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Eleições

A economia faz o presidente?

Com bons indicadores previstos para o segundo semestre, tese de que a situação econômica é a principal determinante do voto será colocada à prova

Veja uma comparação do desempenho econômico em anos eleitorais |
Veja uma comparação do desempenho econômico em anos eleitorais (Foto: )

A eleição de 2010 colocará à pro­­va a tese de que é o cenário econômico que faz o sucessor presidencial. O segundo semestre do ano que vem tende a ter uma combinação praticamente imbatível: preços sob controle, crescimento econômico forte, desemprego em baixa e renda em alta. Isso tudo unido a uma estratégia de programas sociais ampliados, correção real do salário mínimo e de políticas que afagaram com pequenas benesses quase todos os setores da economia.

"O que mais influencia o eleitor é o estômago. Ele quer saber se vai poder comprar geladeira, se tem fartura em casa. A relação da economia com a decisão de voto é direta", diz o cientista po­­lítico Gaudêncio Torquato, professor da Universidade de São Paulo (USP). "O governo será ex­­tremamente beneficiado em fa­­zer seu sucessor."

A tese de que a economia faz um presidente foi desenvolvida por especialistas do ramo chamado de "public choice" ("escolha pública", em uma tradução livre do inglês), que aplicam análises matemáticas para temas políticos. Vários trabalhos tentam explicar, por exemplo, como um programa de governo precisa equilibrar temas populares entre os eleitores e outros que ajudam a captar recursos entre grupos de interesse. Outros pesquisadores tentam achar uma ligação entre índices de inflação e o humor nas urnas.

"A economia é o principal de­­terminante do voto. Os eleitores olham principalmente para a queda do desemprego e para o controle da inflação. É onde ele mais percebe o desempenho econômico", diz o cientista político Malco Braga Camargos, professor da Pontifícia Universidade Ca­­­tólica de Minas Gerais (PUC-MG).

Uma das tentativas de traduzir essa relação em números é do economista norte-americano Dou­­glas Hibbs, professor da Uni­­versidade de Gotemburgo, na Suécia. Ele criou o modelo "pão e paz" e faz previsões para todas as eleições nos Estados Unidos na qual cruza dados da renda dos americanos e, mais recentemente, das guerras das quais o país participa. Ele antecipou a margem ampla conseguida por Bara­­ck Obama em 2008, mas errou, pelo menos parcialmente, ao prever a vitória do democrata Al Gore, em 2000.

A eleição americana de 2000, vencida por George W. Bush, é um sinal de que Lula não pode dar o pleito como vencido. "O Bush vendeu a ideia de que o crescimento dos anos do presidente Bill Clinton, aliado de Gore, foram fruto do trabalho dos norte-americanos e não do governo", lembra Luciano Dias, cientista político e analista da CAC Consultoria Política. Pre­­gando a redução do Estado, com cortes de impostos, Bush ganhou votos preciosos em uma eleição decidida nos tribunais – Gore, como previu Hibbs, teve a maior votação, mas perdeu em estados importantes no sistema eleitoral americano.

Onde criticar?

O desafio para a oposição no Bra­­sil será encontrar um ponto fraco na economia. "O crescimento em 2010 será de pelo menos 5%, com uma expansão da indústria acima de 7%. E o momento de maior dinamismo será entre o segundo e o terceiro trimestre, perto das eleições", prevê Julio Hegedus, economista-chefe da consultoria Lopes Filho & Asso­ciados. Nas contas da LCA Con­sul­­toria, o crescimento pode chegar perto de 6%, com risco muito baixo de aceleração da inflação. "Não existe razão para supor que o consumo não vai continuar crescendo, já que esperamos uma aceleração na geração de empregos", diz Fernando Sam­paio, economista da LCA.

O desemprego baixo, aliás, será outro trunfo para o candidato governista. "A taxa deve fechar 2009 em um nível muito melhor do que o imaginado mesmo pe­­los mais otimistas e não deve su­­bir no ano que vem", diz Sam­paio. É provável, aliás, que o de­­semprego, hoje em 7,5%, caia abai­­xo dos 7% no fim de 2010.

O ponto fraco da economia que tem mais chances de ser usado pela oposição está nas contas públicas. Os gastos do governo, mesmo com a crise, crescem a uma taxa de 20% ao ano, o que força a carga tributária a ficar em um nível elevado, de 36% do PIB. "A oposição pode montar o discurso de que vai trabalhar com mais eficiência, mas não tem como se contrapor à política econômica em si", diz Camargos, da PUC-MG.

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