
A Unidade de Industrialização do Xisto (SIX), em São Mateus do Sul (Sul do Paraná), é um repositório de peculiaridades. Em operação desde 1972, ela é a única unidade em que a Petrobras atua como mineradora. É também a única em que a companhia concentra num mesmo local a extração da matéria-prima e sua transformação em derivados. Como se não bastasse, a área que mais cresce dentro da SIX, paradoxalmente, tem pouco a ver com xisto.
A área em questão é o parque tecnológico instalado dentro da SIX, que funciona como um centro avançado para pesquisas do refino de petróleo e de outros processos industriais. Em funcionamento há quase 20 anos, mas quase desconhecido, o parque é o maior da América Latina e um dos maiores do mundo em número de plantas-piloto e vai dobrar de tamanho nos próximos anos, estimulado por desafios como o da exploração do pré-sal e o desenvolvimento dos biocombustíveis.
Hoje, o parque abriga 19 protótipos em escala reduzida ou natural, que testam processos típicos do refino combustão, destilação, redução de emissões e outros mas também tecnologias como o reaproveitamento de pneus e a medição de partículas a laser. Nos próximos anos, as pesquisas serão multiplicadas: a unidade está começando a ocupar sua última área livre, de 200 mil metros quadrados, suficiente para outras 18 plantas, maiores que as atuais.
Segundo o gerente de pesquisas da SIX, Hélio Sakurai, seis novos protótipos já estão confirmados três começam a operar até o primeiro semestre de 2011 e outros quatro estão em negociação. "Nenhum protótipo sai por menos de R$ 1 milhão. Um dos novos, o de coque contínuo, deve custar perto de R$ 20 milhões."
Segundo ele, em breve começa a construção de uma planta de formulação de gasolina que, entre outras coisas, dará continuidade às pesquisas da gasolina que abasteceu a equipe Williams da Fórmula 1. Também estão a caminho um novo laboratório de combustão, uma unidade de corrosão naftênica (para reduzir a acidez dos petróleos pesados) e uma de tratamento de águas de destilação (efluentes). O xisto também terá seu espaço a programação contempla uma nova planta "Petrosix", nome dado à tecnologia que, como gostam de dizer os funcionários, "tira óleo de pedra". Ou seja, transforma a rocha sedimentar em óleo combustível, gás, nafta e enxofre. Num futuro próximo, diz Sakurai, o centro poderá estudar a fabricação de fibra de carbono a partir do piche e a produção de hidrogênio a partir de águas ácidas.
A evolução do orçamento de pesquisa e desenvolvimento da SIX demonstra a importância que a área ganhou. Para 2010, estão previstos R$ 68,1 milhões 48% a mais que no ano passado e quase cinco vezes o valor alocado em 2005. "Os ganhos tecnológicos testados aqui representam, por ano, uma receita adicional de US$ 462 milhões [mais de R$ 800 milhões] para a Petrobras", diz Sakurai. "Nosso parque serve como complemento ao trabalho do Cenpes [Centro de Pesquisa da Petrobras]. Embora o Cenpes tenha supercomputadores que simulam boa parte do processo, há coisas que precisam ser testadas em grandes protótipos, ou mesmo em escala real."
Frustração
De certa forma, a implantação do parque tecnológico da SIX foi consequência de uma frustração. Após décadas de pesquisa, a Petrobras concluiu, no fim dos anos 70, que não valia a pena investir pesado no processamento do xisto, inviável se comparado ao custo de produção de derivados de petróleo. A companhia decidiu então aproveitar o "capital intelectual" dos pesquisadores implantando ali um parque que mantivesse os estudos do xisto, mas que também desenvolvesse outras tecnologias. Hoje a SIX tem cerca de mil funcionários, dos quais 420 próprios. No parque tecnológico, trabalham cerca de 150 pesquisadores, metade próprios e metade contratados.
"Não pensamos nosso trabalho em termos de dá lucro ou não dá lucro. Não é o custo de processamento do xisto que determina a importância da unidade. Temos uma pesquisa cujo resultado, embora não seja facilmente quantificável, é estratégico", avalia Elza Kallas, gerente geral da SIX.
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O repórter viajou a convite da Petrobras.



