Com dívidas que ultrapassam R$ 1 milhão, o produtor rural paranaense Pedro da Cruz Machado, de 60 anos, fundou no fim do ano passado o "Movimento Pró-Agricultura, Securitização Já". Na semana passada, ele conseguiu reunir cem agricultores, que fecharam a PR-340, no trecho entre Tibagi e Castro, por uma hora. Machado, que cultiva 1,2 mil hectares (250 próprios e o restante arrendado), nos municípios de Tibagi e Reserva, disse que está recebendo telefonemas de agricultores de outros estados, "até da Bahia", que pretendem organizar movimentos semelhantes. O caminho natural, disse ele, é "chegar a Brasília".
Gazeta do Povo Qual é a solução para as dívidas dos agricultores?Pedro da Cruz Machado Há três anos contabilizamos dívidas, nos bancos e nas empresas de insumos. Precisamos renegociar essas dívidas a longo prazo, com juros baixos. Senão, não teremos condições de honrá-las. A securitização é um direito do produtor e um dever do governo.
No ano passado, um tratoraço em Brasília conseguiu que o governo liberasse R$ 4 bilhões para socorrer os agricultores. Aquilo não foi suficente?O governo deu com uma mão e tirou com a outra. As empresas credoras eram obrigadas a ficar como fiadoras. Não aceitaram. Aquele tratoraço não conseguiu nada de bom.
Os produtores terão de devolver as máquinas que compraram?Muita gente está pensando nisso. Estamos orientando-os a não devolver, porque precisam delas para produzir.
Como surgiu o movimento?A idéia surgiu no fim de 2005. Começamos a distribuir faixas e pensamos na primeira manifestação. Hoje, recebo telefonemas de outros estados, até da Bahia. Nosso objetivo não é fazer politicagem, criticar este ou aquele, mas sim sensibilizar o governo. É uma luta de base dos agricultores. Tenho quase certeza que vamos chegar a Brasília.
Quais serão os impactos econômicos dessa crise na agricultura?Já estão ocorrendo, com muitas demissões de trabalhadores. Outra decisão dos produtores é não plantar trigo neste ano, por causa dos custos altos, preços baixos e dificuldades de comercialização. Quando a agricultura vai bem, todo mundo vai bem. Quando ela vai mal, só o agricultor paga o preço. (VD)



