Maria Aparecida Taborda trabalha na Chocolates Icab há 21 anos, produzindo e decorando bombons. Ela conta que o trabalho é feito da mesma maneira nestas duas últimas décadas artesanalmente, um a um , e a única mudança na fábrica foram dos "patrões". "Só eles que mudaram, cresceram. Antes eram pequenos e vinham aqui brincar." Os "patrões", como ela diz, são os irmãos Luigi e Thiago Muffone, hoje à frente do negócio comprado pelo avô, também Luigi, há mais de 60 anos.
Com 31 e 29 anos, respectivamente, Luigi e Thiago fazem parte de uma nova geração à frente de algumas das mais tradicionais fábricas de chocolates e biscoitos da cidade. Também ao lado do irmão, José Augusto Cury Fortes gerencia a Casa de Chocolates Schimmelpfeng, criada pelos pais há 28 anos na mesma época em que ele nasceu. No caso da centenária fábrica de biscoitos Villa Anna, é a bisneta do seu fundador, Grace Vendrametto, de 31 anos, que administra o negócio ao lado do pai, Carlos Vendrametto.
Embora as fábricas vivam momentos distintos, os jovens empresários têm em comum o desejo, e o desafio, de ampliar os negócios mantendo a tradição e a qualidade dos produtos garantida hoje pela produção artesanal. "Aprendi muita coisa com meu pai, como a política de seriedade, de não dar um passo maior que a pernas", conta Luigi Muffone, que trabalha na Icab desde os 19 anos. "Mas, naturalmente, pela idade e pela formação, temos ideias diferentes para o negócio, uma visão diferente para alguns aspectos. Talvez com um pouco mais de ousadia."
Foi graças a essas diferenças, lembra Muffone, que a marca abriu três novas lojas nos últimos anos por praticamente 60 anos foram apenas outras três. Também chegou com os irmãos a filosofia de apresentar ao mercado lançamentos a cada dois meses. "Por mais tradicional que seja uma marca, é preciso inovar sempre." Há poucos dias, as lojas também passaram a oferecer café expresso aos clientes.
Até o fim do ano, a Icab deve abrir outra loja em Curitiba. Mas Muffone diz que, embora a procura seja grande, ainda não há planos para investimentos além das fronteiras da capital. "Temos muitos clientes de São Paulo, do Rio e de Brasília. Mas, por enquanto, eles serão atendidos apenas pela internet. Não é nossa prioridade novos mercados, nem mesmo a criação de franquias. Por enquanto, queremos continuar sendo os únicos donos dos negócios", conta o empresário, convicto de que é preciso crescer lentamente.
Franquias
No caminho oposto, a Schimmelpfeng prepara a casa para criar uma franquia e para ampliar a distribuição o que inclui até lojas de conveniência. Hoje, a empresa está focada principalmente nos estados do Sul, em São Paulo e Brasília, e a ideia é passar a vender para o Brasil todo. Entre as mudanças está a procura por um espaço maior para instalar a fábrica e a contratação de um gerente comercial de mercado Vilmar Alves da Silva foi executivo do Carrefour e assumiu o cargo na Casa de Chocolates há menos de um mês.
José Augusto, o Guto, divide com o irmão Jorge Henrique a administração da fábrica e das cinco lojas da marca (quatro em Curitiba e uma em Brasília, com um parceiro local) e a ambição de ampliar os negócios. "Queremos melhorar os sistemas de trabalho para aumentar a velocidade de produção, mas sem alterar o gosto do produto, que é o nosso grande diferencial", diz. "Um projeto de expansão mais agressivo é uma necessidade em um mercado cada vez mais concorrido como o nosso."
Administrador de empresas por formação, Guto conta que por muito tempo pensou em estudar engenharia, pela "facilidade por lidar com números". Mas no fim do ensino médio "bateu a consciência" de que o melhor caminho seria cursar administração para seguir o negócio dos pais. "Afinal, ele construiu isso tudo para nós, para os filhos." O trabalho começou no balcão das lojas, aprendendo a vender, e depois na fabricação e embrulho de bombons. Hoje, Guto está à frente da gestão da fábrica e o irmão, das lojas.
Artesanal
Os planos de Grace para a Villa Anna são bem diferente do que os de Guto e Luigi. Da pequena fábrica, no Alto da Glória, saem mensalmente cerca de 5 mil toneladas de biscoitos. Eles são todos feitos à mão, seguindo a mesma receita trazida da Itália pelo seu bisavô em 1907. E é assim que deve ficar. "Crescer, para nós, é um processo muito delicado. Para isso a única saída seria ter mais funcionários, o que encareceria o produto, que já não é barato. Se industrializarmos, ele perde as suas características. E não é isso que queremos."
Hoje gerente geral da empresa, Grace conta que cresceu entre as panelas onde são preparados os tradicionais biscoitos de polvilho. Naturalmente, o negócio passou do avô para seu pai e, agora, faz parte da sua rotina. "Apesar das dificuldades de nos mantermos no mercado, ainda tenho vontade de seguir com a fábrica." Entre as dificuldades, ela cita a concorrência com produtos industrializados em geral, muito mais baratos e o próprio local da fábrica, que por ser central, tem um IPTU muito alto. "Mas mudar é inviável."





