
A multidão que melhorou de vida na última década e compõe a "nova classe média" brasileira hoje 54% da população será incumbida de garantir a próxima fase de desenvolvimento econômico do país. Em paralelo a medidas que tentam rebater efeitos da crise internacional, o governo federal decidiu ampliar suas apostas nesse grupo, nem pobre nem rico, e encarregá-lo de ampliar o consumo ainda neste ano.
A Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência reuniu estudiosos nos últimos meses, fez um primeiro esboço dessa imensa maioria ainda pouco conhecida e, a partir de setembro, passará a identificar o que essas famílias precisam para melhorar de renda e estimular a produção de alimentos, os serviços, o comércio e a indústria. Esses apontamentos estarão em cadernos mensais, batizados de Vozes da Classe Média, que vão servir de base para políticas públicas e também para investidores privados, informa a SAE.
"Vamos falar bastante da classe média a partir de setembro. Agora que o problema da pobreza está sendo bem cuidado, nos preocuparemos mais com esse grupo enorme, para que ele possa se consolidar, progredir e puxar a economia", disse a economista Diana Grosner, que vem coordenando as pesquisas sobre a população emergente na SAE.
As "vozes da classe média" vão direcionar políticas públicas e servirão de orientação para setores privados como o imobiliário, o educacional, o de comércio de bens de consumo e o de turismo, cita o economista Miguel Foguel, do Instituto de Economia Aplicada (Ipea), órgão ligado ao Ministério do Planejamento.
O primeiro esboço da classe média, que envolveu diretamente 20 especialistas (13 do governo) desde setembro do ano passado, concluiu que os 103 milhões de habitantes nem pobres nem ricos estão em situações econômicas mais diversas do que se imagina. Ou seja, têm necessidades específicas, que exigem medidas pontuais.
Perfis
As classificações usadas pelo governo e pelos institutos privados são consideradas insuficientes para o entendimento da nova classe média. "É pouco provável que o grupo reconhecidamente heterogêneo que resultou das múltiplas mudanças sociais ocorridas recentemente no país satisfaça a qualquer das definições existentes", afirma o relatório dos pesquisadores.
Mesmo assim, optou-se por uma classificação baseada na renda familiar per capita. "Propusemos uma definição fácil de comunicar, medida pela renda e com uma base conceitual sólida", afirma a especialista da SAE. Ela defende que essa estratégia, que deve ser usada por pelo menos dez anos, é necessária para todos saberem se a "nova classe média" está crescendo ou não. Os cadernos Vozes do Brasil, ainda sem número definido de edições, terão o objetivo de identificar as particularidades dos grupos que compõem a classe média, também regionais, e possíveis alterações.
Renda coletiva
Pela classificação adotada pela Presidência (veja quadro nesta página), basta que uma pessoa tenha renda acima de R$ 291 para estar na classe média. A economista da SAE admite que esse valor, isoladamente, é pouco. Diana argumenta, porém, que as pessoas vivem em famílias de quatro integrantes em média e que, associadas, ampliam seu poder de compra.
Com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), realizada pelo IBGE, a SAE considera que a classe média passou de 43% da população para 54% de 2001 para cá. Esse fenômeno é apontado como mola propulsora da economia brasileira o grupo dos pobres foi reduzido de 38,7% para perto de 20% no período.
A estratégia do governo é fazer com que essas pessoas que saíram da pobreza continuem ascendendo. Por enquanto, porém, quem tem conseguido passar para a classe alta são as famílias da classe média tradicional, considera a economista da SAE.



