez mais jovens internautas sucumbem à febre de se comunicar online, incessantemente, via mensageiros eletrônicos. Ferramentas gratuitas não faltam: AOL Instant Messenger, Google Talk, iChat, ICQ, Jabber, Meetro, MSN Messenger, .NET Messenger Service, Skype, Yahoo! Messenger, e longe vai a lista, que inclui o velho Internet Relay Chat (IRC), popular até hoje.

O hábito do chat instantâneo, conhecido como IM (Instant Messaging), entre crianças e adolescentes vem deixando transparecer um fenômeno social inédito, uma quase agressividade às vezes não intencional que surge em decorrência das características peculiares do ambiente em que se trocam as mensagens. Muitos dos jovens adeptos da prática do IM inserem em suas mensagens coisas embaraçosas demais para serem ditas cara-a-cara. E quando, horas ou dias depois, acontecem de se encontrar pessoalmente, acabam se mostrando envergonhados quanto ao que disseram online e evitam trazer à tona o assunto que gerou a manifestação pontiaguda. Em muitos casos, o encontro torna-se tenso e perde a fluidez natural que teria, não fosse o desabafo via IM.

"Flaming"

Um interessante artigo de Daniel Goleman, do International Herald Tribune, aponta que o referido fenômeno parece fazer parte de um padrão muito maior que vem se configurando no mundo das comunicações virtuais. Contudo, não se trata de algo inteiramente novo. Já nos primeiros tempos da internet surgia o desagradável hábito do "flaming", prática em que alguns internautas enviavam mensagens deliberadamente ofensivas, grosseiras e por vezes embaraçosas. Enviar "flame" (chama ou labareda, em inglês) via e-mail mostrava-se como uma forma de desabafar facilmente, de maneira quase irresponsável. Pensamentos expressos de forma escrita, enquanto se está sentado sozinho diante de um computador, poderiam certamente ser apresentados de maneira mais diplomática num encontro presencial, ou mesmo nem serem mencionados num papo coloquial entre conhecidos.

O termo técnico aplicado por psicólogos que estudam o assunto, quando se referem ao "flaming", é "efeito de desinibição online", designando os diversos comportamentos adotados por usuários da rede quando estão imersos no oceano do ciberespaço e não se vêem pressionados a moderar seu ímpeto.

Estudiosos de psicologia no ciberespaço e nos blogs sugerem que são vários os fatores psicológicos que induzem à desinibição online, entre eles: o anonimato de um pseudônimo na web, também conhecido como nick (apelido); a ausência de uma figura online que represente autoridade; o exagerado senso de si decorrente do fato de se estar sozinho num dado período; o intervalo de tempo entre enviar um e-mail e receber a resposta; e a invisibilidade. A desinibição online tem dois lados, um positivo, em que uma pessoa normalmente tímida resolve se soltar, extravasando sua personalidade, e um negativo, que é justamente a causa da agressividade típica do flaming.

Algumas pistas sobre o que se passa na mecânica neural dos internautas que se rendem ao flaming podem ser encontradas através de um ramo de pesquisa científica que tem crescido bastante ultimamente, e que é conhecido como Neurociência Social.

Parece existir uma falha de projeto inerente à interface entre o circuito social do cérebro humano e o ambiente do mundo online. Nas interações face-a-face, nosso cérebro continuamente lê uma torrente de sinais emocionais e sutis dicas sociais que, em tempo real, vai direcionando nossos próximos passos na interação, de tal modo que o encontro tenha êxito, sem estresse nem conflitos, dentro do possível. Grande parte deste complexo processo analítico se dá numa região cerebral conhecida como córtex órbito-frontal, nosso centro de empatia. É lá que ocorre o esquadrinhamento social que nos ajuda a ter certeza de que nossa próxima atitude contribuirá para manter a interação nos trilhos.

Este sistema-guia, a princípio, inibe impulsos que gerem ações capazes de ofender o interlocutor, rompendo a suavidade da interação.

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