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Quando a loja não oferece desconto para o consumidor que paga no ato da compra, está cobrando a correção toda de uma vez | Felipe Rosa Gazeta do Povo
Quando a loja não oferece desconto para o consumidor que paga no ato da compra, está cobrando a correção toda de uma vez| Foto: Felipe Rosa Gazeta do Povo

Análise

Associação Comercial reconhece armadilha na tabela inflexível

Uma pesquisa da Associação Co­­mercial do Paraná (ACP) mos­­trou que a maior porcenta­­gem de inadimplentes está con­­centrada nos carnês (35%), che­­ques (33%) e cartões de loja (18%) – formas de pagamento que permitem parcelamentos longos e juros embutidos.

Se­­gundo Simone Scuissatto, su­­pervisora de serviços da ACP, as compras parceladas são as pre­­feridas das pessoas com ren­­da entre um e quatro salários mínimos, conforme apontou a pesquisa. Esses consumidores é que pagam juros sobre juros sem saber.

Simone reconhece que a arma­­dilha dos juros embutidos no pre­­ço à vista e nos parcelamentos é uma prática comum em to­­dos os segmentos do mercado. Além disso, ela destaca outra prática bastante comum e enganosa. "Comprei uma bota por R$ 299. Passei na loja novamente e a mesma bota estava ‘em oferta’ de R$ 499 por R$ 299. É uma liquidação mentirosa, cujo objetivo é atrair o consumidor para a compra. Quem não estiver atento é facilmente enganado", ressalta.

Consumidor brasileiro está mais exigente

Para o professor Roberto Nas­­cimento Azevedo de Oliveira, do núcleo de estudos de varejo da Escola Superior de Pu­­blicidade e Marketing (ESPM), o consumidor brasileiro, que começou a ser forjado após a criação do plano real, chegou à maioridade neste ano muito mais exigente. "Essa conduta antiética do mercado [de cobrar juro embutido] é uma coisa que o consumidor não atura mais", afirma.

Segundo Oliveira, as pessoas estão pesquisando mais, batendo mais perna e mudando de loja quando percebem poucas chances de negociação. As lojas não teriam outra saída a não ser se adaptar a esse novo perfil do consumidor, mais intransigente e difícil de ser enganado. "Isso é um alerta também para os consumidores que só agora estão tendo acesso ao crédito. Eles precisam vencer a empolgação e valorizar o dinheiro, apostando no seu poder de barganha diante do mercado, que espera ansioso por eles".

Ainda segundo o professor da ESPM, essa questão tem muito a ver com transparência das informações, que é fundamental na construção de marcas do varejo.

No Brasil temos uma cultura de falta de transparência que se irradiou para diversos setores da sociedade, incluindo o mercado, avalia. Já a aposta de Carlos Tadeu de Oliveira, do Idec, é que com a queda dos juros no país, o preço à vista comece a ficar próximo do que realmente deveria ser o preço à vista dos produtos.

Preço justo

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Não é novidade que o Brasil possui uma das maiores taxas de juros reais do mundo, a despeito do recente esforço do governo para amenizar esse peso. Para completar, também somos o único país do planeta onde – na teoria – não há diferenciação entre o preço à vista e a prazo. Na prática, porém, a realidade é outra e os juros costumam vir embutidos – e bem disfarçados – nas compras à vista e nos parcelamentos longos, anunciados à exaustão como juro zero.

Totalmente incorporada pelo mercado brasileiro, essa prática é difícil de ser identificada por parte dos consumidores. "É impossível sabermos qual a porcentagem exata de juros que as empresas incorporam no preço à vista. Mas uma coisa é certa: ninguém no varejo empresta dinheiro ou antecipa um bem de graça", alerta Carlos Tadeu de Oliveira, gerente técnico do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).

Embora sejamos bombardeados constantemente com informações do tipo "à vista ou em até 12 vezes sem juros", o professor José Dutra Sobrinho, do Instituto de En­­sino e Pesquisa (Insper) garante que isso é impossível, pois toda a operação a prazo tem um custo de financiamento, que geralmente nunca é menor que 2% ao mês.

Com base nisso podemos, por exemplo, calcular uma média aproximada de juros embutidos no preço à vista. "Se você considerar um produto de R$ 1.200 a ser pago em 12 prestações, com uma taxa de juros de 2% ao mês embutida, o mínimo de desconto que o comprador deve ganhar para se aproximar do real preço à vista é equivalente a 12%, ou seja, R$ 143".

O problema, segundo So­­brinho, é que o cálculo da taxa de juros embutida numa operação de financiamento ou empréstimo em prestações iguais é extremamente difícil, mesmo para pessoas com excelente base matemática. "De cada 100 pessoas, 99 não vão saber calcular os juros embutidos e nem mesmo o que seria um desconto adequado", afirma o professor do Insper.

Muitas lojas se recusam a dar descontos e procuram induzir o consumidor a assumir o maior número de parcelas possível, com a justificativa de que o parcelamento longo cabe no bolso, explica Wilson Benício Siqueira, conselheiro do Conselho Federal de Economia (Cofecon). "Só isso já é um bom motivo para o consumidor desconfiar. Como podem anunciar juros zero em 10, 12, 15 vezes?", questiona. Segundo ele, isso ocorre com mais frequência nas lojas de grandes redes varejistas, que possuem cartão de crédito e financeira própria e incentivam a venda a prazo.

Saída

Diante da falta de transparência das informações, com as empresas anunciado uma coisa e fazendo outra, o consumidor se sente impotente. Contudo, existem outros meios para buscar o menor preço à vista. A maneira mais fácil é comparar qual loja oferece o preço mais em conta para o mesmo produto e, nesse caso, a internet é sempre uma ótima aliada.

Geralmente, o estabelecimento que oferece o maior número de parcelas iguais sem juros é aquele que possui o maior preço à vista e a maior porcentagem de juros embutidos, quando comparado aos demais. "As lojas possuem margem para oferecer descontos no pagamento à vista. Se isso não ocorrer, abandone a compra e busque outro estabelecimento disposto a negociar", recomenda Siqueira.

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